Amamentação: Reflexões sobre o desmame

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A Judoca Jennifer Orey, após ganhar medalha de prata numa competição na Califórnia, eterniza uma imagem e mostra que é possível lutar pelos seus sonhos e conciliar a maternidade. Ninguém disse que seria fácil, nem perfeito. Como no esporte, a amamentação exige dedicação, persistência, conhecimento teórico e prática! E não estou dizendo que se você não chegou até aqui não foi bem sucedida. Cada um tem seu jeito de maternar, e tudo bem! Nesse tempo todo que tenho visto mamães com dificuldades na amamentação, tentativas e erros, uma coisa é certa: precisamos julgar menos, amar e respeitar mais.

Criança mamando no peito “grande”? Sim! E tudo bem por isso. Você preferiu desmamar antes, pois teve que fazer escolhas – muito difíceis por sinal, entre voltar ao trabalho, abrir mão do tempo juntos, fazer papel de mãe, pai….ou simplesmente estava exausta e considera que cumpriu seu papel na jornada de amamentação – tudo bem também. Desde que tenha sido uma escolha conciente, sem traumas. Porque se não falamos sobre isso, se engulimos em seco, aquilo fica “entalado” na garganta, ou vira um sentimento dentro de nós que machuca. Ficamos na defensiva, ou entramos em depressão, literalmente.

Julgar uma mãe que coloca o “peito pra fora” em público pra dar de mamar pra um bebê “grande” não é menos pior do que julgar uma mãe que dá a mamadeira pra um bebê recém nascido.

Você não sabe as histórias que essas mães carregam. Se o bebê nasceu prematuro e a mãe tentou ordenhar por dias e o leite não vinha, ou foi uma alergia a proteína do leite de vaca que surgiu de repente, e nem o peito ele aceitava, ou se a mãe teve mastite, feridas horríveis e não conseguiu mais amamentar….não importa não é mesmo?

Ou se essa mãe da criança “grande” sofreu tanto para conseguir amamentar que hoje ela quer manter ao máximo esse vínculo que lutou tanto pra conseguir, ou se mesmo trabalhando durante o dia, quer amamentar a noite ou quando estiver presente pois precisa desse momento, às vezes mais do que o bebê? Ou simplesmente ama amamentar, assim como seu filho, e ambos estão felizes?

Não importa a relação que temos com esse tema tão falado, sempre será cheio de tabus, medos angústias….

Acredito na amamentação prolongada e no desmame natural, acredito em respeito principalmente na individualidade dessa mãe, e também respeito à sua vontade, em relação ao desmame, pois isso pode ser um ponto de extremo conflito…Acredito que a mãe pode ser gentil no lidar com a criança, e impor limites normais que a respeitem como pessoa.

Vejo famílias super felizes em amamentação prolongada, e ao mesmo tempo uma imposição da sociedade que o bebê está grande e precisa desmamar.

E também vejo famílias onde os pais, e principalmente as mães estão esgotadas, cansadas, sem dormir e que não se reconhecem mais como pessoa fora da maternidade. Mães que querem ajuda para colocar um equilíbrio em sua vida, e não necessariamente isso significa desmame.

Existe os dois lados. Com certeza.

Ajudar o binômio mãe – bebê a ter um desmame natural e tranquilo é papel sim da sociedade, das familias e do pediatra! Isso significa milhares de questões envolvidas. Quando o bebê desmama naturalmente ele não precisa mais do peito. E a mãe não precisa mais dar de mamar. E pronto. Não há sofrimento, nem dor. 

E para aqueles que falam: “não tem mais nutriente nenhum nesse peito, é só água” depois de 1 ano, depois de 2 anos ou depois de quanto tempo for, ledo engano. Leite materno sempre será leite materno. Nutrientes especiais, que não existem em nenhum outro alimento. Espécie-específico. Proteção contra doenças, a curto e longo prazo. E o prazer do vínculo e do carinho que não tem preço. 

Chega-se no desmame porque ele ocorre, como tantos processos na vida, e não porque o leite materno deixa de ser importante…ou vira água ou qualquer outra coisa. Simplemente porque chegou.

Acredito que o diálogo com seu filho deva existir, quando houver um desmame natural. Mesmo que você acredita que não seja possível. Que ele não irá entender. Muitas vezes nos surpreendemos com uma criança que já estava pronta, e não sabíamos. Acredito também num desmame gentil quando a mãe precisa desmamar (e falo aqui em desmame após o primeiro ano de vida) seja qual for o motivo. Acredito ainda na amamentação prolongada como uma extensão de todos os benefícios da amamentação para além de uma necessidade nutricional primordial que o primeiro ano de vida impõe, com benefícios a longo prazo, para mãe e bebê. Por fim, acredito numa maternidade leve, descomplicada e sem julgamentos.

 

Precisamos falar mais sobre isso, porque o desmame ainda é tabu. Assim como a amamentação ainda é. E falaremos mais. Aguardem.

Um beijo

Dra Kelly Marques Oliveira

Pediatra e Consultora Internacional em Amamentação (IBCLC)

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créditos da foto: Vanessa A Simons

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