Estamos no outono, e logo o inverno chega, e todo ano a bronquiolite teima em aparecer e deixar os pais bem preocupados. Resolvi escrever esse post para ajudar a esclarecer melhor sobre isso: uma vez que o bebê pegou bronquiolite, o que fazer? Qual tratamento a ser realizado? Quando devo ficar atento? A bronquiolite pode ser bem traiçoeira e começar com “um resfriadinho de nada” e quando você menos espera há uma piora súbita e é preciso correr para o hospital.
Saiba quais são os tratamentos mais usados para a doença e quando ficar atento de que algo não vai bem.
Os principais medicamentos usados para bronquiolite (aqui falando do geralzão tá pessoal) são:
Broncodilatadores (salbutamol- Aerolin; fenoterol- Berotec) – uma parte dos pacientes apresentam resposta à essa medicação, e o que deve ser feito pelo médico é o chamado teste terapêutico, para avaliar essa resposta. Sendo positiva, pode ser utilizado.
Adrenalina inalatória – alfa- agonistas – Utilizados em episódios de bronquiolite aguda, embora a sua eficácia não tenha sido estabelecida.
Ribavirina – antiviral – reservado somente para pacientes com fatores de risco importantes e doença grave de VRS (por exemplo, imunodeprimidos, receptores de transplante).
Corticóides: apesar dos corticosteróides serem amplamente usados, nenhum estudo clínico foi capaz de demonstrar uma resposta efetiva com o seu uso, e não devem ser utilizados de rotina (a tal da prednisolona, predsin, dexametasona, decadron, etc).
Inalação com solução salina hipertônica (cloreto de sódio a 3%): Foi pensada como forma de reduzir o edema, diminuir a obstrução do muco, melhorar o transporte mucociliar e re-hidratar o líquido da superfície da via aérea em crianças com bronquiolite, tornando-o menos espesso. Muitas dessas alterações foram baseadas nas evidências relacionadas à fibrose cística,e alguns estudos mostraram benefício em reduzir o tempo de estadia e melhora na gravidade do quadro clínico, principalmente para pacientes internados por mais de 72h.
Fisioterapia respiratória na bronquiolite
Vários estudos já foram realizados sobre o uso da fisioterapia respiratória e a bronquiolite em pacientes graves hospitalizados. Manobras como a técnica de expiração passiva lenta ou técnica de expiração forçada não mostraram redução da gravidade da doença. Um estudo publicado no Lancet em janeiro de 2017 reiterou que não há recomendação de fisioterapia respiratória nesses pacientes graves. Entretanto, em pacientes com bronquiolite leve a moderada, reconhece-se que a técnica de expiração passiva lenta pode promover uma melhora e alívios imediatos, e que mais estudos devem ser realizados nesses pacientes.
Sinceramente a minha (humilde) opinião é que a fisioterapia respiratória ajuda (muito) quando o bebê está bastante secretivo, e não tão grave a ponto de “cansar” mais com a fisioterapia. Aí o bebê pode se beneficiar bastante!
Uma palavra sobre os broncodilatadores ( a tal da inalação com berotec)
Muitos estudos avaliaram o papel dos broncodilatadores para o tratamento de bronquiolite, e as revisões sistemáticas não encontraram benefícios consistentes. Uma revisão sistemática da Cochrane com 30 estudos avaliou o uso de broncodilatadores, predominantemente Salbutamol (Aerolin) e excluindo Adrenalina, e em 21 estudos onde foi avaliada resposta clínica desses pacientes não foi encontrado evidência de melhora em relação a saturação de oxigênio, não foi encontrado evidência de melhora comparado ao placebo quando relativo à oxigenação, tempo de resolução de sintomas e tempo de permanência no hospital.
Ainda assim, a orientação da maioria dos guidelines é: faça o teste terapêutico. Se o bebê responder à inalação com berotec ou aerolin, faça. Provavelmente sabemos que quanto menor é o bebê, pior irá responder, pois tem menos receptores beta-2-agonistas para a medicação.
Uma palavra final…
Muitos estudos já sinalizaram que há poucas coisas a serem feitas em termos de medicações ou manobras, em pacientes graves, e que o tratamento de suporte (promover suporte respiratório, oxigênio, hidratação, aporte nutricional, etc) é o mais importante, e quanto menos intervirmos (de forma invasiva), melhor. Claro que pacientes graves precisarão de atendimento hospitalar e todas as medidas necessárias precisam ser feitas, mas de forma geral é melhor evitar muitas intervenções.
Por fim, ainda vale muito o manejo clínico do médico, o acompanhamento da evolução do paciente ao longo dos dias e a orientação dos sinais de alarme na bronquiolite, que entram os sinais de desconforto respiratório.
Vejam os outros posts sobre bronquiolite no blog!
- Vírus Sincicial Respiratório – Saiba tudo sobre ele
- Falando sobre o Vírus Sincicial Respiratório…
- Bronquiolite: entenda a doença do outono
- Bronquite, dermatite e tempo seco, o que fazer?
- http://pediatrics.aappublications.org/content/139/2/e20163490?ijkey=6d0eba46718ed76f4c707c33b3bef01369e6e913&keytype2=tf_ipsecsha
- J Pediatr Pharmacol Ther. 2016 Jan-Feb;21(1):7-26. doi: 10.5863/1551-6776-21.1.7.
- Lancet. 2017 Jan 14;389(10065):211-224. doi: 10.1016/S0140-6736(16)30951-5.
Dra. Kelly Marques Oliveira
Pediatra, Alergista e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039
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