A introdução alimentar de um bebê é algo fascinante e ao mesmo tempo desafiador para os pais. O bebê deixa de ser alimentado somente por leite materno ou fórmula infantil, e passa a comer alimentos sólidos. Nesse momento, tem um universo de possibilidades.
Já escrevi bastante aqui sobre o método de introdução alimentar chamado Baby Led Weaning, ou BLW,que tem se tornado bastante popular, principalmente entre as mamães! O método consiste em oferecer alimentos em pedaços, diferente da tradicional papinha, ao mesmo tempo que respeita o ritmo do bebê , ao descobrir o alimento, levá-lo à boca, mastigar e engolir. O BLW explora as sensações e a descoberta.
Para que o bebê consiga fazer isso com segurança, é necessário que o bebê tenha o que chamamos de aspectos de prontidão: o bebê precisa estar sentado de forma ereta, consegue segurar objetos e levá-los a boca, e exista a perda do reflexo de protrusão da língua. Isso ocorre por volta dos 6 meses, por isso a recomendação que comece a introdução alimentar aos 6 meses.
Mas fica sempre aquela dúvida e bate uma insegurança: o bebê não vai engasgar? Será que esse método é seguro???
Um estudo recente publicado numa revista científica respeitada chamada Pediatrics mostrou que sim, é seguro! O metódo, quando comparado com a introdução alimentar tradicional, NÃO aumenta o risco de engasgo! Para saber o porque, além de como fazê-lo de forma segura, leia abaixo:
Sobre o estudo sobre BLW
Antes de entendermos o que diz o estudo, é importante entender outros estudos que já foram publicados falando sobre um método modificado do BLW, usado no desenho do estudo, chamado BLISS (Baby-led introduction of solids, no português, introdução de sólidos guiada pelo bebê). Nessa “versão modificada” do BLW, foi destacada a importância do bebê estar sentado de forma ereta e com apoio, e que o bebê mesmo levasse a comida à boca, e nunca que o adulto o fizesse. Além disso, esses bebês foram acompanhados por médico e nutricionista, com orientações corretas de como fazer o BLW.
O estudo consistiu na análise de 209 crianças, divididas em 2 grupos: um grupo onde foi feito o método tradicional de introdução alimentar, e o outro grupo, pelo método BLW.
Foram avaliados o risco de engasgo através de questionários aos 6, 7, 8, 9 e 12 meses e calendário diário aos 6 e 8 meses. Além disso foram registrados 3 dias de dieta e avaliado a exposição a alimentos que representem um risco de asfixia, aos 7 e 12 meses.
O resultado do estudo demonstrou que 35% das crianças tiveram engasgo pelo menos uma vez entre 6 e 8 meses de idade, e não houve diferenças significativas relacionado ao número de engasgo entre os dois grupos. Os bebês que seguiram o método BLISS (BLW modificado) tiveram mais GAGs aos 6 meses, porém menos GAGs aos 8 meses. Isso faz todo o sentido, já que os bebês que aplicam o BLW aprendem a manipular melhor o alimento com o tempo, e aos 8 meses tem menos episódios de GAG.
Fato interessante descrito no estudo foi que, os 3 os casos mais sérios relacionados a engasgo, em que foi necessário levar ao pronto socorro, 2 foram engasgo com LEITE e não sólidos, e um foi devido ao fato do cuidador levar o pedaço na boca do bebê, e não deixar o bebê pegar o alimento por si só, que é uma recomendação expressa que fazemos quando orientamos sobre o BLW de forma segura.
Aos 7 meses, 52% das mães ofereceram algum alimento com potencial risco de engasgo, e aos 12 meses, esse número chegou a 94%, sem diferença entre o grupo BLW ou método tradicional.
O que isso significa?
O estudo mostrou que bebês que praticam um BLW seguro e com orientação adequada, NÃO tem maior risco de engasgo em relação a bebês que fazem o método tradicional.
Sugere que a abordagem BLW é tão segura quanto o método tradicional.
Entretanto….práticas de introdução alimentar NÃO seguras realizadas pelos pais foi evidenciado em AMBOS OS MÉTODOS! Ou seja, FALTA INFORMAÇÃO DO QUE É SEGURO!
Segurança em primeiro lugar
O estudo mostrou que as mães no geral acabam oferecendo algum alimento que pode oferecer um risco de engasgo para o bebê, antes mesmo de um ano de idade.
Isso acontece na maioria das vezes por desconhecimento e falta de orientação. Pensando nisso, abaixo segue uma tabela com algumas informações importante sobre segurança alimentar, independente do método!
Princípios de segurança na Introdução Alimentar
- Teste a comida antes de oferecer à criança, para garantir que esteja com uma consistência macia, porém firme (o alimento consegue ser amassado no céu da boca com a língua). Teste se a carne por exemplo, que é fibrosa, não irá se desfazer totalmente em pedaços menores quando sugados ou mastigados (como carne de desfiada), especialmente nos meses iniciais (quando a criança mais suga do que mastiga)
- Evite oferecer comida que formam farelos ou migalhas na boca
- Tenha certeza que os alimentos oferecidos são no mínimo do tamanho do punho do bebê (formato “agarrável”), idealmente o tamanho do punho mais 3-4cm.
- Garanta que a criança esteja sentada com a coluna ereta quando está comendo, nunca numa cadeirinha inclinada para trás.
- Nunca deixe seu bebê sozinho com a comida. Sempre tenha um adulto por perto enquanto a criança está comendo.
- Nunca deixe ninguém exceto seu bebê colocar a comida na boca. O bebê deve comer no seu próprio ritmo e sobre o seu controle.
Alimentos que devem ser evitados ao introduzir sólidos ao seu bebê
- Alimentos que você não consiga amassar no céu da boca com a língua.
- Alimentos muito pequenos, tais como nozes, uvas, doces e frutas com caroços (a menos que vocês retire os caroços, claro)
- Vegetais crus
- Maçã crua (oferecer cozida ou em fatias finas)
- Frutas muito duras ou ainda verdes (segue a orientação de cozinhá-las antes)
- Frutas cítricas que não estejam descascadas e sem caroço, como laranja ou tangerina
- Castanhas inteiras (castanhas no formato de pasta podem ser oferecidas, desde que se respeite o tempo adequado)
- Pipoca
- Salsichas, cenouras ou outros alimentos semelhantes cortados em formato de moeda
Evite o formato arredondado. Esse formato pode caprichosamente obstruir a via aérea do bebê e ele engasgar de fato! Qualquer alimento no formato arredondado deve ser evitado, corte sempre a uva e o tomate cereja, por exemplo, ao meio, na longitudinal.
Acrescento ainda: Use sempre o bom senso! Se você acredita que aquele alimento não parece seguro, não dê!
Veja algumas fotos abaixo de cortes possíveis e alimentos. Outras dúvidas veja nos link frutas e BLW, sobre BLW e introdução alimentar
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Referências Bibliográficas
- http://pediatrics.aappublications.org/content/pediatrics/early/2016/09/15/peds.2016-0772.full.pdf