Transtornos de humor perinatal e falha na lactação: qual a relação?

No período pós parto a mãe e o bebê passam pela transição da gravidez para a lactação, com diversas modificações neuroendócrinas.

A depressão perinatal pode ocorrer durante a gravidez ou nos 6 meses após o parto e pode ser devastadora. Quando há sintomas depressivos que ultrapassam 6 semanas pós parto, já pode ser considerado depressão perinatal, uma condição subdiagnosticada. A depressão perinatal é inclusive uma condição mais prevalente que diabetes melitus gestacional, com uma prevalência que pode chegar a 20%.

Já a falha na amamentação ocorre quando o desmame ocorre antes do desejo da mãe, devido a dificuldades fisiológicas, como dor, ou preocupações.

A depressão perinatal e a falha na lactação são problemas comuns, que trazem consequências para ambos e estão relacionadas, com mecanismos fisiopatológicos compartilhados. Vamos entender melhor essa relação?

Flutuações hormonais, como a queda da progesterona e do estrogênio, podem desencadear instabilidade no humor. A diminuição da progesterona pode causar Baby Blues nos primeiros dias após o parto, e em algumas mulheres pode levar a um episódio depressivo prolongado.

O estresse pode influenciar a liberação de ocitocina, afetando a transferência de leite e o vínculo mãe-bebê.

Por isso essa relação tão próxima do estado emocional da mãe no puerpério e a produção de leite tendo um apel importante no sucesso da lactação.

  • Níveis baixos de serotonina podem levar a diminuição da prolactina e a transtornos do humor. A prolactina baixa pode aumentar a ansiedade materna.
  • Os transtornos do humor podem levar a perda da homeostase do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, interferindo na fisiologia da produção de leite.
  • Desregulação do sistema nervoso autônomo contribui com as desordens de humor perinatal e diminuição de amamentação.
  • Diferenças nas vias de nocicepção central podem predispor a intensa dor na amamentação e depressão perinatal.

Já aconteceu de você alguma vez atender uma mãe no puerpério com queixas de dor na Amamentação e a lesão mamilar não ser compatível com essa dor? A depressão perinatal altera inclusive as vias nociceptoras da dor. Isso significa que potencializa a dor da paciente, ainda que aparentemente a lesão mamilar não seja compatível com a dor referida.

O hormônio tireoidiano é necessário para a liberação da ocitocina na lactação e níveis baixos podem contribuir com os transtornos do humor e baixa produção de leite.

A ansiedade ou depressão materna pode afetar o temperamento do bebê e atrasar o desenvolvimento oromotor, o que pode levar a pega inadequada e dificuldade na amamentação.

Estão vendo como está tudo relacionado? Amamentação não é só uma boca e um peito! Precisamos enxergar esses dois indivíduos, com todas as suas particularidades, para que possamos ajudar e ser efetivos no processo da amamentação.

Os transtornos de humor afetam até 20% das mães e devem ser investigados durante as consultas, para que sejam reconhecidos e tratados.

Para que as mulheres consigam atingir seus objetivos na amamentação, elas precisam estar bem. É aquela história da máscara de oxigênio do avião, lembra? Para cuidar do outro, é necessário cuidar de si primeiro.

Precisamos descomplicar esses transtornos do humor e, assim, aumentar as taxas de sucesso na amamentação, trazendo benefício tanto para a mãe quanto para o bebê.

Fonte:

Stuebe AM, Grewen K, Pedersen CA, Propper C, Meltzer-Brody S. Failed Lactation and Perinatal Depression: Common Problems with Shared Neuroendocrine Mechanisms? J Womens Health. 2011

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Dra Kelly Marques Oliveira

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