Mamãe, seu filho está com bronquiolite? Saiba o que é e o que fazer

Mamãe, seu filho está com bronquiolite? Saiba o que é e o que fazer

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Olá queridos papais e mamães,

Essa semana toda falaremos dos mais diversos problemas respiratórios relacionados às crianças, e hoje abordarei um tema que incomoda bastante os pequenos, principalmente os menores de dois anos, e pode deixar muitos papais bem preocupados.

A bronquiolite, como é chamada,  é causado por um agente viral, e dá uma tosse danada, uma febre não muito alta, geralmente que não passa de 39° C, e aquela chiadeira no peito. A criança também tem bastante catarro, que vai desde uma coriza clara até mais amarelado, e secreção nos olhos. Muitos casos necessitam de internação, devido ao desconforto respiratório que ela causa e a necessidade de suporte de oxigênio. Por isso papais, fiquem atentos!

Sei que existe muitas dúvidas em torno dela, então vamos entender um pouco essa doença!

 O que é a Bronquiolite viral aguda?

Bronquiolite viral aguda é por definição uma infecção respiratória da via aérea inferior, de etiologia viral, que compromete as pequenas vias aéreas , os chamados bronquíolos, através de um processo inflamatório agudo, levando a obstrução da via aérea com intensidade variável. É diferente da asma. 

É caracterizada por inflamação aguda, edema, necrose (morte das células localizadas nos bronquíolos), aumento da produção de muco (catarro) e broncoespasmo (que causa a falta de ar).

É a doença das vias aéreas inferiores mais comum em crianças menores de 1 ano, sendo mais grave nos menores de 6 meses, especialmente em prematuros.

Os sintomas geralmente começam com um quadro de nariz escorrendo, tosse, febre baixa, que evolui para desconforto respiratório, com chiadeira no peito e sibilos. Os sintomas duram em torno de 1 semana, sendo que a tosse pode durar mais tempo, geralmente a última a passar (para infelicidade da criança e dos pais…)

A fonte da infecção é geralmente alguém da família ou da creche ou escolinha que está resfriado ou tossindo, mesmo que não esteja com desconforto respiratório. Em adultos e em crianças maiores mesmo que apresentem edema no bronquíolo, como nos bebês infectados, não tem os mesmos sintomas dos bebês, pois o calibre da sua via aérea é maior. A transmissão ocorre por contato direto com secreções, gotículas do ar ou objetos contaminados.

Características da via aérea intrínsecas à criança, como já expliquei no post anterior, associados a alguns fatores de risco justificam a sua rápida evolução para o desconforto respiratório e os pais devem ficar atentos aos sinais de alarme.

 Os fatores de risco para uma evolução mais grave são:

  • crianças com doença pulmonar crônica ou com displasia broncopulmonar

  • crianças com malformação cardíaca com repercussão

  • prematuros

  • baixo peso ao nascer

  • desnutrição

  • bebês menores de 3 meses.

 Os sinais de alarme indicativos de desconforto respiratório são:

  •  Criança que não está mamando bem ou não está se alimentando por causa do cansaço
  • Criança muito irritada, mesmo sem febre, ou caidinha, ou com gemência
  • Criança com esforço respiratório: a barriguinha afunda junto com o tórax, a região logo abaixo do pescoço, que chamamos de fúrcula, afunda, o narizinho tenta abrir mais para respirar melhor..
  • Oxigenação do sangue baixa, medida pelo aparelho
  • Frequência respiratória elevada para idade

Se você mamãe tiver dúvidas em como identificar esses sinais, pergunte ao seu pediatra.

Se você tiver dúvidas quanto ao estado do seu filho, leve-o no médico.

 Inflamação, inflamação, inflamação

 O vírus apresenta uma afinidade (infeliz) pelo epitélio da célula dos brônquios e bronquíolos e ocorre a destruição celular, com consequente processo inflamatório local…(lembra do mecanismo do resfriado que expliquei no post anterior? É como o joelho ralado, mas dessa vez em outro local…) A inflamação gera mais inflamação, com edema local e a consequente obstrução e diminuição do calibre da via aérea, já tão pequena nos bebês. O processo inflamatório também causa aumento da produção de muco, com aumento da secreção, traduzido em muito catarro nesses bebês.

