A gente vive aprendendo com a vida. E posso dizer que aprendi com meus pacientes sobre BLW: não existe regra. A regra nos prende. Nos faz olhar ” quadradinho” e essa nunca foi a idéia do BLW.
É como na amamentação. Existem tantas regras desnecessárias que servem pra uma única coisa. Enlouquecer essa mãe e deixá-la tão insegura a ponto de ser incapaz de dizer: eu sei do que meu bebê precisa. E ponto. Determinamos quantos minutos o bebê deve mamar em cada mama e de quanto em quanto tempo, se vai oferecer um peito por mamada ou os 2….será que o bebê sabe essas regras ou tampouco as obedece? O bebê sabe simplesmente quando tem fome e que o peito mata sua fome. E que ele vai mamar o que ele precisa, não é?
Olhe para seu bebê, você sabe do que ele precisa. Você o conhece melhor do que ninguém. Relaxe e tente ouvir seus sinais. Aí tudo flui melhor!
Porque com a alimentação seria diferente? Vamos refletir um pouco?
E foi uma grande amiga, fonoaudióloga e precursora do BLW e da introdução alimentar participativa aqui no Brasil, a Aline Padovani, que me fez também refletir sobre isso. Ela tem um blog maravilhoso também chamado Tá na hora do papá com dicas sobre alimentação que vale a pena conferir…
Se a amamentação em livre demanda é a melhor escolha, porque a alimentação em livre demanda também não o seria?
Se sabemos que a criança irá comer quando estiver pronta, tudo que devemos oferecer a ela é a oportunidade de participar, e quando estamos tão conectados com o nosso bebê a ponto de perceber que todos os seus movimentos o movem em direção à comida, porque não deixá-lo?
Veja bem. Não estou indo contra a orientação da Organização Mundial da Saúde, nem da Sociedade Brasileira de Pediatria dizendo que o bebê deve iniciar a introdução dos 6 meses, mas simplesmente fazendo uma leitura através de outro paradigma.
A orientação fala que em torno dos 6 meses (em torno significa um número aproximado, e claro, nós novamente amamos as regras) a criança já é capaz de sentar sozinha e pegar os objetos, e levá-los à boca, se não quase tudo! Isso nos dá o respaldo da segurança. Se o bebê senta sozinha ele tem a firmeza de tronco e o equilíbrio sobre o eixo central que o faz ter estabilidade para se concentrar naquilo que está em sua mão, e pode levá-lo à boca.
O outro respaldo científico é a maturidade intestinal. Ora, não estamos falando mais de um bebê de 4 meses, mas de um bebê de quase 6 meses, por exemplo, que já senta sozinho e leva as coisas à boca com destreza. O desenvolvimento em cadeia mostra que se o bebê já leva a boca, pode mastigar e engolir, e por conseguinte, digerir o alimento.
Se você está com medo do engasgo, não se preocupe, também estou. Na verdade, a preocupação sempre existe, e o que podemos fazer é dar todos os recurso necessários para minimizá-lo.
Leia mais sobre o engasgo nesse post.
Ainda assim, sabemos que o intestino está sim mais maduro para receber o alimento sólido, por volta dos 6 meses (novamente estamos falando de estimativas).
Outra barreira a ser enfrentada é a social, Sim, existem milhares de pessoas como espectadores dessa criança: Os pais ansiosos para que ela coma, provavelmente numa expectativa maior do que a realidade. Os avós com muitos conceitos arraigados da sua época, e por isso acreditam que tem que ser assim, ou tem que ser assado, porque na minha época se fazia assim, e sempre deu certo….
Quebrados todos esses paradigmas, comecemos a introdução alimentar, sem medos, sem receios sem expectativas. Sinceramente: não são todas as crianças que vão se deliciar com a primeira banana. Muitos podem nem pôr na boca, outros vão somente cuspir tudo. Isso também faz parte.
Quanto ao livro cheio de regras, ainda que isso seja ou não BLW, deixa ele pra lá. Delicie-se com o que você está vendo à sua frente, e ao universo de possibilidades.
Se isso é BLW ou introdução alimentar participativa? Não importa. Trata-se do seu bebê aprendendo a se conectar com a comida.
Um abraço,
Dra. Kelly Marques Oliveira
Pediatra, Alergista e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039
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