Manual de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria

Recentemente a Sociedade Brasileira de Pediatria publicou uma atualização em Aleitamento Materno voltado para profissionais da saúde e principalmente para pediatras. Esse documento é indispensável e todo pediatra deveria ler!  Gostaria de destacar algumas coisas com vocês!

Recomendação quanto à duração do Aleitamento Materno

A recomendação internacional de duração do aleitamento materno é de dois anos ou  mais, sendo exclusivo até os 6 meses de idade.

Portanto, não há um limite máximo estabelecido. Apesar disso, muitas pessoas se espantam ao ver uma criança mamando no segundo ano de vida e alguns profissionais chegam a sugerir o desmame (aqui definido como término da amamentação) por considerar a criança “grande” para mamar.

Evidências científicas: Onde estamos hoje

Aleitamento materno como fator de proteção contra doenças para a mãe e o bebê 

As evidências científicas sugerem que se o aleitamento materno fosse até os 2 anos ou mais em todo o mundo, seriam evitadas 823.000 mortes no mundo todo em crianças menores de 5 anos. A proteção do leite materno está relacionada aos seus inúmeros fatores imunológicos, tais como imunoglobulinas, em especial a IgA, leucócitos, lisozima, lactoferrina, fator bífido e oligossacarídeos. A proteção relacionada ao aleitamento materno se estende para além do período de amamentação, ao longo da vida, para doenças infecciosas e doenças crônicas, como obesidade e diabetes. Essa proteção também se estende para a mãe, com a proteção contra doenças como câncer de mama e ovário, e diabetes tipo 2.

Impacto na inteligência 

O Aleitamento Materno promove um aumento de QI em 3,44 pontos na infância e adolescentes, comparados com crianças não amamentadas, diferenças que persistem até a vida adulta.

Desenvolvimento orofacial

As crianças amamentadas por mais tempo tem um risco reduzido em 68% de desenvolver maloclusão dentária, além de melhor função mastigatória.

Sobrepeso e obesidade

Crianças amamentadas tem redução de 25% menos chance de desenvolver sobrepeso ou obesidade na vida adulta.

Amamentar é bom para a economia de um país

O estímulo às práticas de AM pode gerar uma redução em 1,8 milhões de dólares em custos com gastos em saúde no Brasil. Pensando em termo de políticas públicas, imagina o tamanho do impacto dessa única medida!

Algumas coisas que podem atrapalhar no caminho…

 

Cultura da mamadeira  e Estilo de vida

Na metade do século passado foi o boom do que chamamos da “cultura da mamadeira”, que deu a esse objeto demasiada importância na alimentação infantil. Então o que era para ser exceção, virou a regra. Apesar de todos os esforços dos diversos setores da sociedade, essa cultura ainda está muito arraigada e se expressa nos altos índices de uso da mamadeira: quase 60% das crianças brasileiras menores de um ano utilizam mamadeira.

Chupeta faz mal? 

Mais do que uma real necessidade do bebê, a chupeta faz parte de algo chamado de uso cultural. Quase metade das crianças brasileiras menores de um ano utiliza esse acessório, que está ligado à crença que a chupeta acalma o bebê e ajuda a mãe. De fato, o ato de sugar pode sim acalmar obebê, porém o uso de chupeta pode ter efeitos deletérios à amamentação, como o fato de poder reduzir o tempo das mamadas, a duração do aleitamento materno, levar a confusão de bicos e até o desmame precoce.

O apoio da mulher que amamenta no trabalho 

Sabemos hoje que a mulher está inserida no mercado de trabalho, e ainda há muitos preconceitos e tabus em relação à mãe que amamenta e e quer continuar o aleitamento materno, mesmo que retorne ao mercado de trabalho. Sabemos que falta ainda apoio da sociedade, das empresas no estímulo ao aleitamento materno, em suas mais variadas formas. A começar pelo preconceito de “nossa, você ainda tira leite para sua bebê?” ou ainda, “mas sua bebê não precisa mais do seu leite, ou “seu leite não tem mais nutrientes”. Além disso, é preciso batalhar por um local apropriado em que a mãe possa retirar leite,  que não seja no banheiro ou num local onde seja interrompida a todo instante, ou nem tenha privacidade para tal. É preciso iniciativas que apoiem essa mãe.

Veja o post sobre amamentação e volta ao trabalho 

Ordenha 

Armazenamento de leite 

Rede de apoio

Rede de apoio é tudo! Pode ser o companheiro, mãe, pai, avós, dinda, grupos de pós parto, grupos de amamentação, seu pediatra (que apoie a amamentação é claro) e consultoras de amamentação! Muitas vezes demoramos para pedir ajuda, e isso acaba fazendo com que vários problemas maiores ocorram, ou até mesmo o desmame precoce.

Por fim, cabe aos profissionais de saúde, sobretudo aos pediatras, promoverem, protegerem e apoiarem as mãe, bebês e famílias a praticarem a amamentação continuada até o desmame natural, se assim for o seu desejo. Este é um desafio que deve ser enfrentado com conhecimento, atitudes positivas e habilidades, como a de saber ouvir as mães, as crianças e as famílias, estando atento às suas necessidades.

Um abraço,

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergista e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039

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