Bebês que comem alimentos sólidos mais cedo dormem melhor?

Imagina um bebezinho de 3 meses, que está começando a sair do útero (lembra da exterogestação?) percebendo o mundo ao seu redor, começa a firmar o pescoço, mas está bem longe de sentar sozinho ou rolar. Começa a perceber objetos, mas ainda não consegue pegá-los…Será que ele está pronto para comer comida sólida? Aquele velho ditado de “no meu tempo”eu dava papinha nessa idade e os bebês dormiam melhor, ou ficavam muito bem, obrigada. Será verdade?

Introdução alimentar aos 3 meses de vida?

Um estudo recente publicado pelo periódico JAMA Pediatrics trouxe uma abordagem diferente daquela endossada por autoridades mundiais a respeito da introdução alimentar. O estudo foi realizado por pesquisadores das universidades King´s College e Saint George em Londres. Nesse estudo, foram identificadas melhorias no sono do bebê quando a introdução alimentar foi feita aos 3 meses de idade, em contrapartida com o preconizado pela Organização Mundial da Saúde, aos 6 meses de vida.

Esse estudo teve uma repercussão enorme, pois mexe com um ponto crítico na vida da família: o sono. Bebês pequenos tendem a acordar várias vezes a noite para se alimentar, e isso é considerado normal e fisiológico, porém algumas dificuldades maiores do sono estão associadas muito mais a associações de sono como mamar no peito para dormir ou o balanço ou colo do que a introdução alimentar precoce propriamente dita. Apesar do estudo ter concluído que a introdução alimentar de sólidos antes dos 6 meses contribuiu para uma melhor duração de sono e redução nos despertares, essa diferença foi muito pequena.

O estudo foi realizado no Reino Unido, com 1303 criança e divididos em 2 grupos randomizados, onde um grupo recebeu aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, e o outro grupo iniciou a introdução de alimentos sólidos aos 3 meses de vida, além do aleitamento materno.
A partir desse cenário, o comparativo de sono foi realizado através de entrevistas online. O grupo que teve a introdução alimentar antecipada obteve uma média de 7 minutos a mais de sono por noite, com um máximo de 16 minutos a mais de sono comparado ao grupo de bebês que se beneficiaram da amamentação exclusiva. O número de despertares noturnos no grupo com introdução alimentar antecipada foi 9% menor em relação grupo de introdução alimentar aos 6 meses, bem como a percepção de problemas relacionados ao sono.

Então, a introdução alimentar antecipada é benéfica ao bebê?

Vamos analisar o estudo de forma crítica e com o que temos de recomendação hoje? Primeiro observe o que o estudo apontou de melhora. Foram apenas 7 minutos de sono observados por noite de sono, com o máximo de 16 minutos. Além disso a melhora dos despertares foi de 9%.

Apesar do estudo alegar que a diferença estatística é grande, e que essa “melhora do sono” permaneceu ao longo dos meses, será que isso não está muito mais relacionado aos hábitos de sono do que a introdução alimentar propriamente dita? Além disso, o índice de “desistência” no grupo de introdução alimentar precoce foi mais da metade, com a alegação de que o período de dar os alimentos alergênicos até os 6 meses era muito pequeno.

A melhora de sono de 7 minutos parece tão pequena né?

Vamos olhar então para o  desenvolvimento do bebê!

Um bebê de 3 meses está num ponto crucial de seu desenvolvimento: ele já firma bem o pescoço, começa a enxergar melhor, e perceber o mundo ao seu redor.  Ele acaba de se perceber fora da barriga da mãe. A fase das cólicas acabaram de cessar, e seu sistema digestório acabou de se habituar com o leite materno (ou fórmula). Seu comportamento é explorador. Começa a querer dar tapinhas nos brinquedos, mas ainda não consegue pegá-los com firmeza. Mas será que esse bebê está pronto para comer?

O bebê de 6 meses é bem diferente. É um bebê que já senta sozinho sem apoio, ou praticamente sozinho. Ele estende os braços para pegar os objetos, pega-os com firmeza, e passa de uma mão à outra. A gengiva está bem firme e já explorou bem a boca, descobrindo as mãos e os pés, e leva tudo à boca, freneticamente. Ele olha os pais comendo e parece interessado, e até tenta pegar o que está ao seu alcance. Esse bebê já consegue comer?

Ao introduzir alimentos sólidos ao bebê dizemos que é o início da alimentação complementar. O alimento sólido é o complemento do peito e não o contrário. O leite materno é o alimento mais perfeito que existe e tudo que iremos introduzir, será inferior ao leite materno, e não superior, além de corrermos o risco de ser inadequado a um bebê tão pequeno.

E pensando ainda nos Guidelines que falam a respeito da introdução alimentar….

 “Pratique aleitamento materno exclusivo do nascimento até o sexto mês de vida da criança, e então introduza a alimentação complementar a partir do 6º mês, e continue amamentando.” Organização Mundial da Saúde

 “Não há evidências de que exista alguma vantagem na introdução precoce (antes dos seis meses) de outros alimentos que não o leite humano na dieta da criança. Por outro lado, os relatos de que essa prática possa ser prejudicial são abundantes.” Sociedade Brasileira de Pediatria

“O Comite considera que o aleitamento materno exclusivo em torno dos 6 meses é um alvo desejável. Para todas crianças, a consideração das suas necessidades nutricionais, desenvolvimento de habilidades, e associações entre o tempo de introdução da alimentação complementar e avaliação da saúde mais tardiamente, recomenda que a introdução alimentar seja feita não antes de 17 semanas e também não após as 26 semanas de vida.” Comitê Europeu de Nutrição, Hepatologia e Gastroenterologia pediátrica

E os inúmeros benefícios do leite materno? 

Vamos relembrar os benefícios que o leite materno proporciona ao bebê. O leite reduz em 13% a chance de mortalidade infantil até os 5 anos de idade, evita infecções respiratórias, diarréias, diminui o risco de alergias, colesterol alto, diabetes, hipertensão, obesidade no futuro, o que contribui para uma melhor nutrição. O leite materno é completo, rico em nutrientes e promove a nutrição completa do bebê. Através dele a mãe passa para o bebê diversos anticorpos que o protegem contra inúmeras doenças!

A amamentação é um momento único entre mãe e bebê, é um ato puro de amor

O aleitamento materno acontece numa fase única da vida. E como toda fase, uma hora irá acabar. Então curta esse momento com o seu bebê ao máximo e proporcione a ele todos os benefícios que o seu leite pode trazer. Isso faz com que tudo pareça pequeno, inclusive os minutos a mais de sono.

Um bjo

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039

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Fonte: 

https://www.bbc.com/portuguese/geral-44774647

https://g1.globo.com/bemestar/noticia/bebes-que-comem-alimentos-solidos-mais-cedo-dormem-melhor-revela-estudo.ghtml

https://veja.abril.com.br/saude/bebes-que-comem-alimentos-solidos-a-partir-dos-3-meses-dormem-melhor/

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