Sobre a livre demanda na amamentação e a regulação da fome e saciedade:
- Desenvolvimento motor e neurológico: capacidade para sentar sem apoio, sustentar a cabeça e o tronco, segurar objetos com as mãos, e explorar estímulos ambientais
- Desenvolvimento oral: desaparecimento do reflexo de protrusão e aparecimento dos movimentos voluntários e independentes da língua
Algumas orientações relacionadas à alimentação são as mesmas para qualquer método e muitas das orientações da SBP e do Ministério da Saúde precisam acontecer na alimentação complementar tradicional, e muitas vezes NÃO acontecem, ou são orientadas de maneira errada.
- O ritmo da criança deve ser respeitado, de acordo com o desenvolvimento neuropsicomotor
- A alimentação complementar complementa o leite materno e não o substitui
- Deve-se incentivar a criança a comer nos horários de refeições da família
- Incentivo à práticas responsivas para o sucesso na introdução de novos alimentos
- A importância de identificar e respeitar os sinais de fome e saciedade
- Incentivo para que o bebê seja ativo e interativo durante as refeições e que tenha sua atenção voltada totalmente para o momento
- Oferecer variedade de alimentos, evitando a monotonia
- Todos os grupos alimentares devem ser oferecidos a partir da primeira papa principal. O que ocorre: adiamos a introdução de proteínas como carnes, frangos, ovos e peixe, além de outros grupos alimentares, quando na verdade deve ser introduzido já aos 6 meses
- A refeição deve ser amassada, sem peneirar ou liquidificar. O que ocorre: a comida é batida no liquidificador, não identifica-se o que é cada alimento e vira aquela papa cor de “burro-quando-foge”.
- Oferecer alimentos em pequenos pedaços já aos 8 meses. O que ocorre: não existe essa evolução de consistência e a criança fica comendo papinha batida por muuuuito tempo.
- Oferecer os alimentos com a colher, de forma tranquila e respeitosa, sem forçar. O que ocorre: usamos métodos para distrair a criança enquanto come, ou então forçamos a colher para que a criança coma.
Questionamentos sobre o BLW
- Há impacto sobre o crescimento e o desenvolvimento?
- A ingestão de micronutrientes é suficiente?
- Influencia a formação dos hábitos alimentares?
- Influencia o comportamento dos pais / cuidadores?
- É um método de alimentação complementar viável para os pais?
- É uma forma segura de alimentar os lactentes? Há maior risco de engasgo e asfixia?
Posso dizer que como pediatra que tem orientado muitas famílias pelo método BLW, que muitos desses questionamentos já foram respondidos, de forma surpreendentemente positiva, e que com orientações corretas aliadas a um acompanhamento próximo dessas famílias, os resultados são promissores. A relação da criança com a comida, e mais do que isso, o comportamento alimentar é extremamente benéfico. Munido de orientações sobre segurança e variedade na introdução alimentar, com acompanhamento adequado, a criança estará certamente recebendo uma alimentação adequada para a idade.
Um estudo recentemente publicado na revista Pediatrics mostrou que independente do método, os pais acabam oferecendo alimentos que têm possível risco de engasgo a seus bebês, seja por falta de orientação ou desconhecimento.
Leia mais sobre o risco de engasgo.
Também no mesmo estudo comparativo, observou-se que crianças do grupo BLW tinham maior chance de comer em família, porém maior ingesta de alimentos com gordura saturada e menor ingestão de ferro, zinco e vitamina B12.
Outro estudo importante foi publicado com o intuito de entender melhor esses questionamentos, e foi feito uma abordagem direcionada para suprir essas possíveis “deficiências” no BLW, chamado de Baby-Led Introduction to SolidS (BLISS). O estudo comparou a abordagem BLW com a abordagem BLISS, no qual acrescentava mais visitas ao pediatra e orientação multidisciplinar, e com reforço nas questões de segurança e variedade de alimentos (oferecer alimentos ricos em ferro, por exemplo). Apesar do número pequeno de pacientes do estudo, foi mostrado que essa abordagem BLISS apresentou melhora na ingesta de ferro e menor risco de engasgo.
- Oferecer alimentos cortados em pedaços grandes, que o lactente consiga pegar sozinho
- Garantir a oferta de um alimento rico em ferro em cada refeição
- Ofertar um alimento rico em calorias em cada refeição
- Oferecer alimentos preparados de uma forma que reduza o risco de engasgo e evitar os alimentos listados como alto risco de aspiração
- Experimentar sempre o alimento antes de oferecer ao lactente, para verificar se não forma um bolo dentro da cavidade oral
- Evitar alimentos redondos ou em formato de moedas
- Garantir sempre que o lactente esteja sentado, ereto e sob supervisão contínua de um adulto
Se você pulou direto pro final, grava isso aqui (pra vida!):
- Respeite o ritmo do seu bebê
- Foque no “comer junto” e não em “fazer o bebê comer”
- Seja o exemplo para seu filho no que diz respeito a hábitos alimentares saudáveis. Não justifique qualquer ato por “comi e não morri” ou “sempre fiz assim e não morri”, etc
- Tenha paciência! Comer é mais do nutrir, é uma habilidade a ser aprendida e deve ser um momento gostoso e nunca coercitivo ou punitivo
- Proporcione um ambiente tranquilo e descontraído
- Estimule seu bebê a experimentar com as mãos, a explorar os alimentos como parte natural do seu aprendizado (independende do método!)
- Não existe uma única abordagem correta, mas sim orientações que levarão a uma introdução alimentar gostosa e tranquila
Um abraço,
Dra. Kelly Marques Oliveira
Pediatra, Alergista e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039
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