Você sabe de verdade o que seu filho tem assistido nas telinhas do celular, computador ou TV? Você sabe o tamanho da influência que aqueles vídeos inocentes de crianças provando doces e junkfoods tem sobre a vida e o comportamento de seus filhos? Você sabia que, além de tudo isso, existe uma mídia que quer manipular a vontade das crianças a consumir um alimento, comprar determinado produto ou provar um suco ou refrigerante específico? Leia até o final do post para ver o que um estudo publicado no Pediatrics, uma das principais revistas de pediatria, diz sobre a INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA ALIMENTAÇÃO INFANTIL.
Além dos pais precisarem saber disso, nós pediatras precisamos entender essa realidade e saber como orientar nossos pacientes, nossas famílias, a fazer o uso consciente das telas e das redes sociais.
Recentemente foi divulgado o estudo Child Social Media Influencers and Unhealthy Food Product Placement, na revista cientifica Pediatrics, que traz uma importante reflexão sobre as consequências dos influenciadores infantis para a alimentação de nossos filhos. Principalmente no instagram, Facebook e youtube, existem milhares de vídeos de crianças divulgando, provando e incentivando o consumo de alimentos não saudáveis e, muitas vezes, sequer recomendados para a faixa etária do pequeno que está no vídeo. Esse tipo de atitude tem uma grande influência nas atitudes e práticas de sua audiência infantil.
São influenciadores digitais INFANTIS, crianças de 2 a 14 anos, cujos pais filmam seus filhos abrindo presentes, brincando com brinquedos e comendo alimentos ou consumindo bebidas com o intuito de divulgação de produtos de mídia.
Para realizar o estudo, foram selecionados 5 canais do youtube que possuíam crianças como influenciadoras, e destes canais, foram selecionados 50 de seus vídeos mais assistidos e 50 de seus vídeos que apresentavam alimentos e/ u bebidas em a imagem em miniatura do vídeo. A partir dessas seleções, diversas análises foram feitas, tais como se no vídeo a criança consumiu o alimento ou bebida apresentado, se mostrou brinquedos que possuem relação com esses alimentos (ou com suas marcas), e foi feita uma avaliação nutricional dos alimentos apresentados nos vídeos.
Foram analisados, no total, 418 vídeos, e destes, alimentos e bebidas apareceram em pelo menos 291. A maioria dos alimentos e bebidas eram itens de marca não saudáveis (exemplo: redes de fastfood famosas), seguidos por itens não saudáveis sem marca (por exemplo cachorros-quentes) e itens saudáveis sem marca (exemplo: frutas)
A conclusão: Os influenciadores infantis geram milhões de impressões sobre marcas de alimentos e bebidas não saudáveis por meio da colocação de produtos em seus vídeos.
Imagine só essa situação: a criança está navegando no youtube, passando de vídeo em vídeo, até que se depare com um vídeo em que a thumb (capa) é colorida, cheia de alimentos atrativos, e com uma criança sorrindo e demonstrando alegria. É natural que chame atenção, que ela aperte para assistir. E ao assistir, são mostrados vários alimentos tão coloridos quanto a capa, com o influenciador do vídeo provando todos com uma expressão satisfeita, ou então brincando com objetos que sejam da marca de tal alimento. O que a criança vai tirar daquele vídeo? A vontade de provar o que é apresentado, de ter o que está sendo mostrado. Funciona quase como uma propaganda de brinquedos na TV próxima ao Dia das Crianças.
Os vídeos chegaram a 1 bilhão de visualizações e geraram 2.6 milhões de curtidas! Um das crianças de 8 anos ganhou mais de 26 milhões de dólares só em propaganda de produtos assim.
Essa exposição a publicidade de alimentos é muito perigosa para os hábitos alimentares dos pequenos. Influencia cada vez mais o consumo de alimentos não saudáveis e não adequados para crianças, causando vários problemas como obesidades e outras doenças.
Este mesmo estudo citado ainda mostrou que essa “imitação comportamental” não tem o mesmo efeito quando o influenciador compartilha uma alimentação saudável, com frutas, legumes e verduras. Além disso, crianças expostas a propagandas de comida tipo junk food consomem mais alimentos desse tipo do que as não expostas.
O que fazer diante disso?
- 1. Reduzir o tempo de tela! Pois mesmo que sejam vídeos educativos, podem ter o endosso de marcas comerciais que nem sequer nos damos conta
- 2. Pediatras tem um papel importante na conscientização de famílias e da sociedade como um todo sobre essas informações acima relatadas (sim, estamos aqui, e você pediatra tb pode, e deve fazer isso!
A um primeiro olhar, esse tipo de vídeo de crianças comendo alimentos saborosos, populares e coloridos pode parecer inocente, mas pode influenciar de uma forma absurda aos hábitos alimentares infantis!
DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2019-4057
Não esqueça de se inscrever no canal do youtube da Pediatria Descomplicada!
Para ter acesso a conteúdos exclusivos, do Pediatria Descomplicada, junte-se ao grupo do Telegram através do link: https://bit.ly/30iJTkW
Para seguir o blog e receber as novidades por e-mail, basta clicar no botão “seguir” no site. Siga no Instagram(@pediatriadescomplicada, clique no canto superior direito “ativar notificações de publicação”).
Dra Kelly Marques Oliveira
CRM 145039
Consultório particular em São Paulo: (11) 5579-9090
Para seguir o blog e receber as novidades por email, basta clicar no botão “seguir” no site. Siga também no Facebook (ative o “ver primeiro”, para receber aviso dos posts novos) e Instagram (@pediatriadescomplicada, clique no canto superior direito “ativar notificações de publicação”).