Alergia alimentar: como reduzir os riscos


A introdução alimentar é um tema imenso e quando pensamos em introduzir os alimentos, pensamos também no risco de desenvolver algum tipo de alergia, e também quais alimentos posso dar. Essa é uma dúvida do mundo todo e muitos estudos tem sido feitos no sentido de encontrar o momento oportuno para cada alimento, principalmente os 8 alimentos considerados mais alergênicos no mundo: leite, ovo, trigo, soja, castanhas, peixe, amendoim e frutos do mar.

Um estudo pioneiro realizado nos EUA, nos abriu a mente para alguns conceitos importantes no que se diz respeito a alergia alimentar, vamos entender o porquê.

Apesar de não ser muito cultural o consumo de amendoim no Brasil, nos EUA quase tudo tem a tal da “peanut butter” (manteiga de amendoim). O aumento de alergia amendoim nos Estados Unidos, por exemplo, é um motivo de preocupação. Sabe-se que cerca de 80% das crianças alérgicas ao amendoim serão alérgicas pelo resto da vida. A orientação antiga era de que se postergasse a introdução ao amendoim para além dos 3 anos de vida.

Entretanto, um novo estudo publicado no England Journal of  Medicine sugere a necessidade de se repensar esta orientação.

O estudo foi realizado com 640 crianças consideradas de alto risco para desenvolvimento de alergia ao amendoim (presença de dermatite atópica ou alergia a ovo ou ambos), divididas em 2 grupos: crianças que iniciaram o consumo de amendoim a partir dos 4 meses, e crianças que evitaram o alimento até os 3 anos de idade. Essas crianças foram acompanhadas até os 5 anos de idade.

Foi observado nesse estudo um resultado impressionante: No grupo que evitou o consumo de amendoim, observou-se uma prevalência de alergia ao amendoim de 17,2%, contra somente 3,2% no grupo que consumiu amendoim desde cedo. Em outras palavras, o consumo de amendoim já no início da introdução alimentar reduziu o risco de alergia a este alimento em mais de 5 vezes quando comparado a crianças que evitaram o mesmo, em crianças com alto risco para desenvolver alergia alimentar!

(Veja aqui o vídeo da revista, em inglês, para entender melhor). Os autores concluem que, em princípio, evitar  o amendoim foi associado com uma maior frequência de alergia a esta leguminosa.

As implicações deste trabalho são claras: expor crianças ao amendoim (manteiga ou pasta), de forma segura pode ser a melhor estratégia para prevenção da alergia. E para evitar engasgos, não se deve dar o amendoim até que as crianças consigam mastigar.

Um Guideline da American Academy of Pediatrics (AAP) juntamente com o the National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) e o the European Academy of Allergy and Clinical Immunology (EAACI) foi publicado em setembro de 2015 para formalizar a mudança de algumas orientações em relação à introdução alimentar de de alimentos considerados altamente alergênicos.

A AAP orienta então que a introdução de alimentos altamente alergênicos não devem ser postergados para além dos 6 meses, devendo ser oferecidos oportunamente. Destaca ainda que crianças com alto risco para doença alérgica devem consultar um especialista ANTES de iniciar a introdução alimentar.

O que isso significa? E a tal “janela imunológica”? 

Primeiro, é importante ressaltar que o que vale para um alimento não necessariamente vale para outro…mas existe uma tendência de que os alimentos sejam introduzidos de forma OPORTUNA. Isso significa sim, que devemos aproveitar a janela imunológica da criança, ou seja, o período em que a criança deve ser exposta a determinados alimentos ditos “alergênicos”, para reduzir suas chances em desenvolver uma alergia futura.

Ainda existe muito para caminharmos em relação a outros alimentos, por exemplo: E as outras castanhas? Qual o momento certo da introdução de frutos do mar? Ovo? Trigo? Peixe?

Por ora, deve-se seguir a orientação da SBP,  podendo introduzi-los a partir dos 6 meses de idade.

As castanhas, orienta-se introduzir mais tardiamente (não postergar para além de 1 ano) pelo risco de engasgo. Frutos do mar, deve-se cuidar com a procedência do mesmo. Lembre-se SEGURANÇA é um fator importante aqui.

É importante sempre conversar com o seu pediatra, e se houver histórico de alergia alimentar ou dermatite atópica, procurar um alergista para orientações.

Um bjo

Dra Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional em Amamentação (IBCLC) 

CRM 145039

Consultório particular em São Paulo: (11) 5579-9090 / Whatsapp (11) 93014-0007

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Referências bibliográficas

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