Vacina de Rotavírus: quais as possíveis reações? – Parte 3

 

Para quem não leu a primeira, e a segunda parte da discussão sobre a vacina de rotavírus, leia!

Hoje vamos falar sobre algo muito importante da vacina de rotavírus, sobre os seus possíveis efeios adversos e complicações. A idéia é que vocês tenham informações sérias, não sensacionalistas, e ponderadas sobre o assunto!

A vacina de rotavírus é segura? 

A vacina de rotavírus é uma vacina segura, porém como é uma vacina de vírus vivo atenuado, alguns eventos adversos podem ocorrer. Os mais comuns são: irritabilidade, febre, vômitos e diarréia, sendo o principal a irritabilidade, e todos com efeito autolimitado. Pode ocorrer sangue nas fezes, apesar de raro (0,6%). Caso ocorra, você pode fazer a notificação no próprio posto de saúde onde foi feita a vacina ou relatar ao seu médico, mas no geral o sangramento também é autolimitado. Não significa que o bebê tem alergia a proteína do leite de vaca, mas pode se confundir com essa doença, caso esteja com a suspeita! (falarei mais nos próximos posts).

Atenção: o sangramento nas fezes é um evento adverso raro, com resolução benigna e autolimitada em sua maioria, não sendo um fator que contra indique as doses subsequentes. Entretanto, deve ser acompanhado de perto pelo pediatra até resolução do quadro e cada caso deve ser individualizado! 

Intussuscepção e a vacina

Intussucepção é uma condição que pode acontecer  em bebês entre 5 a 10 meses, e há uma invaginação intestinal, no qual uma porção do intestino se dobra por dentro dele mesmo, causando dor, isquemia e obstrução intestinal. É um quadro agudo e raro, e que requer intervenção imediada. O grande medo da vacina se instalou quando uma vacina lançada em 1999 levou ao aumento do número de casos. A mesma vacina foi SUSPENSA e retirada do mercado após terem identificado o ocorrido.

Em 2011, um novo estudo publicado no New England Journal of Medicine, mostrou um aumento dos casos de invaginação intestinal após a introdução da vacina monovalente, de 1 caso a cada 51.000-68.000 bebês vacinados . O risco mostrou ser maior até 2 semanas após a segunda dose. O mesmo estudo também mostrou que a vacina preveniu 80.000 hospitalizações e 1.300 mortes por ano, o que conclui que a sua efetividade supera o risco de invaginação intestinal.

Outro estudo publicado em 2016 no Jornal de Pediatria observou que NÃO houve aumento nos casos de intussucepção após a introdução da vacina.

O pediatra pode e deve relatar qualquer efeito adverso na ANVISA, através do link.

Estudos recentes  sugerem que há um ligeiro aumento no risco de intussuscepção entre os bebês nas primeiras três semanas depois de receber a primeira dose da vacina e a segunda dose de vacina de rotavírus. O risco é de aproximadamente 6 casos extras de intussuscepção para cada 100.000 crianças vacinadas.

Como saber se meu filho tem intussucepção?

Intussucepção em bebês

A intussucepção é diferente de uma cólica do bebê ou choro normal. As cólicas são intensas e o choro do bebê muito forte. Além disso o bebê apresenta palidez (diferente de um bebê coradinho) e as fezes do bebê ficam diferentes, em aspecto que chamamos de “geleia de framboesa” (fica literalmente com esse aspecto, vermelho e fluido com grumos). Se o seu bebê apresentar esse tipo de sintoma, procure imediatamente um médico.

Fezes em aspecto de “geléia de framboesa”

Nesse caso, o bebê precisa ser avaliado pelo médico e pode ser solicitado uma ultrassonografia de abdomen ou tomografia, para auxílio no diagnóstico. Muitas vezes quando ocorre a intussussepção pode ser feito uma manobra em que não há necessidade de cirurgia e a criança recebe alta após um período de observação. Entretanto em cerca de 30% dos casos, pode ser necessária uma cirurgia para desobstruir o intestino.

Quão séria é a intussuscepção?

A maioria dos bebês recupera completamente sem maiores problemas. Intussuscepção pode se repetir em até 10% dos casos, algumas vezes em poucos dias e geralmente dentro de 6 meses. Podem ocorrer complicações se o tratamento for postergado. É importante o diagnóstico precoce e avaliação imediata do médico com seguimento adequado.

Meu bebê teve intussuscepção instestinal. Ele pode vacinar contra o rotavírus?

Não. A vacina contra o rotavírus não deve ser dada a um bebê que teve intussuscepção prévia, devido ao risco aumentado de ocorrer novamente.

Se meu bebê já teve a gastroenterite por rotavírus, ele deve tomar a vacina?

A vacinação ainda é recomendada , pois a infecção por rotavírus portege apenas de forma parcial, já que não teria cobertura para todos os sorotipos cobertos pela vacina. O ideal é esperar a recuperação completa do seu bebê e ele estar dentro da idade recomendada para fazer a vacina. Não há aumento do risco de efeitos colaterais da vacina se o seu filho já teve a doença. Sempre converse com seu médico sobre a qual o melhor momento de realizar a vacinação.

No fim das contas vale a pena vacinar? 

A minha resposta é que de forma geral, se seu bebê é saudável, que não tem nenhuma complicação intestinal ou doença crônica, (como vocês viram nas contraindicações da vacina), vale a pena sim! O rotavírus é uma doença que pode causar uma desidratação grave e deixar os bebês bem abatidos, com risco de hospitalização, perto dos possíveis efeitos colaterais que possam ocorrer.

Mas doutora…eu tenho medo! Medo da reação, medo do meu filho ter alguma complicação, ou ter a tal da intussucepção intestinal!!!  Eu entendo seu medo! Entendo ainda que cada situação deve ser individualizada, pois cada bebê é único! Então SEMPRE avalie com seu médico as opções, os riscos de vacinar ou não, e tome uma decisão consciente e informada! Isso é o mais importante.

Um bjo

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergista e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039

Consultório Espaço Médico Descomplicado – São Paulo: (11) 5579-9090/ whatsapp (11) 93014-0007

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Referências Bibliográficas
Imagens: http://www.chop.edu/conditions-diseases/intussusception
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