Uma abordagem diferente: não olhe para números na amamentação, olhe para o bebê!

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No post anterior escrevi sobre como saber se o bebê está mamando bem. Muitas vezes o bebê fica o dia inteiro no peito, mas está passando fome, pois na verdade não está retirando nada de leite do peito! 

Para entender isso, veja o post no link: Como saber se o bebê está mamando bem.

Veja também o post sobre a pega e posicionamento corretos no peito.

Sabemos que a maior preocupação da mamães é: meu bebê está ganhando peso suficiente?  Hoje gostaria de propor uma abordagem diferente. Não que o ganho de peso não é importante, ele é. É um dos parâmetros de avaliação do pediatra. Mas o que destaco aqui é muitas vezes o ganho de peso do bebê está normal quando pensamos que NÃO é satisfatório ( ou o pediatra fala que é pouco!) 

Primeiro, veja se o seu pediatra segue a curva mais atualizada da OMS de 2006, em que foi feito um grande estudo multicêntrico entre bebês saudáveis em diferentes continentes, e o mais importante: bebês que foram amamentados no peito. As curvas anteriores (NCHS, CDC) foram baseadas em bebês amamentados com fórmulas, o que não reflete a realidade. Percebeu-se que o grande erro dessa curva antiga era que esses bebês tinham maior peso para idade e IMC, porém com maior risco de obesidade no futuro!
Bebês seguem a sua própria curva de crescimento! Curvas nada mais são que um parâmetro para se ter uma idéia da população em geral, mas não é uma regra. Existem bebês no percentil 3, e isso significa que 3% da população mundial segue esse parametro! (O que não é pouco…nem anormal ou baixo peso…)
Hoje sabemos que bebês amamentados no peito são, via de regra, mais magros que bebês amamentados com fórmula, e isso é completamente normal! Sabemos também que o aleitamento materno é um fator de proteção contra doenças como obesidade, diabetes, hipertensão, dislipidemia e alergias como asma e rinite no futuro! 

Lembre-se:

  • 10% (ou qualquer) perda de peso não é igual a suplementação. Além de ocorrerem variações entre balanças de marcas diferentes, e diferenças de balanças entre consultórios, olhe primeiro para o binômio mamãe e bebê! Avalie a amamentação! O bebê suga e engole? O bebê somente suga e não engole nada, pois não retira leite nenhum? O bebê suga e chora, suga e fica agitado, suga e dorme? (Isso significa que há necessidade de ajuda, não necessariamente de suplementação! Isso significa que pode haver necessidade de suplementação, não necessariamente por mamadeira!!!).
  • Não olhe para o relógio. Qualquer tempo relacionado às mamadas não significa nada, quando o mais importante é avaliar a qualidade dessas mamadas!
  • Não limite o horário das mamadas. Essa história de que “o bebê tem que se alimentar a cada 3 horas” (ou qualquer outro intervalo de horas) não significa nada!
  • Só porque o bebê está sugando o peito, não significa que está conseguindo retirar leite efetivamente!
  • Colocar o bebê para mamar em um lado e só quando terminar o lado e esvaziar o peito colocar no outro não faz sentido, nem colocar para mamar de um lado só. Se o bebê não está efetivamente mamando no peito, o bebê não está recebendo o tão falado leite posterior. Ofereça sempre os dois, e pode trocar mais de uma vez durante a mamada, caso o bebê comece a chorar e ficar agitado durante a amamentação. Se ele não quiser mamar o outro lado, não insista, mas faça esse exercício.
  • Oferecer o último lado em que foi amamentado para pegar o leite posterior também não é matemático. A gordura aumenta proporcionalmente durante a mamada.O que acontece quando o peito está mais cheio é que a proporção de gordura é menor, do que quando não está tão cheio (a gordura tem maior participação no leite nesses casos. Isso significa que mesmo em mamães em que a produção de leite não é tão grande os bebês vão receber o leite rico em gordura também, necessária ao ganho de peso!
  1. Na maternidade, a maioria das mulheres recebe grande quantidade de líquidos intravenosos (devido ao jejum prolongado), e dessa forma, uma parte desses líquidos são transferidos para o bebê, que nasce edemaciado. Quando a criança nasce, começa e eliminar esses líquidos e retorna ao seu estado de hidratação normal. Assim, a perda de peso do bebê não é relativa ao seu “peso real”, mas superestimada muitas vezes. É preciso avaliar caso a caso. É preciso individualizar e não generalizar.
    2. Cuidados com as diferenças de balança! Duas balanças diferentes podem ter uma variação de peso da criança, sem ser real! A maioria dos bebês são pesados ao nascimento na sala de parto, e depois na balança da maternidade. Muitas vezes marcas podem levar a alteração de peso significativa. Isso também acontece nos consultórios.
    3. Existe a possibilidade do bebê não estar realmente conseguindo tirar muito leite do peito, ou mesmo quase nada. Isso relaciona-se com milhares de fatores, mas principalmente a uma pega inadequada. Quanto antes intervirmos, melhor será. O pediatra precisa avaliar nos primeiros dias de vida se mamãe e bebê precisarão de ajuda, e não iniciar o complemento e dizer à mãe que ela não é capaz. Existem muitos lugares que oferecem ajuda à amamentação, inclusive sem custo. Mamães, procurem ajuda nos Bancos de Leite Humano da sua cidade ou em um Hospital com Iniciativa Amiga da Criança.

O que o bebê precisa não é de suplemento logo de início, como se fosse algo automático, mas antes de tudo, o bebê e a mãe precisam de ajuda para amamentar e conseguir uma boa pega. Para isso, é necessário muito apoio à amamentação seja por parte da família, do marido, da própria equipe do Hospital e do pediatra, que é fundamental nesse momento. As mães que saem amamentando do hospital com mais confiança têm uma maior chance de manter o aleitamento materno exclusivo por 6 meses.

O complemento só deve ser introduzido após uma avaliação de um especialista em amamentação, com apoio e acompanhamento do pediatra (que apoie a amamentação, por favor!)

Mamães, não desistam! Procurem ajuda e apoio.

Se você tem alguma história para contar, depoimento, compartilhe também! Com certeza tem muitas outras mamães passando por situações semelhantes.

Veja os outros posts (vários que escrevi sobre amamentação, não desista!)

Espero que tenham aprendido bastante! Compartilhe para que outras pessoas também possam ter essa informação 😉

Um bjo

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039

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*As informações dadas aqui não substituem a consulta médica. Se houver dúvida o médico deverá ser consultado.

Referências bibliográficas:

  •  http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-42302013000400017&script=sci_arttext
  • Tratado de pediatria. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2014.

photo credit: http://img.webmd.com/dtmcms/live/webmd/consumer_assets/site_images/articles/health_tools/baby_breastfeeding_slideshow/thinkstock_rf_photo_of_baby_breastfeeding.jpg

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