A DOR durante a amamentação pode acontecer em até 90% das mulheres né?
Mas, apesar de ser tão comum, a dor para amamentar não é normal! Sempre existe alguma condição que um profissional devidamente capacitado pode manejar para reduzir e, eventualmente, até cessar essa dor.
Uma causa de disfunção oral que pode levar a muito incômodo para mãe e o bebê, que eu vejo TODO dia em minhas consultas é a ANQUILOGLOSSIA.
Anquiloglossia é uma condição popularmente conhecida como “língua presa”. Ela ocorre pela persistência do frênulo lingual, uma pequena membrana mucosa que conecta a língua ao assoalho da boca e que, normalmente, passa por um processo de apoptose durante o desenvolvimento embrionário, ou seja, por algum motivo, que ainda não sabemos exatamente qual, essa membrana não foi “corroída” durante a gestação, ou foi, mas em menor intensidade do que deveria, por isso o frênulo permanece e pode se apresentar de diversas maneiras. E é aí que está um dos seus grandes problemas!
Como a anquiloglossia pode se apresentar em vários níveis, muitos profissionais podem não identificar os quadros menos visíveis, como um “Frênulo Posterior”, mas que afetará todas as funções da língua da mesma maneira e ainda pode causar uma dor muito forte na amamentação, cuja causa frequentemente passa despercebida. 😕
PORQUE O FRÊNULO LINGUAL CURTO ATRAPALHA TANTO?
Por muito tempo, acreditou-se que a ejeção do leite dependia predominantemente da produção de leite pela mãe. Hoje, sabemos que o peito não é estoque, é fábrica, e para que o aleitamento possa ocorrer de forma prazerosa para a mãe e para o bebê o principal fator envolvido está em uma sucção efetiva, a qual é promovida pelo vedamento adequado durante a mamada.
Esse vácuo necessário para uma mamada sem grandes esforços é atingido através da pega assimétrica (bebê com a boca de peixinho) e através dos movimentos promovidos pela língua (abaixamento, extensão, protrusão, elevação, peristaltismo, vedação). O Frênulo Lingual Curto irá atrapalhar essas 2 necessidades fundamentais e mais importantes para uma boa ejeção do leite. Isso porque qualquer nível de anquiloglossia, inclusive aquela com Frênulo Posterior, irá impactar a mobilidade da língua.
E COMO SABER SE MEU BEBÊ TEM ANQUILOGLOSSIA?
Como consequência dessa pega inadequada, o bebê ficará irritado, frustrado e cansado. Óbvio, não é pessoal? Imagina o esforço que esse bebezinho que não consegue gerar o vácuo precisará fazer para extrair um pouquinho de leite que seja.
Por isso, teremos todas as consequências que a presença dessa “pequena” membrana nos traz:
- O bebê vai começar a se apresentar muito cansado nas mamadas
- Vai sentir fome com frequência excessiva exigindo uma maior quantidade de mamadas
- Na tentativa, frustrada, de extrair mais leite, ele vai começar a fazer muita força para mamar
- Essa força vai lesionar o mamilo da mãe
- A não extração adequada de leite poderá levar também ao ingurgitamento mamário
- O bebê não irá ganhar o peso adequado porque está mamando errado
E, assim, esse ciclo vicioso vai aumentando e piorando. E, podendo atingir um limite insustentável tanto para o bebê que não ganha peso quanto para a mãe que sofre uma dor insuportável. E TUDO ISSO PODERIA SER EVITADO, apenas com a avaliação profissional minuciosa para a presença de frênulo lingual.
Vocês entendem porque a gente precisa divulgar e aprender o máximo possível desse assunto?
ENTÃO, COMO IDENTIFICAR A ANQUILOGLOSSIA NOS BEBÊS?
É importante reforçarmos também, que ao nos referirmos à Anquiloglossia, muitos estudos ainda estão em andamento, porque as descobertas referente ao processo de extração efetiva do leite são bem recentes também (Geddes 2008). Por esse motivo, demorou muito tempo para que estudos padronizados pudessem ser realizados, pois não existia uma padronização para se identificar a Anquiloglossia no mundo científico.
Aproveito para exaltarmos um dos principais protocolos para identificação do frênulo lingual: o Protocolo de Martinelli, 100% brasileiro, foi publicado em 2013 e se caracteriza por ser a avaliação mais completa do frênulo lingual, tanto anatômica, quanto funcional.
Atualmente, é obrigatório que um recém-nascido passe pelo que chamamos de Teste da Linguinha ainda na maternidade. No entanto, muitas vezes seja por falta de tempo, profissionais especializados ou mesmo pelas características clínicas do bebê, é recomendado que esse teste seja repetido pelo seu pediatra posteriormente, principalmente, se houver queixas clínicas de dificuldade e dor na amamentação ou mesmo em casos de baixo ganho de peso.
O Teste da Linguinha é um teste de TRIAGEM e como toda triagem, ele pode ser falho, pois não se trata apenas de avaliar a anatomia da língua, precisamos também avaliar como estão as funções que a língua exerce: sucção, deglutição, respiração, fala e mastigação. Essa análise completa só poderá ser feita alguns dias ou semanas após o parto. Nós, pediatras, temos a obrigação de repeti-lo em nosso consultório. Se não pelo Protocolo de Martinelli que, como disse, é o mais completo e extenso, temos outras opções também como a Avaliação de Bristol ou Hazelbaker.
EXISTE TRATAMENTO PARA ANQUILOGLOSSIA?
Antes de definir um tratamento, é importante sabermos classificar um frênulo lingual. O Protocolo de Martinelli pode ser uma opção para classificarmos, mas o importante é saber identificar a presença da Anquiloglossia, classificada de I a IV, em que I é o nível mais visível desta membrana e IV são geralmente os frênulos posteriores ou submucosos, juntamente com o espessamento desta condição.
A partir disso é importantíssimo fazer o encaminhamento adequado para que se atue em uma equipe multidisciplinar: pediatra, consultora e fonoaudióloga.
Sem esquecermos de avaliar os frênulos posteriores ou submucosos, que, em seu nível individual de cada bebê também poderá trazer impactos à amamentação por afetar a mobilidade lingual também.
TRATAMENTO CIRÚRGICO
Em alguns casos, a frenectomia pode ser necessária. E, somente, médicos habilitados ou odontopediatras especializados podem realizar tal procedimento. Trata-se de uma cirurgia relativamente simples, em algumas situações, com bebês menores, nem precisa de anestesia, em outros, uma anestesia local pode ser utilizada. Não precisa de sedação em centro cirúrgico, podendo ser realizada ambulatorialmente.
Somente sabendo o que procurar é que vamos encontrar. A amamentação desempenha um papel fundamental para o desenvolvimento do bebê, trazendo benefícios físicos e emocionais. E a Anquiloglossia é uma condição subdiagnosticada que pode levar ao desmame precoce e contribuir para nossa triste média de aleitamento materno de 54 dias.
Mesmo tendo passado os primeiros meses, se a dor para amamentar parece fora do comum ou se o ganho de peso ainda não é o desejado, pense na Anquiloglossia e previna um desmame evitável com o manejo correto de um especialista.
Mude a história de muitas famílias, compartilhe este post com quem puder! =)
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Dra Kelly Marques Oliveira
CRM 145039
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