Sobre a vacina de rotavírus, fazer ou não? – Parte 1

Tem muita gente que me pergunta sobre a vacina de rotavírus, se precisa mesmo fazer, se dá mesmo muito efeito colateral, se pode aumentar o risco de intussucepção intestinal (calma já explico o que é), se a vacina é uma causa da alergia a proteína do leite de vaca….são tantas dúvidas sobre o assunto! Por isso gostaria de compartilhar com vocês algumas informações pertinentes  e atuais sobre a vacina e quais as suas recomendações.

O texto foi baseado na nota técnica feita em conjunto pela Sociedade Brasileira de Pediatria, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia e a Sociedade Brasileira de Imunizações.

O que é o rotavírus e porque ele é perigoso? 

O rotavírus é um dos principais vírus causadores do que chamamos de gastroenterite aguda, que chamamos “carinhosamente” de GECA  entre os médicos. Bem, para tentar contextualizar, pense num quadro de diarréia e vômitos com mais de 10 episódios, em que você literalmente fica “reinando no trono” (rs) e mal consegue se levantar da cama e tudo o que você ingere, ou você vomita ou tem diarréia. Pois bem, o rotavírus é por aí. Agora pense num bebê de recém nascido ou até 1 ano de idade pegando essa doença. Pensamos que ninguém mais morreria de uma doença tão “boba” como essa, mas os dados apontam o contrário.

Crianças além de tudo desidratam muito rápido, tem menor defesa que os adultos. Muitas vezes alguns episódios de diarréia + vômitos numa criança é o suficiente para desidratá-la em horas, e se nada for feito, pode sim, ser fatal.

Vamos então às estatísticas:

  • O rotavírus é considerado a causa mais comum de diarréia em crianças menores de 5 anos no mundo
  • É responsável por 600 mil mortes por ano e 40 % das internações por gastroenterites
  • No continente americano, são 75 mil internações e 15 mil óbitos relacionados à doença por ano.

E a vacina de rotavírus? 

A vacina é recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e utilizada em 89 países de todos os continentes em seus calendários de vacinação.

Existem duas vacinas disponíveis: a monovalente (Rotarix®/GSK) que protege contra um sorotipo, está no calendário de vacinação do SUS  e é administrada em 2 doses, e a pentavalente (RotaTeq®/Merck), que protege contra 5 sorotipos, feita no esquema de 3 doses, e disponível somente em clínicas particulares.

Já foram realizados inúmeros estudos que demonstraram um grande impacto da vacina na redução de hospitalizações e óbitos no Brasil e no mundo. No Brasil um grande estudo publicado em 2011 mostrou uma queda de 22% na mortalidade por diarréia, e 200 mortes evitadas, além da redução de 40 mil hospitalizações por diarréia aguda entre crianças menores de 5 anos, mesmo em regiões de melhor condição social. Os estudos mostram também que a proteção é estendida a outras idades além das crianças, como os idosos.

Num outro estudo publicado em 2014, foi avaliado o impacto da vacinação sobre as hospitalizações por rotavírus em São Paulo, e identificado:

  • Redução nas hospitalização por diarréia em 40% em < 5 anos
  • Redução de hospitalizações pela metade em lactentes
  • Economia de 2 milhões de dólares/ano para o Estado de SP

A vacina de rotavírus é segura? 

A vacina de rotavírus é uma vacina bem segura, porém como é uma vacina de vírus vivo atenuado, alguns eventos adversos podem ocorrer. Os mais comuns são: irritabilidade, febre, vômitos e diarréia, sendo o principal a irritabilidade, e todos com efeito autolimitado.

Pode ocorrer sangue nas fezes, apesar de raro (0,6%). Caso ocorra, você pode fazer a notificação no próprio posto de saúde onde foi feita a vacina ou relatar ao seu médico, mas no geral o sangramento também é autolimitado. Não significa que o bebê tem alergia a proteína do leite de vaca, mas pode se confundir com essa doença, caso esteja com a suspeita! (falarei mais nos próximos posts).

Intussuscepção e a vacina

Intussucepção é uma condição que pode acontecer  em bebês entre 5 a 10 meses, e há uma invaginação intestinal, no qual uma porção do intestino de dobra por dentro dele mesmo, causando dor, isquemia e obstrução intestinal. É um quadro agudo e raro, e que requer intervenção imediada.

É uma condição rara, que afeta 1 a cada 100.000 pessoas, e alguns estudos mostraram que a vacina de rotavírus poderia estar relacionada com uma maior incidência de intussucepção intestinal, enquanto outro estudo não mostrou diferença. Vou falar mais sobre isso em outro post!

No fim das contas vale a pena vacinar? 

Pensando nos riscos e benefícios, eu diria que SIM vale a pena! O rotavírus é uma doença que pode causar uma desidratação grave e deixar os bebês bem abatidos, perto dos possíveis efeitos colaterais que possam ocorrer. Um bebê saudável, uma vez respeitado as contra indicações e precauções da vacina, pode vacinar sem maiores problemas.

Mas doutora…eu tenho medo! Medo da reação, medo do meu filho ter alguma complicação, ou ter a tal da intussucepção intestinal!!! Posso dizer que eu entendo. Entendo seu medo. A gente consegue avaliar o todo, a população geral, e dar um “guia” sobre qual decisão tomar. Mas a decisão individual, o seu contexto e situação, deve SEMPRE ser avaliado junto com seu médico. 😉

Um bjo

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergista e Consultora Internacional de Amamdentação (IBCLC) – CRM 145039

Consultório Espaço Médico Descomplicado – São Paulo: (11) 5579-9090/ whatsapp (11) 93014-0007

  Para seguir o blog e receber as novidades por email, basta clicar no botão “seguir” no site. Siga também no Facebook (ative o receber notificações, para receber aviso dos posts novos) e instagram (@pediatriadescomplicada).
Referências Bibliográficas
https://sbim.org.br/images/files/nota-sbim-asbai-sbp-rotavirus08022017-v2.pdf
Sustained Decrease in Gastroenteritis-related Deaths and Hospitalizations in Children Less Than 5 Years of Age After the Introduction of Rotavirus Vaccination: A Time-Trend Analysis in Brazil (2001-2010), Pediatr Infect Dis J. 2016 Jun;35(6):e180-90. http://www.cdc.gov/vaccines/pubs/pinkbook/rota.html#contraindications
Impact of rotavirus vaccination on diarrhea-related hospitalizations in São Paulo State, Brazil. Vaccine 2014 Jun 5;32(27):3402-8. Fiochi et al. Pediatr Allergy Immunol 2010;21(Sup21)1-125.
Compartilhe
Facebook
Twitter
Telegram
LinkedIn