Otite em crianças – o que eu preciso saber

Seu filho já teve otite? Quando é motivo de preocupação? Quando devo procurar um otorrino?
Esse post está muito esclarecedor e é sobre algo super COMUM em crianças, mas que pode haver complicações que precisamos ficar atentos! A otite deve ser investigada e tratada, principalmente se teve mais de um episódio!

Foi pensando nisso que resolvi trazer alguém hoje para falar desse assunto que tanto nos preocupa! A Dra. Ligia Tedde é otorrinolaringologista e tem um blog (novinho em folha!) chamado Inspire Otorrino, e também é a nossa querida otorrino do Espaço Médico Descomplicado. Ela esclarece de forma clara sobre a otite, leiam!

Por Dra. Ligia Tedde

“Você conhece alguém que precisou colocar um tubinho de ventilação no ouvido durante a infância ou que tem otites de repetição? Imagino que sim…

 Estudos mostram que até 90% das crianças até 2 anos de idade irão apresentar Otite Média com Efusão (OME) e podem ter até 4 episódios por ano.

 Mas o que é a OME? É definido pela presença de fluido na orelha média sem que haja infecção propriamente dita.

 Pode ocorrer durante um episódio de infecção de vias aéreas superiores, como um resfriado comum,  por alterar o funcionamento da tuba auditiva (estrutura que liga o nariz à orelha média), ou como resposta inflamatória após uma Otite Média Aguda ( tipo de otite onde há infecção bacteriana e secreção purulenta na orelha média), com maior ocorrência entre 10 meses e 4 anos de idade.

  Um pouco de estatística para entender a importância do quadro:

  • 1 em cada 8 crianças de idade escolar (5-6 anos), se forem submetidas a triagem, irão apresentar secreção em orelha média, em um ou ambos os lados.

  • Em crianças com Sd. de Down ou com fenda palatina a prevalência é de 60-85%.

  • A maioria dos episódios se resolvem espontaneamente em até 3 meses mas mais de 1/3 das crianças podem apresentar OME de repetição.

  • 5 a 10% dos casos podem durar até 1 ano!

A secreção “presa” na orelha média leva à diminuição da mobilidade da membrana do tímpano e perda auditiva por falha na condução do som até a orelha interna (onde está localizado o órgão responsável pela audição), e isto pode acompanhar queixas como tonturas, queda do aproveitamento escolar, problemas comportamentais, desconforto e queda da qualidade de vida (relacionada ao aparelho vestibular).

 O maior fator de risco para que isso ocorra é a idade, pois a tuba auditiva na criança é mais horizontal e curta, tornando-a suscetível à inflamações e infecções na orelha média. Também há outras situações, como tabagismo passivo, sexo masculino, componente genético e frequentar creche.  Ao contrário do que muita gente pensa, o ALEITAMENTO MATERNO E A DURAÇÃO DO MESMO são considerados FATOR DE PROTEÇÃO!

 Por ser tão frequente e estar associado a tantos efeitos ruins no aprendizado, principalmente por acontecer numa fase tão importante do desenvolvimento da linguagem e da fala, algumas estratégias para otimizar a audição podem ser adotadas até que a condição se resolva:

  • Falar próximo à criança, de frente para ela, com clareza e boa pronúncia,

  • Reduzir o ruído de fundo,

  • Melhorar o assento na sala de aula, se necessário.

Em 2004, um guideline foi desenvolvido pela Academia Americanas de Otorrinolaringologia, de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Pediatria e Medicina de Família para definir condutas nos quadros de OME, e atualizado em 2016. Nele estabeleceram o que chamaram de ACTION STATEMENTS, que seriam ações recomendadas para diagnóstico e tratamento da OME: 

 – Avaliar a movimentação da membrana do tímpano durante a otoscopia;

 -Realização de timpanometria em casos duvidosos;

 Pesquisar OME quando houver falha no Teste da Orelhinha (a secreção pode levar a um resultado falso-negativo);

 Identificação de crianças em risco crescente de desenvolver problemas de fala, linguagem ou aprendizado, possibilitando intervenção individualizada para reduzir o potencial impacto negativo da OME;

 – NÃO FAZER SCREENING DE ROTINA EM CRIANÇAS SAUDÁVEIS : para prevenção de testes desnecessários, visitas subsequentes ao consultório, diminuir ansiedade dos pais e da criança, e despesas com uma condição altamente prevalente e autolimitada.

