Nem toda criança que tosse tem asma, nem todo resfriado é bronquiolite e nem todo bebê que teve bronquiolite terá asma, então como saber se meu filho terá asma no futuro?
Essa é uma pergunta extremamente difícil de responder de forma certeira, e provavelmente adianto que a evolução de cada criança é que nos mostrará o que acontecerá no futuro. Sabe-se que a asma hoje não é considerada somente uma doença única, mas um complexo de várias doenças que ainda precisa ser compreendida em suas particularidades.
A medicina é uma ciência dinâmica, então vamos falar um pouco sobre como auxiliar no diagnóstico de asma. Para isso, é importante entender 2 fatores que influenciam bastante: a genética e a epigenética.
A genética trata-se de algo que nascemos com ela, um imprint, uma característica específica que herdamos de nossos pais, como a cor dos olhos. A asma tem uma herança genética polimórfica, ou seja, existem mais de 80 genes diferentes já descobertos relacionados à asma. Devido a influência da genética, a chance de uma criança ter asma no futuro aumenta muito se um dos pais ou ambos têm alguma doença alérgica, como rinite, asma, dermatite atópica ou alergia alimentar.
A epigenética é a influência do meio ambiente que nos cerca, de fatores ambientais, que aumentam ou diminuem o risco de ter alergia ou não, como o ambiente urbano, a presença de poluição, se a criança foi amamentada, a via de parto, doenças que já teve, entre outras coisas.
Essas duas coisas aliadas, aumentam ou diminuem o risco desse indivíduo.
Existem algumas ferramentas que utilizamos para ajudar a prever com precisão razoável se a criança desenvolverá asma no futuro ou não, entre eles usamos o escore chamado Asthma Predictive Index ou Índice Preditivo de Asma (API). De acordo com a pontuação do escore, a criança terá maior ou menor risco de desenvolver asma.
A maioria das crises de chiado nos primeiros 3 anos de vida está relacionada a infecções respiratórias virais. Infecções por vírus respiratórios como a bronquiolite e os sintomas da asma são difíceis de diferenciar, o que torna o diagnóstico e o tratamento nessa faixa etária um desafio.
Crianças abaixo de 3 anos com 4 ou mais episódios de sibilância significativos (com diagnóstico médico de sibilância) ao longo de um ano, são mais propensas a ter asma ao longo da vida após os 5 anos de idade:
Critérios maiores:
- Um dos pais ( ou ambos) com asma
- Diagnóstico médico de eczema (dermatite atópica)
- Teste positivo para alérgenos (determinado por médico através de testes cutâneos positivos ou exames de sangue para alérgenos, como pólen, gramíneas, animais ou ácaros)
ou
Critérios menores:
- Alergia alimentar
- Mais de 4% de eosinófilos no sangue (pode estar presente em doenças alérgica, mas também em outros casos, como parasitoses)
- Presença de “crise de sibilância” na ausência de episódio de resfriado ou infecção de vias aéreas superiores
O Índice Preditivo para Asma (IPA) é considerado positivo se há pelo menos 1 critério maior ou 2 critérios menores.
Esse Índice foi desenvolvido após seguimento de aproximendamente 1.000 crianças até aos 13 anos de idade. Sabe-se que se o Indice é positivo aos 2 anos de idade, significa uma chance de 80% da criança ter diagnóstico definitivo de asma aos 7 anos.
Ao usar esse índice, médicos e pais podem observar mais de perto os sintomas de asma à medida que a criança cresce e, se necessário, iniciar o tratamento correto o quanto antes. O tratamento correto e no tempo certo faz toda a diferença para o controle da doença.
Meu filho teve bronquiolite. Isso significa que ele terá asma no futuro?
A bronquiolite grave no início da vida está associada com um risco aumentado de asma, especialmente ser for devido a Rinovírus ou bronquiolite por Vírus Sincicial Respiratorio (VSR), e o risco de asma pode persistir até a idade adulta.
O VSR está envolvido em ao menos 70% dos casos de bronquiolite e está relacionado diretamente com o desenvolvimento de sibilância. Existe a hipótese de que infecções graves por VSR na infância podem estar associados ao desenvolvimento de sibilância ou bronquite recorrentes. De acordo com as evidências atuais, fatores genéticos e ambientais determinam o tipo de resposta imunológica (nosso sistema de defesa) a infecções pelo vírus. Essa resposta pode afetar o desenvolvimento de mecanismos de controle na regulação de doenças das vias aéreas (como a asma, por exemplo).
Ainda não está claro se a bronquiolite no início da vida leva a uma alteração estrutural no pulmão, que predispõe a criança a ter sibilância recorrente (e ter asma no futuro), ou se esses bebês já apresentam uma alteração genética preexistente relacionada a sua resposta imunológica que predispõe a bronquiolite grave e a sibilância recorrente.
É como a pergunta do ovo e da galinha, o que veio antes?
O que nós sabemos?
A infecção por vírus sincicial respiratório nos pulmões ocorre em quase todas as pessoas até os 2 anos de idade, e nem todo mundo tem acomentimento pulmonar ou vira um bebe chiador. Parece que a longo prazo não há mudanças permanentes encontradas nos pulmões dessas mesmas crianças.
Pode acontecer do seu bebê pegar bronquiolite em algum momento da vida e isso pode se manifestar como um resfriado comum, ou mesmo como uma sibilância leve sem grandes complicações. No entanto, se o seu filho tem menos de 6 meses de idade ou é prematuro, ou tem alguma doença crônica, ele pode evoluir de forma mais grave.
A asma é um diagnóstico complexo, que deve ser feito evolutivamente e por um médico especialista. O tratamento deve ser individualizado e pode ser iniciado antes mesmo do seu diagnóstico de certeza, contribuindo para uma melhor saúde e qualidade de vida da família como um todo.
Leia mais sobre asma e bronquiolite aqui:
- Asma e bronquite na criança, o que você precisa saber
- Asma e bronquite na criança: prevenção e tratamento
- Vírus Sincicial Respiratório – Saiba tudo sobre ele
- Qual o tratamento para a bronquiolite?
Um bjo
Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039
Consultório Espaço Médico Descomplicado – São Paulo: (11) 5579-9090/ whatsapp (11) 93014-0007
- https://www.healthychildren.org/English/health-issues/conditions/allergies-asthma/Pages/Asthma-Predictive-Index.aspx
- http://www.jornaldepneumologia.com.br/detalhe_artigo.asp?id=526
- http://www.asbai.org.br/revistas/vol294/asma_genes.pdf