Sabemos que o leite materno é considerado o alimento mais perfeito que existe. Sua composição é complexa, apresenta inúmeras propriedades imunológicas, protetora contra doenças e contém todos os ingredientes que o bebê precisa para crescer e se desenvolver.O leite materno consiste num complexo que contém proteínas, gorduras e açúcares, além de inúmeras células com propriedades protetoras para o bebê, com ação inclusive antibacteriana
Num estudo recente, foi constatado que não somente existem proteínas no leite materno que protegem contra doenças, mas agora também foram descobertos açúcares próprios do leite materno que combatem as bactérias, os chamados oligossacarídeos. Segundo a pesquisa, os oligossacarídeos do leite humano não só possuem propriedades antibacterianas próprias, mas também aumentam a eficácia das proteínas antibacterianas presentes no mesmo, além de uma importante ação anti-biofilme.
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Esse estudo foi considerado o primeiro exemplo de atividade antimicrobiana do leite humano realizado exclusivamente pelos chamados açúcares do leite humano, os oligossacarídeos.
Sabe-se hoje que a resistência bacteriana aos antibióticos é um problema de saúde mundial, que causa milhares de mortes por ano, e esse foi um grande motivador da pesquisa.
“Começamos a buscar diferentes métodos para vencer as bactérias infecciosas. Para inspiração, nos voltamos para uma bactéria particular, Estreptococo do Grupo B. Nós nos perguntamos se o seu hospedeiro comum, mulheres grávidas, produz compostos que podem enfraquecer ou matar o estreptococo, que é uma das principais causas de infecção em recém-nascidos no mundo todo”, explica Towsend, coordenador da pesquisa realizada na Universidade de Vanderbilt.
Em vez de buscar proteínas no leite humano com propriedades antimicrobianas, Townsend e seus colegas voltaram sua atenção para os açúcares, que são consideravelmente mais difíceis de estudar.
Fato curioso era que há cerca de 10 anos atrás pesquisadores encontraram alguns casos em que as bactérias do estreptococo do grupo B eram transmitidas pelo leite materno, entretanto a grande maioria dos bebês não desenvolvia a doença, e então despertou-se o interesse em estudar mais os componentes do leite materno e suas propriedades protetoras.
Na maioria das mulheres, o estreptococo do grupo B (EGB) estar presente não significa que causará doença, mas para um bebê recém-nascido, uma infecção por EGB pode levar a infecção grave generalizada, pneumonia, e até à morte, porque os bebês não possuem mecanismos de defesa totalmente desenvolvidos. A infecção por EGB em recém-nascidos com menos de uma semana de idade pode ser evitada. Para isso, é realizada a coleta do estreptococo do grupo B em gestante no último trimestre, e caso seja positivo, a mãe recebe tratamento com antibiótico antes do bebê nascer e durante o trabalho de parto. Essa é uma estratégia eficaz de proteção adotada para reduzir o risco de doença no recém nascido.
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Como foi feita a pesquisa?
Pesquisadores coletaram carboidratos de leite humano, também chamados de oligossacarídeos, de várias amostras de doadoras diferentes e os perfilaram com uma técnica de espectrometria de massa que pode identificar milhares de biomoléculas grandes simultaneamente. Em seguida, eles adicionaram os compostos às culturas do estreptococo e observaram o resultado ao microscópio. O resultado mostrou que não só alguns desses oligossacarídeos matam diretamente a bactéria, mas alguns também quebram fisicamente os biofilmes que as bactérias formam para se protegerem.
A imagem de microscopia à esquerda ilustra como as bactérias estreptocócicas normalmente aglutinam-se para formar um biofilme protetor, dificultando a ação do antibiótico. A imagem à direita mostra que o biofilme quebra quando é colocado os oligossacarídeos do leite humano à cultura, expondo mais bactérias ao ataque por agentes antibacterianos.
No estudo piloto, foram coletadas cinco amostras de leite materno de diferentes lactantes. Eles descobriram que os açúcares de uma amostra quase mataram uma colônia de estreptococo. Em outra amostra, os açúcares foram moderadamente efetivos, enquanto as demais três amostras apresentaram menor nível de atividade. Nos estudos subsequentes, foram testados mais de 25 amostras. Até agora, duas amostras quebraram os biofilmes bacterianos e mataram a bactéria, quatro quebraram os biofilmes, mas não mataram as bactérias e dois mataram a bactéria sem quebrarem os biofilmes.
“Nossos resultados mostram que esses açúcares têm dupla função antibacteriana”, disse Townsend. “Primeiro, eles sensibilizam as bactérias alvo e depois as matam. Isso também é conhecido como “letalidade sintética” e há um grande empenho para desenvolver novos medicamentos antimicrobianos com essa capacidade “.
Além disso, ao administrar coletas do estreptococo com uma mistura de açúcares do leite e peptídeos antimicrobianos da saliva humana, os pesquisadores também mostraram que a capacidade dos açúcares para quebrar biofilmes também pode aumentar a eficácia dos outros agentes antimicrobianos contidos no leite materno. Outros estudos subsequentes mostram que a atividade antimicrobiana de açúcares do leite humano se estende a uma série de outras bactérias infecciosas, incluindo dois dos seis patógenos considerados os principais causadores de infecções hospitalares em todo o mundo.
Os dados preliminares também sugerem que algumas mães produzem açúcares que tornam a bactéria mais suscetível a antibióticos comuns, incluindo penicilina e eritromicina. “Se esses resultados resultarem em estudos futuros, esses açúcares poderiam tornar-se parte de um tratamento antibacteriano para bebês e adultos. Eles também podem ajudar a reduzir nossa dependência de alguns antibióticos comuns”, diz Townsend.
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O leite materno contém mais substâncias protetoras que sequer conseguimos ainda mensurar. Muito ainda está para ser descoberto. E que bom!
Então da próxima vez que seu filho estiver doentinho e você disser, mas doutora, ele só quer mamar no peito, entenda que ali, também está a fonte da cura. Quer dar algum remédio para aquele resfriadinho ou aquela doença além do tratamento usual? Dê leite materno. 😉
Um bjo
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Referências bibliográficas
ACS Infectious Diseases “Human Milk Oligosaccharides Exhibit Antimicrobial and Anti-Biofilm Properties Against Group B. Streptococcus.”
Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039