 ACOMPANHAMENTO ATIVO : quando não houver fatores de risco específicos, observar o paciente durante 3 meses para evitar intervenções desnecessárias, aproveitando o desfecho favorável da história natural da doença.

 -Realização de testes auditivos em crianças com fatores de risco ou nas que mantiverem OME por mais de 3 meses;

 – Reavaliar após 3 e 6 meses de evolução as crianças com OME, até que a efusão, perda auditiva ou alterações das estruturas da orelha média não estejam mais presentes.

E quando devo pensar em cirurgia? 

 Se não houver melhora espontânea e em casos específicos, o tratamento cirúrgico pode ser cogitado. Pode envolver a colocação de tubos de ventilação na membrana timpânica até estabilização do quadro, retirada da adenóide, aspiração da secreção coletada na orelha média ou combinações entre os métodos, conforme a necessidade.

 -EM CRIANÇAS MENORES DE 4 ANOS : Colocação de tubo de ventilação em casos de OME em <4 anos. Adenoidectomia não deverá ser realizada a menos que haja indicação formal.

 -EM MAIORES DE 4 ANOS:  Colocação de tubo de ventilação e adenoidectomia para crianças com OME acima de 4 anos.

 A retirada da adenóide é considerada pois pode obstruir a tuba auditiva ou mesmo funcionar como um “depósito” de bactérias que, em alguns casos, levam a infecções de repetição na orelha média e, consequentemente, otite.

 As otites, sejam elas crônicas, agudas, de repetição ou não, costumam ser causa de especial preocupação por parte dos pais e cuidadores de crianças. Seu acompanhamento e intervenção oportuna são cruciais para o bom desenvolvimento de fala e linguagem, numa idade em que as conexões cerebrais se fazem intensamente e em alta velocidade. 

 Vale lembrar que cada caso é um caso, e cada paciente é único! Em caso de dúvidas, procure seu otorrino!”

***

Só acrescento como pediatra e imunologista mais algumas coisinhas…

  • A Otite Média Aguda deve ser tratada em sua maioria das vezes com antibiótico que cubra os “bichos” presentes na cavidade oral. Sempre consulte o seu médico. O tratamento reduz o tempo com sintomas, acelera o processo de cura e evita complicações! A otite pode ter como complicação a própria efusão da orelha média, com alterações na membrana timpânica e consequente perda auditiva, ou pode até mesmo evoluir para uma mastoidite, que é uma infecção do osso da mastóide, bem séria! Deu pra entender que não dá pra brincar com infecção de ouvido né?
  • Se seu bebê teve 3 otites num ano, é um sinal de alerta para imunodeficiência primária, e vale uma investigação melhor com o imunologista ok?

Espero que tenha esclarecido bastante gente, mandem suas dúvidas para a Dra. Ligia pelo Instagram @inspireotorrino ou pelo Facebook Inspire Otorrino.

Um bjo

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergista e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039

Consultório Espaço Médico Descomplicado – São Paulo: (11) 5579-9090/ whatsapp (11) 93014-0007

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Fonte:

1: Rosenfeld RM, Shin JJ, Schwartz SR, Coggins R, Gagnon L, Hackell JM, Hoelting D, Hunter LL, Kummer AW, Payne SC, Poe DS, Veling M, Vila PM, Walsh SA, Corrigan MD. Clinical Practice Guideline: Otitis Media with Effusion Executive Summary (Update). Otolaryngol Head Neck Surg. 2016 Feb;154(2):201-14. doi: 10.1177/0194599815624407. PubMed PMID: 26833645.

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