Os músculos lisos presentes em cada bronquíolo e brônquio também se contraem, gerando ainda mais obstrução.

 Alguns bebês apresentam uma resposta a esses agentes infecciosos mais exacerbada que outros, e estes evoluem mais gravemente, além de poderem apresentar episódios de chiado recorrentes, mesmo sem infecção.  Existem vários fatores que explicam essa diferença, e deixarei para o próximo post para falar um pouquinho o que pode levar o bebê a se tornar um bebê chiador e até uma criança asmática mais tarde.

 Como o diagnóstico é feito?

 É essencialmente clínico, após obter os dados da história e do exame físico do bebê. O raio de tórax, hemograma e pesquisa de vírus respiratório não é feito de rotina, mas para aqueles que ficarão internados pode ser de grande valia. O raio- X de tórax pode ser feito para diferenciar a bronquiolite de outras doenças, como uma pneumonia, ou uma atelectasia, que ocorre quando uma região do brônquio está fechada, seja por edema ou acúmulo de secreção.

 Tratamento

Uma vez entendendo a doença, o que ela provoca e quais são os sinais de alerta, vamos entender como é feito o seu tratamento, e medidas que podemos fazer em casa para ajudar a aliviar o incômodo que ela causa.

É importante destacar que se houver algum sinal de alerta, o médico deve ser consultado! O atraso em levar ao médico pode levar à piora do quadro clínico e a consequências graves.

Água pra que te quero

Na bronquiolite existe um aumento das perdas insensíveis de água, com o aumento da frequência respiratória, a febre, e a própria baixa ingesta de água pode levar a criança à desidratação, piorando ainda mais o quadro respiratório. Por isso ofereça mais água e líquidos em geral para o seu pequeno. Se o bebê mama no peito, amamente com mais frequência.

Para aliviar a respiração, inalação neles!

A inalação com soro fisiológico é fundamental no tratamento da bronquiolite, e deve ser usada para umidificar as vias aéreas e ajudar a eliminar as secreções. Quanto mais vezes fizer melhor, por isso mamãe não economize. Dá muito trabalho mas ajuda!

Nariz livre, leve e solto

A obstrução nasal faz parte dos sintomas da rinite, e pode incomodar bastante. Os bebezinhos, principalmente os menores de três meses respiram predominantemente pelo nariz e não sabem respirar pela boca! Imagina a falta de ar que só o nariz entupido causa…Para melhorar esse sintoma, a lavagem nasal com soro fisiológico é super eficaz, e deve ser feita muitas e muitas vezes…
Ao longo do dia jogar soro fisiológico nasal com seringa, conta gotas ou em jato, no mínimo 10 vezes ao dia!

Existe também a solução salina nasal hipertônica, e pode ser usada também, porém menos vezes ao dia, pois é mais irritativa, apesar de melhorar mais que somente o soro fisiológico a drenagem das secreções.

Sugadores nasais

Para os bebezinhos e as crianças que ainda não conseguem assoar o nariz, pode ser usado e ajuda bastante, mas a frequência deve ser menor, no máximo 4 vezes ao dia, pois pode machucar o narizinho delicado do bebê.

Inalação hipertônica

A inalação hipertônica nada mais é do que a concentração de sódio a 3%, ao invés de 0.9% como é no soro fisiológico. O princípio de ação é mecânico, pois o sódio mais concentrado “puxa” mais água de dentro da célula, e consegue tirar mais a secreção dos pulmões. Por ser mais concentrada, pode aumentar a tosse, que é o mecanismo que o nosso corpo utiliza para eliminar essas secreções. Infelizmente não existem soluções prontas no mercado para inalações hipertônica, e não deve ser usado de rotina, somente sob prescrição médica.

Broncodilatadores

O uso do salbutamol (Aerolin®) e do fenoterol (Berotec®) pode ser usado na bronquiolite, mas somente sob prescrição estrita do médico. Ele tem ação vasodilatadora brônquica, ou seja, melhora o edema dos brônquios causados pelo processo inflamatório.
A adrenalina inalatória também demonstrou benefício, devido ao seu efeito de broncodilatador e vasoconstritor, porém deve ser feita em ambiente hospitalar.

