Amamentação: o complemento é o vilão? O problema da confusão de bicos

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Antes que venham protestos, já começo dizendo que não vim aqui falar mal das fórmulas infantis. Também não se trata de falar bem, é claro. E longe de mim culpabilizar as mães por darem complemento, seja por qualquer razão. O que quero com esse post é principalmente esclarecer uma questão bem obscura. Sabemos que não é raro, a mãe já sair da maternidade com a prescrição de fórmula e com uma baita insegurança em relação à sua capacidade de amamentar seu bebê. Que muitos pediatras a prescrevem, a torto e a direito, sem nem pensar no aspecto da amamentação, ou ao menos alertar que isso pode levar ao desmame precoce.

Não se trata do complemento ser o vilão, mas sim a forma como o utilizamos, e suas indicações errôneas que levam a um possível desmame precoce ou à dificuldades de amamentação.

Antes de mais nada, precisamos pensar qual a melhor forma de um bebê mamar: Em primeiríssimo lugar, o ideal é o bebê mamar no peito, leite materno direto a fonte. Em segundo lugar, o bebê pode tomar leite materno ordenhado, seja porque a mãe está voltando ao trabalho, ou o bebê tem alguma dificuldade de sucção, ou tem ficado agitado no peito, e seria interessante complementar com o próprio leite ordenhado pela sonda de relactação (se mamãe estiver presente). Em terceiro e quarto lugar, ficam o uso da colher dosadora e do copinho, para oferecer o leite materno ou fórmula. E sim, por último lugar, a temível mamadeira. E sim, temível porque ela pode levar à famosa confusão de bicos…e levar ao desmame precoce (artigos de referência no final).

O leite materno materno é preferível à fórmula, ainda que tenha sido congelado, pasteurizado etc. Leite materno sempre será leite materno. Mas a confusão de bicos pode ocorrer com a mamadeira independente se for leite materno ou fórmula o conteúdo da mesma, pois estamos falando de fluxo!

O uso de bicos artificiais pode levar à confusão de bicos 

A confusão de bicos é uma causa comum de desmame precoce. Apesar de assim ser chamada, não me parece muito adequada, pois na verdade o que ocorre é que o bebê sabe exatamente sua preferência, e não está exatamente confuso sobre isso…

Isso ocorre em grande parte devido à forma como o bebê mama no peito e como o bebê mama na mamadeira. Na mamadeira, por menor furo que seja, o leite pinga na boca do bebê com um esforço mínimo e fluxo constante. Não há necessidade de esperar por um fluxo maior, nem fazer o movimento de ordenha e pressão negativa que ocorre quando o bebê mama no peito. O bebê que mama na mamadeira ainda utiliza os músculos ao redor da boca, e pouco a lingua em si. O movimento usado é em “pistão”.

Os bebês de fato são muito inteligentes e muitos irão preferir esse fluxo contínuo que a mamadeira oferece em detrimento do peito, e aí está o perigo, pois a mamadeira é mais fácil. Algumas vezes basta uma mamadeira para o bebê perceber isso. Às vezes é preciso maior exposição, mas quando nos damos conta, estamos oferecendo mais mamadeira ao bebê do que peito.

Ainda assim, mesmo que o bebê aparentemente não apresente confusão de bico, e continue mamando no peito, a longo prazo a produção de leite da mãe cai, pois não há o estímulo suficiente de sucção. Basta pensar que enquanto o bebê mama na mamadeira, ele não está sugando o peito, e portanto, não está estimulando!

Além disso, por mais que você ordenhe o leite e ofereça ao bebê para “garantir” a produção, nenhuma bomba de tirar leite é igual à sucção do bebê no peito!

Veja abaixo alguns sinais de confusão de bico

  • Pega errada, que faz com que os mamilos fiquem machucados – Precisa pensar em língua presa!
  • Agitação no peito (Ei, mãe, quero mis rápido, mais fluxo!)
  • Não pára os braços e pernas (“Por que não há leite derramando na minha boca???”)
  • Afasta o peito com as mãos (“Eu estou saindo para dar uma olhada no movimento”)
  • Pega e solta, pega e solta o peito
  • Chora e vira a cabeça
  • Dá gritos e recusa completa para pegar o peito

Encontre a causa do problema e não tape o sol com a peneira!!!

Se o bebê parece irritado no peito, agitado, pouco ganho de peso, você está com os mamilos machucados, procure um especialista que possa ajudar! Dentre tantas outras causas, pode ser somente um ajuste na pega e posição corretas no peito, a língua presa do bebê e tantos outros fatores…Fato é que dar complemento não trará a solução! O complemento é uma “solução” transitória, que pode piorar ainda mais as coisas…

Será que a fórmula é o problema? 

Em relação às fórmulas, posso dizer que hoje temos fórmulas seguras no mercado, que não trazem risco de vida ao bebê, o que uma vez já ocorreu. Elas seguem um código de segurança extremamente rígido, chamado Codex Alimentaris, um Manual que determina exatamente a composição das fórmulas infantis. Sabemos que nutrem o bebê e são seguras para o seu desenvolvimento, na impossibilidade do aleitamento materno, porém nunca serão substitutos à altura do leite materno.

Por fim, mamães, tentem pensar comigo: considero o complemento como uma medicação qualquer. Sim! Exatamente isso! O complemento se trata simplesmente de uma medida interventiva, para utilizar por um período limitado de tempo, para algumas vezes ajudar a amamentação (apesar de poder atrapalhar muito também, como vimos). E serve exatamente para isso: complementar o leite materno. Dessa forma, deve-se usar com o máximo de critério e indicação precisa, para que não haja problemas, certo?

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Dra Kelly Marques Oliveira

CRM 145039

Consultório particular em São Paulo: (11) 5088-6699/ Whatsapp (11) 93014-0007

Referências Bibliográficas

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