Olá queridos papais e mamães,
Sabe aquela tosse “de cachorro”, tosse comprida, aquela tosse que está durando meses já e não melhora? Pode deixar até o seu bebê com falta de ar e roxinho? Pode ser coqueluche…
Hoje falaremos sobre essa doença que nos últimos anos tem aumentado significativamente o número de casos, hospitalizações e até morte, apesar de existir vacina para ela. Vamos entender um pouco sobre ela, porque é tão importante essa doença e o que devemos fazer.
A coqueluche é causada por uma infecção do trato respiratório por uma bactéria chamada Bordetella pertussis, causa uma tosse por período muito grande de tempo (conhecida também como a “tosse dos 100 dias”…) e a característica da tosse também é peculiar, sendo uma tosse em acessos, que pode causar vômitos, falta de ar e até apnéia (quando o bebê pára de respirar por alguns segundos, podendo ficar até com os lábios roxos). A tosse ocorre em acessos, são rápidas, curtas e fazem um “guincho” ao final, uma respiração profunda para tentar puxar o ar. É uma doença altamente contagiosa, com a sua principal transmissão dentro de casa, por pais e irmãozinhos com a doença, que passam para o bebê.
A Organização Mundial da Saúde estima que existam cerca de 16 milhões de casos no mundo, com 195.000 mortes! 95% dos casos ocorrem nos países em desenvolvimento. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, foram notificados em 2012, 15.428 casos suspeitos de coqueluche no país, com 2990 hospitalizações. Um fator preocupante foram 86 mortes, a maioria em bebês com menos de seis meses de idade. Este problema do aumento do número de casos de Coqueluche está acontecendo no mundo todo e não somente aqui no Brasil. Devemos lembrar que este quadro no bebê pequeno, ainda com a vacinação incompleta, é bastante grave e precisamos saber como evitar essa doença, e uma vez que ela ocorre, reconhecer os sinais de gravidade.
Os adultos e adolescentes são as principais fontes de contaminação da coqueluche dentro das casas. Um caso de coqueluche em uma criança menor de um ano é indicador de casos de coqueluche não detectados na comunidade.
Porque está acontecendo este aumento em uma doença em que existe vacina para para todas as crianças?
As coberturas de vacinas contendo o componente pertussis (responsável pela doença) aumentaram significativamente nos últimos 20 anos, acima de 80% em 2009; entretanto, a coqueluche ainda é um importante problema de saúde pública, e ocorre ocorrendo na forma endêmica e epidêmica, mesmo nos países em que as coberturas vacinais no primeiro ano de vida são superiores a 95%. Num estudo publicado na revista Acta Paediatrica em junho desse ano mostrou que mesmo em crianças vacinadas a taxa de hospitalização ainda é alta, principalmente em crianças menores de 2 anos
Entretanto a infecção e a imunização não protegem para sempre! A ausência de reforços da vacina leva a um aumento de casos na idade da adolescência e adultos jovens. Este grupo apresenta doença com poucos sintomas e passam a ser responsáveis para a disseminação da doença para a população mais predisposta a ter a doença que são as crianças menores de 2 anos. Outro fator importante para o maior numera de doença nos lactentes jovens é a menor transmissão de anticorpos por via transplacentaria que é consequência da queda dos níveis de anticorpos na população de adultos jovens.
O ser humano é o único hospedeiro da B. pertussis. A bactéria é um patógeno específico de humanos e não sobrevive bem fora do hospedeiro. A transmissão ocorre através do contato com gotículas respiratórias geradas por tosse ou espirro de pessoas doentes, especialmente na fase catarral e início da fase paroxística, nas primeiras três semanas do quadro, quando dificilmente se faz a suspeita diagnóstica. Até 80% dos contactantes domiciliares imunes adquirem a doença decorrente da imunidade reduzida contra a doença, perdida pelo longo tempo sem vacinar.
Os irmãos mais velhos (incluindo os adolescentes) e os adultos apresentam formas mais leves da doença com formas leves e atípicas e são pouco diagnosticados. A doença nos adultos jovens, frequentemente assintomáticas, é a mais importante fonte da infecção para as crianças pequenas.
Quadro Clínico
Os sintomas variam muito com a idade, início precoce de antibiótico, presença de outras doenças, se foi vacinada ou não, e se a vacina foi completa. Existe um período de incubação da doença de 7 a 21 dias, ou seja, o intervalo de tempo em que a criança entrou em contato com alguém doente e começou a desenvolver a doenaç. No início os sintomas são semelhantes ao de resfriado comum. Pode ter uma febre baixa. Ap´so 7 a 10 dias, inicia uma tosse paroxística (em salvas), que pode persistir por semanas…ocorrem acessos de tosse súbitos, com uma tosse rápida, curta, com uma única expiração no final seguida de uma inspiração profunda, caracterizada por um “guincho” e vômitos logo após a tosse. A tosse pode durar meses…
O principal motivo de hospitalização de bebês com menos de seis meses é a complicação de pneumonia, em mais da metade dos casos, muitas vezes acompanhada por crises de apnéia (a criança pára de respirar por alguns segundos, podendo ficar com uma coloração arroxeada) e hipóxia (falta de oxigênio no sangue), levando à necessidade de internação em unidade de cuidados intensivos. Outras complicações são perda de peso, infecção de ouvido, convulsão e morte. Embora as complicações sejam mais frequentes em lactentes com esquema vacinal incompleto, elas podem ocorrer em pessoas de qualquer idade. Frequentemente vemos também aumento das células brancas no sangue (chamada de leucocitose)
Bebês pequenos com quadro de apnéia ou tosse paroxística devem ser hospitalizados. Lembrar que Recém-nascidos prematuros, crianças com doenças cardíacas, pulmonares, musculares ou neurológicas apresentam alto risco de evoluir para doença grave.
