Que o leite materno é o alimento mais perfeito e produzido sob medida para o seu bebê, isso já deixamos bem claro, não é mesmo?
Agora, você já parou para pensar que em tempos de pandemia, por que não recomendamos a interrupção do aleitamento materno de mães e/ou bebês que tenham o diagnóstico confirmado para COVID-19?
A princípio, essa recomendação foi baseada apenas na análise do risco da infecção em crianças vs. os infinitos benefícios da amamentação.
Mas agora temos cada dia mais evidências que nos mostram que o leite humano de uma mãe recuperada da infecção por SARS-CoV-2 (vírus causador da Covid) transmite anticorpos para o bebê em cerca de 80% dos casos.
Isso já imaginávamos, mas quem acreditaria?
Isso já era esperado porque, em geral, a IgG (um tipo de anticorpo do nosso organismo) presente na corrente sanguínea também é transmitida pelo leite materno quando nos referimos a outras doenças infecciosas que a mãe teve (ou vacinas que tomou) e que também passam a proteger o bebê enquanto ele é amamentado. É importante ressaltar que todos os estudos demonstram a transmissão de anticorpos (que geram nossa imunidade) e não houve qualquer indício da transmissão do vírus em si através da amamentação. Nossa natureza é perfeita a esse ponto!
Observou-se ainda em alguns estudos – como um relatório apoiado pelo NIH/NICHD que comparou o leite e o sangue de mães após a doença e de mães antes de dezembro/2019 e outro estudo de mesma metodologia realizado na Holanda – a presença ainda em maior concentração de outro tipo de anticorpo, um que chamamos sIgA.
E COMO ESSES ANTICORPOS TRANSMITIDOS PELO LEITE PROTEGEM O BEBÊ?
Essa tal sIgA representa nossa primeira linha de defesa, pois atua diretamente em nossas mucosas (dentro do nariz e do intestino, por exemplo). Ela impede que um invasor como o vírus da Covid se ligue em nossas células e seja eliminado antes mesmo de começar a agredir nossa saúde.
Essa estratégia do nosso corpo é tão importante que pela presença de anticorpos específicos – em que a imunoglobulina secretora de IgA é a mais abundante – que há muito tempo observamos uma redução de pelo menos 30% das infecções respiratórias em bebês que amamentam quando comparamos com os que consomem somente fórmulas.
E AS BOAS NOTÍCIAS NÃO PARAM POR AÍ!
Os resultados encontrados são tão relevantes que o uso dos anticorpos de leite materno purificado já está sendo estudado como possibilidade de tratamento para COVID-19.
Na Holanda, foram encontrados anticorpos contra SARS-CoV-2 em 83% dos casos de mãe que tiveram o diagnóstico de Covid-19, 67% nos casos suspeitos e em NENHUM dos casos controles (são as análises de mães que sempre estiveram saudáveis como base comparativa para estudo. Além disso, concluiu-se que o leite materno de mães que se recuperaram da Covid-19 contém quantidade de IgA contra Covid-19 tanto antes como depois da pasteurização.
O que permanece desconhecido, no entanto, é a extensão e os efeitos de longo prazo da resposta imune do leite ao SARS-CoV-2. Os próprios impactos de proteção de quem já teve a doença também não são totalmente esclarecidos, haja vista a quantidade de casos de reinfecções que estamos vendo.
Independente de incertezas que só podem ser esclarecidas ao longo do tempo através da continuidade dos estudos. Até aqui, há muito o que comemorarmos. Temos, ao que parece, uma produção própria de proteção aos nossos pequenos.
E SERÁ QUE ESSES MESMOS ANTICORPOS TAMBÉM PASSAM APÓS A TOMADA DA VACINA?
Frente aos dados demonstrados em tais estudos, não posso deixar de destacar que é muito possível que os mesmos se repitam em mães que tomarem a vacina. O mecanismo de defesa estimulado pela vacinação é o mesmo que acontece quando pegamos uma doença, com a diferença que planejamos uma exposição viral que desenvolva nosso sistema de defesa sem nos causar a gravidade do adoecimento.
Por isso, vacine-se, se esta for uma decisão compartilhada com orientação médica. Amamente o máximo que puder. E divulgue esse post para alguém que possa ajudar muito saber essa perspectiva do aleitamento materno.
Qualquer dúvida, deixe aqui nos comentários para mim!
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Dra Kelly Marques Oliveira
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REFERÊNCIAS:
- Fox A, Marino J, Amanat F, Krammer F, Hahn-Holbrook J, Powell R, et al. Evidence of a significant secretory-IgA-dominant SARS-CoV-2 immune response in human milk following recovery from COVID-19. Maio, 2020. MedRxiv preprint doi: https://doi.org/10.1101/2020.05.04.20089995
- Keulen BJV, Romijn M, Bondt A, Dingess KA, Kontopodi E, Straten KVD, et al. Breastmilk; a source of SARS-CoV-2 specific IgA antibodies. Agosto, 2020. MedRxiv preprint doi: https://doi.org/10.1101/2020.08.18.20176743