Quando começamos a falar de introdução alimentar aqui no blog, eu imaginei que essa dúvida surgiria, pois ainda existem muitas orientações, inclusive de pediatra, que diferem nesse assunto. , Por isso resolvi fazer um post para esclarecer o assunto. Vamos lá!
Quando iniciar a introdução alimentar?
Quando a criança completa 6 meses de vida, consideramos que é o momento ideal para introduzir novos alimentos para o bebê que não o leite materno. Essa recomendação é internacional e feita pela Organização Mundial da Saúde, que observou em estudos realizados, que bebês amamentados até os 6 meses de vida exclusivamente não apresentaram nenhuma diferença em relação ao crescimento e ganho de peso em relação a crianças em que o alimento foi introduzido precocemente, entre 3 e 4 meses de idade. Esse estudo também evidenciou que a introdução alimentar antes dos 6 meses levou ao desmame precoce, o que seria trocar um alimento ótimo e perfeito, por um, digamos, mais ou menos…isso surtiu como um alerta e assim a orientação da introdução alimentar foi estabelecida a partir dos 6 meses. Além disso, os bebês amamentados por mais tempo eram protegidos contra doenças gastrointestinais, como a diarréia.
Uma vantagem interessante para a mãe é que a manutenção do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses também ajuda a perder o peso (ganho durante a gestação) mais rapidamente!
E o bebê? Está pronto quando?
O desenvolvimento da criança aos 6 meses de idade também a prepara para receber novos alimentos. É somente em torno dos 6 meses que a criança apresenta um estágio de desenvolvimento neurológico e cognitivo que a permite iniciar a alimentação complementar! A criança começa a sentar sem apoio do tronco, já consegue pegar os alimentos e levá-los à boca, passa de uma mão a outra, além de ter a mastigação e deglutição mais coordenada. A criança começa a perder o reflexo de protrusão da língua também nessa fase.
Somente a partir dos 6 meses que o leite materno exclusivo passa a não ter todos os nutrientes necessários ao bebê, o que indica a introdução de outros alimentos.
A introdução alimentar precoce pode ser prejudicial?
Na verdade, tudo que “atrapalha a amamentação” e aumenta o risco do desmame, diminuindo o tempo de aleitamento materno pode ser prejudicial à criança. Estudos mostraram que o aleitamento materno protege contra doenças alérgicas como asma e dermatite atópica, e essa proteção está diretamente relacionada com o tempo e duração da amamentação.
Quando introduzimos os alimentos muito precocemente, estamos expondo o sistema imunológico e gastrointestinal da criança a antígenos desconhecidos antes de estar preparado para tal, e isso levar uma desregulação desses sistemas no futuro!
Ao iniciarmos a alimentação precocemente, geralmente partimos para alimentos que não tem o mesmo valor nutricional do leite materno, com sua substituição por alimentos diluídos ou processados, por exemplo o suco (o famoso suco de laranja lima…) ou sopas ralas. Assim deixamos de oferecer os fatores protetores contidos no leite materno, além de interferir na absorção de nutrientes existentes no leite , como o ferro e o zinco.
Ainda existe o risco de contaminação com outros alimentos, que não existe no leite materno. Em países com elevado índice de pobreza, o aleitamento materno é uma questão de sobrevivência, pois a água e os alimentos são contaminados e a mortalidade por diarreia ainda é muito alta.
Ironicamente moramos num país que preconiza o aleitamento materno exclusivo até 6 meses, mas a licença maternidade é até 4 meses! O que fazer?
É preciso avaliar caso a caso, mas ainda é possível manter o aleitamento materno exclusivo, se a mamãe conseguir retirar o leite materno e armazená-lo desde que seja um estoque suficiente para o seu bebê! Ainda temos muito a caminhar nesse sentido, mas não pense que você precisa desmamar o seu bebê se está voltando ao trabalho! Existem alternativas para isso. Se for dar o leite ao seu bebê quando estiver fora de casa, sempre prefira o copinho. Por último a mamadeira. Não é tão dificil quanto parece, veja o vídeo no post. Tudo é uma questão de treino.
A introdução alimentar pode ser discutida individualmente com seu pediatra, dentro das possibilidades da família. Muitas vezes existe a necessidade de introduzir a alimentação antes dos 6 meses porque a mãe voltará ao trabalho, a criança vai ficar na creche ou por inúmeros outros motivos…o quanto puder postergar isso melhor! Antes de qualquer início de alimentação, consulte o pediatra para avaliar a maturidade neurológica da criança e as questões de segurança envolvidas.
E os bebês que já desmamaram e estão somente com fórmula infantil, quando iniciar a alimentação complementar?
A orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, da Academia Americana de Pediatria e do European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN) é que, na impossibilidade de aleitamento materno, seja usado fórmula infantil. No Brasil, todas as fórmulas são consideradas seguras e reguladas pela ANVISA.
A introdução alimentar deverá seguir o mesmo padrão preconizado para aquelas que estão em aleitamento materno exclusivo, ou seja, a partir dos 6 meses. Isso pelo próprio fato do desenvolvimento da criança não estar apto para receber sólidos antes disso, com maiores riscos de engasgos, além da substituição de alimentos que deixariam de preencher as necessidades nutricionais dos bebês nessa fase.
Claro que as evidências em relação a essa recomendação não são tão fortes, quando comparados com bebês amamentados exclusivamente.
Espero tê-los convencido de que iniciar os alimentos complementares antes dos 6 meses pode ser perigoso, além de aumentar a incidência de alergias e infecções, e não ser o recomendado pela maioria das sociedades. Sabemos que apesar de ser uma recomendação em outros países e mesmo de alguns médicos no Brasil iniciarem antes dos 6 meses, isso não deve ser uma prática! Consulte sempre o seu pediatra e informe-se!
O bebê em aleitamento materno exclusivo não tem nenhuma vantagem em iniciar a alimentação antes, isso está muito claro!
Todos os guidelines nacionais e internacionais respaldam essa recomendação.
Sociedade Brasileira de Pediatria: “Não há evidências de que exista alguma vantagem na introdução precoce (antes dos seis meses) de outros alimentos que não o leite humano na dieta da criança. Por outro lado, os relatos de que essa prática possa ser prejudicial são abundantes.”
Comitê Europeu de Nutrição, Hepatologia e Gastroenterologia pediátrica: “O Comite considera que o aleitamento materno exclusivo em torno dos 6 meses é um alvo desejável. Para todas crianças, a consideração das suas necessidades nutricionais, desenvolvimento de habilidades, e associações entre o tempo de introdução da alimentação complementar e avaliação da saúde mais tardiamente, recomenda que a introdução alimentar seja feita não antes de 17 semanas e também não após as 26 semanas de vida.” ESPGHAN Comittee.
Organização Mundial da Saúde: “Pratique aleitamento materno exclusivo do nascimento até o sexto mês de vida da criança, e então introduza a alimentação complementar a partir do 6º mês, e continue amamentando.”
Então, boa introdução alimentar, sem pressa! Que seja leve!
Espero que tenham aprendido bastante! Compartilhe para que outras pessoas também possam ter essa informação 😉
Um bjo
Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039
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