Amamentar: como funciona no meu corpo
Ainda dentro do tema de amamentação, hoje falarei um pouco de como funciona a produção de leite pela mama, mecanismos hormonais e conceitos de anatomia! Nada melhor que conhecer bem o seu corpo para entender as questões da amamentação (e suas dificuldades também). Depois, abordaremos sobre a produção de leite, suas variações e sobre a composição do leite materno.
O mecanismo é complexo e envolve a ação de vários hormônios, tentarei explicar de forma simplificada aqui. Vamos começar então!
Fisiologia da Amamentação
A mama, durante a gestação, é preparada para a lactação através da ação de vários hormônios, dentre eles o estrogênio, responsável pela ramificação dos ductos lactíferos, e o progestogênio, pela formação dos lóbulos. Essa é considerada a fase I da lactogênese. Outros hormônios são responsáveis por inibir a secreção do leite durante a gestação.
Com o nascimento do bebê e a saída da placenta, ocorre a queda do progestogênio e consequente liberação de prolactina, que estimula a secreção de leite. Essa é a fase II. Quando o bebê suga o seio materno, ocorre a liberação de ocitocina, hormônio responsável pela contração das células mioepiteliais que envolvem os alvéolos e ocorre então a ejeção do leite. Sabe aquela cólica que a mãe sente quando amamenta o bebê recém-nascido? A ocitocina é a responsável por essa contração do útero, que reflete na cólica que sentimos quando amamentamos, e o ajuda a voltar ao tamanho normal, auxiliando na recuperação da mãe no pós parto, além de promover a saída do leite! Haja trabalho!
A “descida do leite”, que costuma ocorrer até o terceiro ou quarto dia após o parto, mesmo sem a sucção do bebê ao seio materno, é mediada por esses hormônios, porém a galactopoiese, chamada também de fase III da lactogênese, é de controle autócrino (mecanismo de autoprodução e auto estimulação), e depende em primeiro lugar da sucção do bebê e do esvaziamento da mama. Ocorre 9 dias após o parto e dura até o final da lactação.
Dificuldades x Produção de leite
Importantíssimo lembrar: qualquer fator materno ou do bebê que limite o esvaziamento das mamas pode causar uma diminuição do leite, seja por inibição química ou mecânica. Aí entram muitos fatores, dentre eles ingurgitamento mamário, mastite, mamilos planos ou invertidos, estresse materno (sim, tem tudo a ver com a produção de leite!), e a própria pega incorreta que leva a formação de fissuras e muita dor! Relacionado ao bebê podemos citar bebês muito sonolentos, que não coordenam a sucção corretamente, prematuridade e até mesmo obstrução nasal. Todos esses problemas serão abordados depois.
Produção x Demanda
O leite é produzido nos alvéolos, sendo a grande parte do leite de uma mamada produzida enquanto a criança mama, pelo estímulo da prolactina. A sucção do bebê promove a liberação de ocitocina, além de outros estímulos condicionados, como visão, cheiro, e choro da criança, e de fatores emocionais como motivação, autoconfiança e tranquilidade. Por isso muitas vezes a mãe, somente ao ouvir o choro do bebê, por exemplo, apresenta vazamento de leite pelas mamas, ou enquanto amamenta numa mama pode vazar leite pela outra. Por outro lado, a dor, o medo, o desconforto, o estresse, a ansiedade, a falta de autoconfiança podem inibir o reflexo de ejeção do leite, prejudicando completamente a amamentação.
O volume de leite produzido pela mãe é determinado pela demanda da criança. Em gemelares, por exemplo, a sua produção será muito maior. Um bebê sonolento, que suga pouco, também estimulará pouco o seio materno, e o mecanismo hormonal que existe no corpo da mãe que amamenta “entende” que a necessidade de produção é menor, e a mãe acaba produzindo menos. Nesse caso é mandatório a avaliação do pediatra para entender qual o problema. A composição do leite materno também varia de acordo com as necessidades da criança, A mamãe do bebê prematuro, por exemplo, apresenta na composição do seu leite elementos fundamentais para o crescimento do seu bebe, encaixando-se perfeitamente nas necessidades dele.
Diferentes composições do leite materno
O leite materno também varia em sua composição em diferentes momentos da vida do bebê. O colostro é o leite do recém-nascido, rico em proteínas e imunoglobulinas, fundamental para a defesa imunológica do bebê e para o seu crescimento. O leite do início da mamada é diferente do leite do final da mamada, chamado também de “leite posterior”. A gordura, e portanto o maior aporte calórico do leite, está no final da mamada, e por isso a importância do esvaziamento completo da mama pelo bebê.
Esse assunto não pára por aqui! Aguardem os próximos posts para saber sobre doenças comuns da mama e como elas dificultam a amamentação, orientações sobre pega correta, e problemas mais comuns sobre amamentação!
Mamães, contem suas experiências com a amamentação, as dificuldades que tiveram ou ainda têm e coloquem suas dúvidas e angústias aqui!
- Veja outras dicas sobre amamentação também em:
Espero que tenham aprendido bastante! Compartilhe para que outras pessoas também possam ter essa informação 😉
Um bjo
Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039
E aí gostou do conteúdo? Espero que tenha ajudado a esclarecer dúvidas! Compartilhe! E você sabia que dá para receber o conteúdo do blog direto no seu email? É só se cadastrar! Só fazer o cadastro na nossa newsletter e colocar seu email! Não se preocupe pois somos contra spam, e você receberá somente os conteúdos relevantes. Estamos também no Facebook (curta e coloque para “ver primeiro” nas opções) e instagram @pediatriadescomplicada (ative as notificações para visualização).
Consultório Espaço Médico Descomplicado – São Paulo: (11) 5579-9090/ whatsapp (11) 93014-0007
Referências bibliográficas:
Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria, 3ª edição – 2014
2014-2019 © – pediatriadescomplicada.com.br por Kelly Oliveira / todos os direitos reservados.