Sei que um dos maiores medos dos pais nessa época do ano é a tal da bronquiolite, e principalmente a causada pelo Vírus Sincicial Respiratório, também conhecido como VSR. Apesar de acharmos que o VSR é algo que pode ser potencialmente grave, na grande maioria dos casos felizmente não é, e os quadros não passam de um resfriado comum.
O VSR é um dos vírus responsável pelo resfriado comum, só ganhando do chamado Rinovírus. Existem mais de 200 tipos de vírus responsáveis pelos chamados “quadros virais”, e quando seu médico fala que é uma virose (provavelmente vocês odeiam esse diagnóstico, mas é praticamente impossível identificar todos. A maioria das pessoas que pega um resfriado, raramente irá passar de um quadro típico, com tosse, coriza nasal e febre, sem nem precisar ficar “de cama”, com recuperação rápida.
Ah doutora, então qual o grande problema?
O maior problema consiste na idade da infecção, no primeiro episódio e na presença de fatores agravantes.
A primeira vez que o bebê tem infecção por VSR, ou outro vírus respiratório, sendo muito novinho ( menor de 6 meses), há uma maior chance de levar ao comprometimento pulmonar, e desenvolver a bronquiolite, com inflamação das pequenas vias aéreas, os bronquíolos, e ter complicações como a pneumonia. Além disso, o risco de complicações é maior se a criança é prematura, ou se tem alguma doença de base, como malformação cardíaca ou uma doença pulmonar crônica como a fibrose cística.
Se a criança é maior, felizmente existem 3 fatores que diminuem a chance de complicações graves:
1. O seu sistema imunológico está mais maduro.
2. Fisicamente seu bebê é maior (assim como suas vias aéreas).
3. Provavelmente não é a primeira infecção dele por VSR ( ou outros vírus) e há produção de anticorpos próprios contra o vírus.
Como faço para evitar que meu filho pegue bronquiolite?
Posso dizer que é complicado. Mesmo que você não saia de casa, parece que o tal do vírus tá lá. Quando temos irmãozinho mais velho então, ou se o filho frequenta a escolinha…mais chance ainda! Estatisticamente falando, praticamente todas as crianças serão infectadas pelo VSR pelo menos uma vez até o segundo ano de vida, muitas mais de uma vez.
Além disso, como outros vírus sazonais, o VSR é transmitido através de gotículas respiratórias (através de secreções, como espirros, tosse) e principalmente pelo contato direto com outras crianças contaminadas e as superfícies que tocam ( babação de neném na mão e brinquedos…). A questão é realmente quando seu filho irá pegar a infecção e não como ou porquê. Felizmente, a maioria dos bebês não ficam graves.
Tá bom, mas o que poderia fazer para ajudar meu bebê?
É sabido que nessa época do ano há uma maior circulação de vírus no ambiente, e consequentemente, mais crianças ficam doentes, com maior transmissão dos vírus através do contato com gotículas e outros vetores como brinquedos. Vira um ciclo sem fim porque quando um bebê pega o vírus na escolinha por exemplo, acaba passando pros outros, que ficam doentes depois e assim vai. Além do irmão mais velho ou priminho…
Leia sobre cuidados na escolinha
Sendo assim a melhor coisa a se fazer é ter os cuidados de higiene usuais: lavar as mãos, uso do álcool gel, usar lenços descartáveis para assoar o nariz, higienizar os brinquedos.
Veja os cuidados para não pegar GRIPE e BRONQUIOLITE aqui
Em algumas situações específicas há a indicação do Palivizumab, um anticorpo monoclonal contra o vírus sincicial respiratório.
Indicações do Palivizumab são:
- Prematuros com idade gestacional 28 semanas ou menos, que durante a sazonalidade do VSR, estão com menos de 1 ano de vida.
- Crianças menores de 2 anos com doença pulmonar crônica da prematuridade (displasia broncopulmonar) ou doença cardíaca congênita com repercussão hemodinâmica.
- Crianças com doença pulmonar crônica que necessitem de oxigênio suplementar, broncodilatador, diurético ou corticoterapia nos 6 meses anteriores ao início da sazonalidade do VSR.
- Crianças com cardiopatia congênita: cardiopatia acianogênica com repercussão hemodinâmica e em uso de medicação, cardiopatia cianogênica, ou cardiopatia com hipertensão pulmonar moderada a grave.
- Crianças menores de 1 ano portadoras de anormalidades pulmonares ou neuromusculares que alterem a capacidade de clarear as secreções das vias áereas superiores.
- Crianças menores de 2 anos com imunossupressão/ imunodeficiência grave durante a estação de VSR.
No entanto, o governo brasileiro disponibiliza gratuitamente essa medicação somente nas seguintes situações:
- Menores de um ano nascidos prematuros abaixo de 28 semanas
- Menores de dois anos de idade portadores de:
- Cardiopatias congênitas cianogênicas
- Cardiopatias com hipertensão pulmonar grave
- Cardiopatias com repercussão hemodinâmica (em uso de medicação)
- Doença pulmonar crônica da prematuridade em uso de terapia medicamentosa nos 6 meses que antecedem a estação de pico (outono e inverno)
É importante lembrar que o seu uso não previne a infecção pelo vírus, mas evita as formas graves em grupos de risco, como visto acima. Além disso há o risco de reações e efeitos adversos, por isso não deve ser usado de rotina.
Se você se enquadra em alguma indicação acima, converse com seu médico 😉
Um abraço,
Dra. Kelly Marques Oliveira
Pediatra, Alergista e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039
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