O Ipratrópio (Atrovent®) um anticolinérgico com efeito broncodilatador, também pode ser usado no tratamento da bronquiolite.

Corticóide: sim ou não?

Conhecido popularmente como prednisolona, predsin® ou prelone®, e usado erroneamente e de forma indiscriminada como “xarope para tosse”, o corticóide oral não deve ser usado sem indicação precisa feita pelo médico.
O seu uso não é indicado de rotina nos pacientes com bronquiolite, pois a maioria dos estudos não demonstrou benefício para o tratamento da bronquiolite. Um estudo recente do British Medical Journal, demonstrou que o uso da dexametasona associado a inalação com adrenalina reduziu os dias de internação dessas crianças com bronquiolite, porém não houve evidência somente com o corticóide isolado.

O uso de corticoide inalatório também não se mostrou eficaz para tratar a doença, nem para prevenir a reação inflatória que a bronquiolite causa a longo prazo.

Antivirais

Oseltamivir ou ribavirina tem indicações precisas e deve ser prescrito pelo médico. Não faça nunca auto – medicação nem medique seu filho sem antes falar com o pediatra.

Melhor prevenir que remediar!

Aleitamento materno. O incentivo do aleitamento materno é uma medida eficaz na prevenção de infecção pelo vírus sincicial respiratório, principal agente da bronquiolite e diminui em um terço o risco de hospitalização por infecção do trato respiratório inferior

Diga não ao cigarro! Pacientes que convivem com tabagistas têm maior risco de desenvolver bronquiolite.
Por isso mamãe ou papai, se você fuma, saiba que isso pode prejudicar muito o seu bebê, além de todos os outros efeitos danosos do cigarro.

Lavagem das mãos. É uma medida simples e eficaz na prevenção da disseminação da doença. O álcool gel é a medida mais eficaz. Por isso, mamãe, se você está resfriada e não quer passar para o seu bebê, lave bem as mãos, várias vezes, tenha um álcool gel sempre a mão e quando for amamentar, se ainda amamenta, use uma máscara simples.

Outras medidas específicas que podem ser feitas para evitar “pegar” a doença:

Vacina contra influenza

Vacine você e seu filho contra a gripe!  A vacina pôde ser realizada nos bebês partir de 6 meses. Informe-se dos detalhes com o seu pediatra.

Palivizumab

O Palivizumab é uma imunoglobulina hiperimune contra o vírus sincicial respiratório (VSR), um anticorpo monoclonal contra o VSR.  Seu uso não previne a infecção pelo vírus, mas evita as formas graves na população de alto risco, para quem há indicação da sua utilização.
Seu alto custo limita o uso em larga escala, mas o governo brasileiro disponibiliza esta medicação para as seguintes situações:

  • Menores de um ano nascidos prematuros abaixo de 28 semanas
  • Menores de dois anos de idade portadores de:
    • Cardiopatias congênitas cianóticas
    • Cardiopatias com hipertensão pulmonar grave
    • Cardiopatias com repercussão hemodinâmica (em uso de medicação)
    • Doença pulmonar crônica da prematuridade em uso de terapia medicamentosa nos 6 meses que antecedem a estação de pico (outono e inverno)

Consulte o pediatra para saber se seu filho entr nesses critérios.

Espero que vocês possam saber agora um pouco mais sobre essa doença que atrapalha tanto nossos pequenos…

Deixem abaixo comentários, dúvidas e sugestões.

Espero que tenham aprendido bastante! Compartilhe para que outras pessoas também possam ter essa informação 😉

Um bjo

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039

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*As informações dadas aqui não substituem a consulta médica. Se houver dúvida o médico deverá ser consultado.

Veja outras dicas  em:

Referências Bibliográficas

  • Diagnosis and Management of Bronchiolitis. Subcommittee on Diagnosis and Management of Bronchiolitis. Pediatrics 2006;118;1774
  • High Volume Normal Saline Alone Is as Effective as Nebulized Salbutamol-Normal Saline, Epinephrine-Normal Saline, and 3% Saline in Mild Bronchiolitis. Pediatr Pulmonol. 2010; 45:41–47
  • Steroids and bronchodilators for acute bronchiolitis in the first two years of life: systematic review and meta-analysis

Photo Credit: www.kidspot.com.au

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