A introdução alimentar é um mundo à parte, e falar sobre ela é muito gostoso! Sei que existem milhares de dúvidas, então vamos conversar sobre o assunto?
Para começar, uma alimentação saudável na verdade é muito simples, e o Ministério da Saúde resumiu em 10 passos alguns princípios fundamentais, conhecido como “Os 10 passos para uma alimentação saudável”. Falaremos sobre eles um a um. Conforme falo sobre cada passo, vamos tirar as dúvidas!
Passo 1: Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento.
Esse primeiro passo é essencial. Até os 6 meses de vida a criança não precisa de mais nada! O leite materno é o alimento mais completo que existe, e supre completamente as necessidades do bebê até os 6 meses, além de proteger contra doenças e alergias. Veja o que escrevi sobre a importância do leite materno no post A importância do leite materno.
Ah! Mas nem um chazinho? Nem um suquinho? Não precisa dar água? N-Ã-O! O leite materno tem um sua composição 80% de água, ou seja, já supre as necessidades do bebê, e a verdade é que qualquer outro líquido, como chás ou sucos, irão encher o estômago do bebê com algo inferior e menos nutritivo do que o leite materno!
Lembre-se que a sua alimentação é super importante nesse momento, para a boa nutrição do bebê. Coma, coma bem e de forma saudável e equilibrada!
Veja o post sobre a alimentação da mãe que amamenta
Para as mamães que não amamentam, a recomendação é que ofereça a fórmula infantil adequada para idade, e sim, pode ser necessário um pouco de água para o bebê, em torno de 10% da quantidade total de leite que ele toma por dia. Converse com seu pediatra para saber a quantidade correta pra seu bebê. Isso ocorre devido à osmolaridade da fórmula infantil e outras particularidades. A recomendação é que os bebês que tomam fórmula também inicie a introdução alimentar por volta dos 6 meses de idade, seguindo a mesma recomendação dos bebês que mamam peito.
Passo 2: A partir dos 6 meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os 2 anos de idade ou mais.
Com 6 meses o bebê já está pronto para receber novos alimentos, pois seu intestino está mais maduro e já tem as aquisições motoras e cognitivas para pegar o alimento, mastigar e engolir. O leite materno ainda é o alimento principal da criança, e os outros alimentos são complementares! Por isso o aleitamento materno deve continuar em livre demanda! Ao contrário do que muitos dizem, o leite não vira água, e é essencial para proteção contra infecções.
A criança, nessa fase, na verdade come muito pouco, e é natural haver uma rejeição inicial. O importante é continuar oferecendo à criança, sem forçar. Lembre-se: para ela é um mundo novo, e o bebê não sabe que a comida o alimenta. Até então somente o que ele conhece é o leite (seja materno ou fórmula).
Precisamos baixar as expectativas e saber que a criança está aprendendo.
Passo 3: Após 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas, legumes) três vezes ao dia se a criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia se estiver desmamada.
Quais alimentos devo começar? Suco? Fruta? Legumes? Quantas vezes? São tantas dúvidas nesse tópico…
Na verdade não tem muito segredo! Pode-se começar com as frutas ou legumes, não existe uma recomendação de que algum precisa ser primeiro do que o outro. Os alimentos devem ser oferecidos pela primeira vez separadamente, simplesmente pelo fato de que se houver alguma reação (onde as mais graves são imediatas, até no máximo 2 horas), saberemos qual alimento foi. Além disso, oferecer de forma separada permite à criança conhecer o sabor e a textura daquele alimento, conhecer as preferências…longe de ser aquela papinha batida e misturada, que não fornece nenhuma informação sensorial à criança, e não há reconhecimento de texturas e sabores. Deu pra entender porque é legal deixa a criança conhecer os alimentos? Não há necessidade de oferecer o mesmo alimento a semana toda, se a criança aceitar bem, pode-se passar ao próximo.
Essas refeições devem ser instituídas uma por vez, bem devagar, a depender da aceitação da criança! Claro que logo de início a criança não estará com 5 refeições por dia, isso será feito de forma gradual e pode demorar mais de um mês para acontecer, e não há problema!
Lembre-se: o bebê que dita o ritmo. Nada de forçar!
Passo 4: A alimentação complementar deve ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança.
Sei que tem algumas mães que precisam de horários e rotinas, mas nem sempre seu filho estará com fome na hora que você quer. Claro que pode seguir uma rotina, até mesmo para facilitar a dinâmica da casa, mas não precisa ser rígida ok? Sem neura! A idéia é que ao mesmo tempo que a criança se adapta ao ritmo da casa, também não tenha rigidez de horários. Façam as refeições juntos sempre! Coma junto com o seu bebê, procure dar o exemplo e torne esse momento prazeroso.
