Dor ou dificuldade na amamentação – pode ser anquiloglossia
Porque eu sinto dor quando amamento meu bebê?
Muitas mães apresentam dificuldades para amamentar logo nos primeiros dias. Embora a maioria após algumas semanas terá conseguido superar essa fase inicial, muitas persistem com dor. Inúmeras vezes, acabam se culpando pelas dificuldades. Porque eu não consigo? O que há de errado comigo? No entanto, ainda pouco se fala sobre uma condição já existente ao nascimento chamada anquiloglossia, a chamada língua presa, freio curto da língua, ou frênulo lingual, que pode trazer sérios problemas na amamentação.
A anquiloglossia ou língua presa nada mais é do que o remanescente embriológico de um tecido que fica abaixo da língua, o frênulo lingual, e que não desaparece completamente, deixando a língua literalmente “presa” ao assoalho da boca. O lábio superior também pode ter um frênulo, que também impede que o lábio superior fique evertido ao fazer a pega no peito.
Ambas essas condições podem dificultar (e muito) a amamentação, levar a dor que pode se tornar insuportável e até ao desmame precoce.
Já existe como lei brasileira o chamado “Teste da Linguinha”, em todas as maternidades. Entretanto, não se enganem. O teste da linguinha é um teste de TRIAGEM apenas, e não fará o diagnóstico de todas as anquiloglossias. No máximo conseguirá identificar aquelas mais óbvias, como o grau 1 e 2. Uma anquiloglossia posterior ou oculta, não será capaz de identificar, e a mãe pode ficar sofrendo por meses a fio com dificuldades na amamentação.
A anquiloglossia é uma condição que pode ser dividida em 4 tipos, de acordo com o quanto que a língua está presa pelo frênulo.
Tipo 1: O frênulo lingual está inserido na ponta da língua, usualmente no cume alveolar do sulco do labio inferior. Essa é a ligua presa mais obvia, em que o próprio freio da língua “parte” a lingua em duas partes, ficando um aspecto de coração. Essa condição deve ser tratado o mais breve possível, se possível ainda na maternidade ou na primeira visita ao pediatra. Usulamente é fácil de diagnosticar e não passa desapercebida.
Tipo 2:O frênulo lingual está inserudo 2 a 4mm atrás da língua, ou imediatamente após o cume alveolar. A língua não fica em formato de coração, mas o “freio” ou frênulo lingual é claramente visto.
Tipo 3: O frênulo lingual é preso à lingua no meio do assoalho da boca, usualmente é mais fibroso e pouco elástico. A língua tem dificuldade de se elevar, e fica em “formato de barquinho”. Esse frênulo e mais difícil de ser visto, e portanto, subdiagnosticado.
Tipo 4: O frênulo está essencialmente contra a base da língua, é grosso, esbranquiçado e muito inelástico. Esse tipo é definitivamente o mais difícil de ser diagnosticado, e por isso pode causar tantos problemas na amamentação. Esse tipo de freio pode causar dificuldade em engolir e lidar com o fluxo de leite, levando muitas vezes a engasgos.
A língua presa clássica são os tipo 1 e 2 de anquiloglossia, são as mais comuns e são responsáveis por 75% dos casos. Por outro lado, os tipos 3e 4 são difíceis de diagnosticar e acabam por não receber o tratamento.
Bom, mas porque isso pode causar dificuldades na amamentação?
O movimento feito com a língua é EXTREMAMENTE IMPORTANTE na amamentação. Vamos ver que a mecânica da amamentação importa, e porque o tal do freio na língua atrapalha o bebê para mamar…
Bebês que mamam no peito, fazem um movimento completamente diferente de bebês que mamam na mamadeira. O bebê que mama no peito realiza movimentos complexos com a língua, para ordenhar o leite do peito.
Na ordenha, o bebê realiza os movimentos de:
Abaixamento da língua com abertura da boca, o que possibilita a pega.
Extensão ou protrusão da língua: a língua se estende até a gengiva inferior
Elevação da língua: a língua se eleva até o palato para comprimir a areola dentro da boca e ordenhar o leite
Peristaltismo ou movimento de onda: a língua realiza movimento em onda para que o leite chegue até a faringe e seja deglutido.
Se o bebê tem anquiloglossia, ele é incapaz de posicionar a língua de forma bem elevada sem fechar a boca, no caso a mandíbula, e por isso a pega fica “rasa”. O bebê fecha a boca e pega mais o mamilo, causando dor e compressão do mamilo. Ele também não conseguirá fazer o movimento de peristaltismo de forma correta, podendo engasgar com o leite. Alguns bebês são tão tensos na mandíbula que tem até dificuldade em abrir bem a boca!
Já o bebê que mama na mamadeira, mesmo que tenha uma sucção pobre e não consiga elevar a língua de forma adequada, ele conseguirá retirar leite. O bebê que mama mamadeira não faz o movimento complexo que necessita o bebê que mama no peito, mas um movimento mais raso, fechado, “em pistão”. O leite na mamadeira, em última análise, escorre na boca do bebê, mesmo que não haja nenhum esforço.
Como posso saber se meu filho tem anquiloglossia?
A avaliação de anquiloglossia deve ser feita por um profissional habilitado, que tenha experiência em amamentação. Profissionais certificados, como Consultores Internacionais de Amamentação (IBCLC) tem experiência em diagnosticar, pediatras especialistas em amamentação, fonoaudiólogos com experiência em amamentação e dentistas com experiência na área podem fazer essa avaliação completa. Se você está com dificuldades para amamentar, tem dor e fissura mamilar que não cicatriza, desde o início da amamentação, seu bebê tem dificuldade em ganhar peso, refluxo, cólicas ou gases que você considera além do “normal”, procure ajuda!
Uma vez diagnosticado a anquiloglossia, o que devo fazer?
Existe um procedimento para correção da Anquiloglossia chamado Frenotomia. Consiste num procedimento simples e seguro, no qual é feito um pequeno corte no freio da língua, e a língua é desprendida do freio. Os riscos de complicações são praticamente inexistentes, e muitas vezes o alívio da dor para amamentar, imediato. Pode ser feito por profissional médico ou dentista habilitado.
Mamães, se vocês tem passado por dificuldades para amamentar, procure ajuda!
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Referências bibliográficas
CONGENTIAL TONGUE-TIE AND ITS IMPACT ON BREASTFEEDING. Elizabeth Coryllos, Catherine Watson Genna, Alexander C. Salloum. The American Academy of Pediatrics (AAP), 2004.PDF Tong tie AAP
Rethinking Tongue-Tie Anatomy: Anterior Vs. Posterior Is Irrelevant. BobbyGhagery, 2014. PDF Tong Tie Anatomy
Livro: Amamentação: Bases Científicas – 3ª edição