Principais sinais de Alarme para quadros Graves
Bebês e crianças que apresentam desconforto respiratório importante apesar do uso de oxigênio podem precisam de um suporte respiratório maior, com monitorização em unidade de cuidados intensivos.
Sinais de Alarme
1. Frequência Respiratória elevada para a idade
2. Qualquer sinal de insuficiência respiratória, identificada pelo médico
3. Frequência Cardíaca elevada para a idade
4. Contagem de leucócitos no sangue acima de 50.000 céls/mm3
5. Rápido aumento do número de Leucócitos
6. Hipóxia (falta de oxigênio no sangue, sobretudo no cérebro), após paroxismos de tosse persistentes
7. Presença de convulsão
Outros diagnósticos também são possíveis…
A tosse coqueluchóide, como é conhecida, não é exclusiva da coqueluche e por ocorrer em várias infecções virais, como o Adenovírus. Outras bactérias também podem simular a doença. Por isso se seu bebê tá com uma tosse daquelas, pode ser, mas nem sempre é coqueluche. Esses sintomas tão variados só torna o nosso trabalho como médico ainda mais desafiador, de verdadeiro detetive.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico baseia-se em sobretudo na história da criança e no exame físico, se tem casos na família ou alguém tossindo em casa, e também em exames laboratoriais.
Toda pessoa que apresente tosse por mais de 14 dias, associada a sintomas como tosse paroxística, guinchos inspiratórios, ou vômitos pós-tosse, pode se suspeitar de coqueluche. Outros exames mais específicos podem ser feitos e você pode se informar com o médico da criança da disponibilidade deles. A coleta de hemograma pode ajudar no diagnóstico, porém não confirma a doença.
Tratamento
O tratamento é feito com antibiótico e a maioria das crianças podem ser tratadas em casa, porém criança com quadro grave ou potencialmente grave, como bebês menores e 6 meses ou crianças com doenças crônicas, devem ser considerada a internação hospitalar. O uso do antibiótico NÃO cura a tosse, que pode durar meses ainda assim, porém geralmente reduz o tempo dos sintomas.
Para alívio da tosse, muita hidratação, inalação com soro fisiológico, e lavagem nasal também com soro fisiológico ajudam. Veja o post sobre tosse que tem muitas dicas de como aliviá-la aqui.
VEJA COMO PREVENIR A DOENÇA! – VACINAÇÃO
No Brasil, a vacina contra coqueluche é aplicada desde 1975, é conhecida como a vacina tríplice bacteriana, ou DTP, que protege contra difteria, tétano e pertussis (a coqueluche). Existem 2 tipos de vacina, a celular e a a acelular. A vacina celular está disponível no SUS nas Unidades Básicas de Saúde. A diferença consiste basicamente nas possíveis reações adversas relacionadas à vacina, muito mais comum na celular. A criança pode apresentar desde reações locais, como vermelhidão endurecimento e inchaço no local da vacina, até febre irritabilidade, sonolência e raramente convulsão até 48h após a dose. Qualquer reação deve ser relatada para o pediatra, a fim de tomar as providências necessárias.
O esquema vacinal básico é composto por 3 doses e deve ser inciado a partir dos 2 meses de vida, com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses. O primeiro reforço deve ser feito com 15 meses e o segundo reforço com 4 a 6 anos. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda uma dose extra de reforço da vacina Acelular para adolescente de 14 a 16 anos.
Profilaxia: como se proteger e proteger o seu bebê?
Mamães, para diminuir o número de casos nos lactentes jovens o Ministério da Saúde recomenda às gestantes a Vacina Tríplice Acelular Tipo Adulto, preferencialmente após a 20ª semana de gestação, podendo ser administrada simultaneamente às outras vacinas indicadas na gestação, tais como vacinas contra hepatite B e Influenza. Por isso, peça para o seu médico a vacina!
O ideal é que todo contactuante do bebê, seja pai, mãe, avós ou irmãos adolescentes, recebam uma dose da Vacina Tríplice Acelular Tipo Adulto, assim que o bebê nascer ou pouco antes, para haver uma proteção do bebê, já que a vacinação do bebê só estará completa com 6 meses de vida!
Uma vez que exista um caso de coqueluche na familia, seja no bebê ou adulto, como proceder?
O ideal é que seja feito o tratamento de toda a família que mora na casa, através do que chamamos de quimioprofilaxia. Consulte o médico da criança para mais detalhes.
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Um bjo
Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039
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Referências Bibliográficas:
- Pertussis is still common in a highly vaccinated infant population. Acta Paediatrica Volume 103, Issue 8, pages 846–849, August 2014
- Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria, 3ª edição – 2014
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