O autismo, tecnicamente chamado de transtorno do Espectro do Autismo, também conhecido pela sigla TEA, consiste em uma alteração no desenvolvimento neurológico da criança.
A criança com TEA pode apresentar dificuldades em algumas áreas do desenvolvimento como, por exemplo, comunicação e interação social. Além disso, podem ser observados comportamentos repetitivos ou atípicos (agitar as mãos, alinhar objetos) e/ou interesses muito restritos (hiperfoco).
Essas alterações podem ter graus variados, desde manifestações leves com pouco comprometimento, até mesmo manifestações acentuadas que comprometem significativamente o desenvolvimento e interação da criança com o mundo e as pessoas ao seu redor.
Os sinais podem estar presentes desde o primeiro ano de vida, porém atualmente a idade média de diagnóstico ainda é tardia, por volta de 04 anos de idade. Isso tem um grande impacto, uma vez que iniciar o tratamento precocemente está associado a ganhos significativos no funcionamento cognitivo e adaptativo da criança.
O número de casos de TEA vem aumentando em todo mundo. Em seu último censo publicado em 2021, o Centro de Controle de Doenças (CDC) nos Estados Unidos estimou que uma em cada 44 crianças têm diagnóstico de autismo. No Brasil ainda não temos dados sobre a estimativa total de casos.
E quais seriam então os sinais para levantar uma suspeita de autismo?
Já durante o primeiro ano de vida, alguns sinais sugestivos podem ser percebidos pela família ou pelo pediatra que acompanha a criança, como por exemplo:
- Perder habilidades do desenvolvimento já adquiridas;
- Não apresentar sorriso social;
- Pouca reciprocidade social (ex.: não abanar para dar tchau, não responder sorrisos);
- Pouco contato com os olhos;
- Pouco interesse pelo rosto humano;
- Maior interesse a objetos do que por pessoas;
- Apresentar pouca emissão de sons (ex.: não fala mama/papa);
- Não responder ao nome (não olha quando chamado);
- Irritabilidade no colo e pouca interação no momento da amamentação;
- Distúrbios de sono de difícil resolução.
Em crianças maiores, podem ter dificuldade em expressar e entender as emoções, dificuldade em fazer amigos, pouco contato visual, uso repetitivo da linguagem e bloqueios para começar e manter um diálogo.
É frequente a presença de comportamentos repetitivos (chamadas de estereotipias). Esses comportamentos costumam acontecer em situações em que o autista se sente angustiado pelo excesso de estímulo, e as ações repetitivas ajudam a criança a se reorganizar e processar tudo o que está sentindo, aliviando a ansiedade. Ainda que seja algo benéfico para autistas, as estereotipias dificultam o convívio social pois com frequência causam estranheza nas pessoas.
É interessante destacar que a presença de estereotipias não são manifestações exclusivas de autistas. Alguns exemplos de movimentos mais comuns de se observar no espectro autista são:
- Balançar o corpo para frente e para trás
- Balançar as mãos (também conhecido como “flapping”)
- Bater os pés no chão ou em algum objeto próximo
- Girar objetos ou girar em volta do próprio corpo
- Cruzar e descruzar as pernas muitas vezes
- Fazer sons repetitivos ou repetir sílabas sem parar
- Pular no sofá sem controle de tempo ou força
- Correr, indo e vindo, sem um destino claro
- Andar nas pontas dos pés
- Movimentar os dedos na frente dos olhos
Quanto mais precoce o diagnóstico é realizado, maior a chance da resposta às terapias e menor prejuízo no desenvolvimento global da criança. A cultura de familiares e profissionais de saúde de que “vamos aguardar o tempo da criança”, mesmo quando ela apresenta atrasos evidentes, é um dos fatores que interferem diretamente no na detecção precoce.
Essa “espera” não pode ser baseada em “achismos”, mas sim respeitar os limites pré-definidos de idade máxima para cada marco de desenvolvimento, realizado por profissionais através de escalas apropriadas para o acompanhamento do desenvolvimento neuropsicomotor.
A suspeita do diagnóstico pode ser levantada pelo pediatra durante as consultas de rotina, ou ainda por qualquer outro profissional da saúde que acompanhe essa criança. Para confirmar o diagnóstico é ideal uma avaliação com um profissional especializado, como um neuropediatra ou psiquiatra pediátrico, que através de uma observação direta do comportamento e uma entrevista com os pais e cuidadores, podem realizar o diagnóstico.
Não existem medicações para tratamento do autismo em si, mas sim para tratar condições associadas como insônia, hiperatividade, agressividade, falta de atenção, ansiedade, depressão e comportamentos repetitivos que causam prejuízo à criança.
Aliada às medicações é imprescindível a realização de terapias direcionadas e individualizadas para melhorar as habilidades sociais, comunicativas, adaptativas e organizacionais. Em geral, é muito popular a adoção das abordagens terapêuticas de Análise Aplicada do Comportamento (conhecido como método ABA) e Terapia Cognitivo-Comportamental.
Jéssica França.