Passo 5: A alimentação complementar deve iniciar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até se chegar à alimentação da família.
A consistência é próxima de purê, e deve ser amassada com o garfo. Atenção: Não é para bater nada no liquidificador, mixer, ou passar na peneira… sei que vocês já ouviram muitas dessas recomendações por aí, mas esqueçam! Isso faz com que a comida vire uma (desculpe a palavra) “gororoba” com a mesma consistência e gosto, e a criança não desenvolva o paladar! É o primeiro passo para fazer o seu filho rejeitar o alimento. Além disso, perde-se fibras e muitas outras coisas nesse processo. Separem o alimento, deixem ele ver as cores e consistências diferentes.
Sucos devem ser evitados pelo mesmo motivo do mixer e peneira, perde-se fibra e além disso, tem alto índice glicêmico para um bebê. A recomendação mais recente é que os sucos devem ser oferecidos somente a partir de 1 ano de idade, e que deve-se dar preferências às frutas.
Veja sobre as novas recomendações sobre sucos
E não esqueçam que a consistência deve ser aumentada, até que comece a dar pedaços, e chegue à consistência da família. Isso significa que entre 8 e 9 meses a criança já deve começar a comer pedaços, e com 1 ano de vida a criança come a comida da família!
Esse passo é o que mais questiono, mas como essa recomendação não é tão recente, e saiu um novo Manual sobre Introdução Alimentar da Sociedade Brasileira de Pediatra, vocês devem estar se perguntando: posso oferecer pedaços? E a abordagem Baby Led Weaning?
A resposta que sabemos hoje é: C-L-A-R-O! Deve! A abordagem BLW, como sabemos hoje, oferece inúmeros benefícios à criança, pois permite que a criança explore o alimento, sua textura, cheiro, cor e sabor! Além disso oferece oportunidades ao bebê de exercitar sua coordenação motora, habilidades mais finas e além disso, ser muito gostoso! Tudo sempre com segurança!
Leia mais sobre o BLW nos links: BLW – introdução alimentar guiada pelo bebê e BLW – guia rápido.
Passo 6: Oferecer à criança diferentes alimentos ao longo do dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida.
Lembre-se de oferecer um alimento de cada grupo: uma proteína (carne, frango, peixe ou ovo), cereais ou tubérculos (arroz, mandioca, batata, batata doce), leguminosas (feijão, lentinha, ervilha), legumes (abobrinha, cenoura, quiabo), verduras e frutas.
Ainda vale aquela regra das 5 cores no prato, e lembre-se de ser exemplo, acima de tudo!
Passo 7: Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições.
Isso é mandatório! Lembre-se que começa pelo exemplo. Precisa ter em casa e os pais comerem para a criança primeiro ter a curiosidade, conhecer e também apreciar!
Passo 8: Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos, guloseimas, nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação.
Espero que isso já esteja bem certo para vocês. Só estou relembrando: Não há necessidade de acrescentar sal. Não há necessidade de acrescentar açúcar. Evite alimentos industrializados ao máximo. A introdução alimentar é a construção do paladar da criança, por isso, estimule o consumo de alimentos saudáveis e hábitos saudáveis. Isso fará toda a diferença para o resto da vida.
Lembre-se: Açúcar não e sinônimo de afeto, e a criança não sente falta daquilo que ela não conhece! Ok?
Passo 9: Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados.
Preferir alimentos frescos e orgânicos, sempre higienizá-los adequadamente.
Passo 10: Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos e respeitando a sua aceitação.
Criança doente o apetite pode cair drasticamente e isso é completamente normal! Quem tem fome quando está doente? Assim acontece com as crianças! A mesma coisa pode ocorrer quando estiver com os dentes nascendo! A melhor coisa a se fazer nessas horas é oferecer bastante líquido, muito leite materno, e seus alimentos preferidos! Tenha muita calma e paciência nesse momento e saiba que o apetite irá voltar com força total depois.
Vocês viram que não falei de quantidade? Pois é. Na verdade a quantidade certa não existe! é seu bebê que irá dizer o quanto quer comer. Tem dias que comerá mais, outros dias menos, e outros, não comerá nada! O importante é termos paciência, calma e tranquilidade.
Um abraço,
Artigo adaptado do blog da Lansinoh, originalmente escrito também pela Dra Kelly: http://www.lansinohbrasil.com.br/noticia/10-passos-para-uma-alimentacao-saudavel
Dra Kelly Marques Oliveira
Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC)
CRM 145039
Consultório Espaço Médico Descomplicado – São Paulo: (11) 5579-9090/ whatsapp (11) 93014-0007
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