CÓLICA DO BEBÊ: O QUE ESPERAR?

O QUE ESPERAR DA CÓLICA DO LACTENTE? 

Quantas vezes você recebeu no consultório, pais ansiosos e angustiados, por causa de um  choro inexplicado do bebê, fazendo-os sentir que o bebê está com dor? Cólica do lactante: o que esperar?

Pois é, o choro ou agitação inaplicada, prolongada e inconsolável gera ansiedade aos pais e é  um desafio para o médico.  

Estima-se que a prevalência global de cólica infantil seja cerca de 20%. 

Por definição a cólica do lactente é o choro por três horas ou mais por dia, durante três ou  mais dias por semana, por três ou mais semanas. Porém na dificuldade em esperar por 3  semanas para definir o diagnóstico, e pensando que o corte de 3 horas de choro é arbitrário,  em 2016 esse conceito foi revisado e surgiu o critério ROMA IV. Esse critério é definido como:  “Criança com menos de cinco meses de idade, com sintomas que começam e param;  apresentando períodos recorrentes e prolongados de choro do bebê, agitação ou irritabilidade  relatados por cuidadores, que ocorrem sem qualquer causa óbvia e não podem ser evitados ou  resolvidos pelos cuidadores; sem nenhuma evidência de deficiência de crescimento, febre ou  doença ”. Os critérios ROMA IV abordam o comportamento de choro do bebê que causa  angústia nos pais, ao invés de usar a duração do choro para o diagnóstico 

COMO IDENTIFICAR UM QUADRO DE CÓLICAS? 

A cólica do lactente geralmente começa entre 2 a 3 semanas de vida, com pico em 6 semanas,  podendo se prolongar até o quarto ou quinto mês de idade. 

O choro é intenso, sem motivo aparente, que começa e para abruptamente e muitas vezes  parece uma expressão de dor.  

Os episódios de choro geralmente acontecem à noite. Vem acompanhado de hipertonia, rubor  facial, afastamento das pernas em direção ao abdômen e flatulência. Os gases são,  provavelmente, resultado da ingestão de ar durante o choro prolongado. 

cólica do lactente: o que esperar?

E POR QUE OS BEBÊS TÊM CÓLICAS?

A causa da cólica infantil ainda é desconhecida, mas é provável que seja multifatorial. Não há  provas de que a fonte de desconforto seja o intestino

Entre as possíveis causas temos as que não são relacionadas ao sistema gastrointestinal e as  causas gastrointestinais.  

Das causas não gastrointestinais, algumas são:

  • Causas comportamentais alteradas na interação  entre pais e filhos, 
  • Imaturidade do sistema nervoso central 
  • Estresse familiar
  • Tabagismo materno durante a gestação ou após o parto se mostrou como um fator de risco.  

Outra teoria, seria a “falta do quarto trimestre”. Sim, de acordo com essa teoria, acredita-se  que os bebês nascem muito “cedo”, e eles perdem as sensações agradáveis do útero. E ao  completarem 3 meses, momento em que o choro inconsolável melhora na maioria das  crianças, mostra que o bebê começou a aceitar o seu ambiente e já consegue interagir mais. 

Entre as causas relacionadas ao sistema gastrointestinal, temos: 

  • Imaturidade do sistema digestivo, que leva a contração intestinal e cólica.
  • Alteração da flora intestinal, com a diminuição de bactérias como os Lactobacilos e as  Bifidobactérias. Já se sabe que há uma diferença entre a flora intestinal entre bebês com e sem  cólicas. 
  • Intolerância à lactose. Apesar dessa associação ainda não ter sido bem estabelecida, alguns  estudos sugerem a relação da cólica infantil à uma deficiência de lactase, levando à uma má  absorção da lactose e aumento na produção de gases.  
  • Aumento dos receptores de motilina que causa aumento da peristalse intestinal. 
  • Alergia à proteína do leite de vaca. Evidências mostram que até 25% dos bebês com sintomas  moderados a intensos, apresentam cólica dependente da proteína do leite de vaca. 

O fato da criança ser amamentada ou alimentada por fórmula infantil não afeta na incidência  de cólicas.  

PRECISAMOS DE EXAMES PARA FAZER O DIAGNÓSTICO? 

O diagnóstico é clínico e por exclusão. Baseia-se na anamnese e no exame físico completo.  Geralmente exames complementares não são necessários, não existindo indicação para  realizar de forma rotineira.  É preciso analisar o que esperar da cólica do bebê. 

SERÁ QUE EXISTE TRATAMENTO? 

Os principais objetivos no manejo da cólica são:  

  • acalmar a criança  
  • garantir que os pais tenham o apoio que precisam para lidar com a situação.  

Ainda não há diretrizes estabelecidas para o tratamento da cólica. E não existem fortes  evidências sobre as opções de tratamento disponíveis.  

Em primeiro lugar, exclua todas as causas de choro excessivo em uma criança. Se o bebê  estiver visivelmente doente, o diagnóstico de cólica não é considerado.  Em seguida devemos aconselhar e acalmar os pais, dizendo que a cólica infantil é de natureza  benigna. 

Cólica do lactente: o que esperar?

O aconselhamento adequado inclui explicar o padrão normal de choro dos bebês, encorajar os  pais a ganharem confiança, manter o aleitamento materno e ensinar técnicas para acalmar o  bebê. Entre as técnicas para tranquilizar o bebê, está a 5S, que consiste em: enrolar a criança,  colocá-la de lado no colo, fazer pequenos movimentos oscilantes, deixar que a criança sugue o  peito e fazer som de Shhhh. Além dessa técnica vale também: passeio de carro, banho quente,  deixar o bebê em contato com a barriga da mãe e massagem. 

Se medidas para acalmar o bebê não reduzirem o choro, pode-se partir para um teste de curto  prazo com mudanças dietéticas. Essas mudanças incluem: 

  • Suplementação com lactase. 
  • Suplementação de probióticos, sendo a mais usada Lactobacillus reuteri DSM 17938. – Fórmula infantil hidrolisada ou restrição alimentar da mãe em caso de aleitamento materno. 

Alguns estudos mostraram eficácia das práticas acima, porém ainda faltam fortes evidências  para que essas medidas passem a ser recomendadas.  

E SOBRE MEDICAÇÃO, EXISTE ALGUMA PARA ALIVIAR O QUADRO?

Apesar de muitas vezes observarmos crianças usando simeticona, essa medicação não se  mostrou eficaz na redução dos sintomas. 

Medicações fitoterápicas aliviam a dor, porém estão associadas a efeitos colaterais e não são  indicadas.  

Sendo assim, não existe nenhuma recomendação sobre o uso de medicações no tratamento da  cólica.  

A cólica do lactente é benigna e não causa problemas médicos de curto ou longo prazo. Porém  é bastante estressante para os pais e pode estar associada a um aumento do risco de  depressão pós-parto em mães, parada precoce da amamentação, sentimentos de culpa,  exaustão e até raiva.  

Por isso é tão importante acalmar e acolher os pais, já que essa situação os preocupa e  estressa. 

Além do choro intenso, os pais sentem que a criança está em sofrimento, com dores  e desconforto. 

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Dra Kelly Marques Oliveira

CRM 145039

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