Introdução alimentar: entenda o método baby-led-weaning (BLW)

Depois de começar a escrever sobre introdução alimentar, hábitos saudáveis, como introduzir o alimento ao bebê eu falei para vocês sobre um método chamado baby-led-weaning, que nada mais é que a introdução alimentar guiada pelo bebê, ou seja, deixar que ele explore os alimentos, sinta a textura, o cheiro e o gosto dos alimentos.

Quando comecei a estudar sobre BLW fiquei muito animada, pois recebi testemunhos de mães que aplicaram o método e deu super certo, além da experiência positiva que tive em meu consultório.

Aqui no blog escrevo sempre o que há de mais atual para vocês, e procuro sempre embasamento científico para aquilo que vou falar. Por isso hoje vou explicar o método baseado nas diretrizes da pioneira do método, Gil Rapley, mamãe britânica formada em saúde pública, que iniciou o método e experiências com seus filhos e autora do livro Baby-led-Weaning. Essa é uma tradução livre feita por mim (coloquei algumas observações minhas) e o original em inglês vocês podem encontrar no link.

Leiam até o final, pois cada observação é fundamental para entender o método! (E não pára por aqui…).

 

Diretrizes para a introdução de alimentos guiada pelo bebê

Como começar

Antes de iniciar o método baby-led-weaning (BLW), é importante entender como fazê-lo e entender os princípios básicos para aplicar esse método. Essas diretrizes proporcionam um melhor entendimento e aproveitamento do método. Além disso, os pais ficarão mais seguros em aplicá-lo.

A maioria dos bebês estão prontos para começar a introdução dos alimentos com 6 meses de idade. O bebê com 6 meses de idade consegue sentar sozinho e segurar objetos com a mão, já não tem o reflexo de protrusão da língua (o que evita engasgos), e o intestino está preparado para receber novos alimentos. Bebês prematuros ou que tenham alguma condição especial de saúde ou atraso motor, que afetem a sua habilidade de engolir ou mastigar os alimentos, não se recomenda esse método. Vale ressaltar que é importante que os pais discutam com o pediatra sobre a introdução alimentar do seu filho e os métodos a serem utilizados.

 

Princípios do método de introdução de alimentos guiada pelo bebê

#1 Amamentação como base para a auto-alimentação (self-feeding)

O seio materno exclusivo e em livre demanda é recomendado durante os primeiros seis meses de vida do bebê. A amamentação em livre demanda prepara o bebê para a auto-alimentação, após completar 6 meses. Bebês que mamam no peito possuem seu próprio ritmo de alimentação e o mecanismo de fome e saciedade é estimulado. Eles também controlam sua própria alimentação e ingestão de líquidos, uma vez que decidem sozinhos quanto tempo deve durar cada mamada. E como o leite materno muda de sabor de acordo com a alimentação da mãe, o leite materno prepara o bebê para experimentar sabores diferentes.

Bebês normais, saudáveis e amamentados ao peito são capazes de iniciar sua própria introdução aos alimentos sólidos, desde que com o apoio e ajuda dos pais. Apesar da introdução dos alimentos pelo método do baby-led weaning, ter como base o self-feeding de bebês amamentados no peito, bebês que foram desmamados precocemente, ou seja, fazem uso de fórmula pela mamadeira também se mostraram capazes de aprender o método! Ou seja, o fato de o seu bebê mamar na mamadeira não é uma limitação para o método! A única diferença é que nestes casos é importante oferecer outras bebidas além do leite, como água por exemplo.

 

#2 Entenda as motivações do bebê

Esta abordagem de introdução alimentar oferece ao bebê a oportunidade de descobrir o que os alimentos que não o leite materno ou leite de fórmula têm a oferecer, como parte do mundo que o cerca. Ela engloba na experiência da alimentação o desejo do bebê de experimentar, explorar e imitar, comum dessa fase! Permite ao bebê definir o tempo de cada refeição e dá ênfase à exploração, ao invés da alimentação em si, e torna a transição aos alimentos sólidos seja da forma mais natural possível. Isso porque a motivação dos bebês a fazerem essa transição é muito mais a curiosidade do que a fome em si!

As refeições não precisam coincidir exatamente com o horário em que as mamadas aconteciam anteriormente. O aleitamento materno pode ser mantido e os alimentos são introduzidos em conjunto. Isso permite que essa abordagem seja mais descontraída e agradável para todos.

 

#3 O bebê pode engasgar?

Muitos pais se preocupam com o risco do bebê engasgar dessa forma. Embora esse método pareça arriscado, há mais motivos para pensarmos que o bebê tem menos risco de engasgar quando estão no controle do que quando são alimentados com a colher. Vamos pensar por etapas de aquisição das habilidades do bebê. Os bebês desenvolvem primeiro a habilidade de mastigar antes da habilidade de empurrar o alimento intencionalmente até a garganta. E antes de aprenderem a mastigar, eles desenvolvem primeiro a habilidade de alcançar e agarrar coisas. Mais tarde ainda, desenvolve-se a habilidade de pegar coisas muito pequenas. Ou seja, bebês pequenos não podem se colocar em risco facilmente, já que eles ainda não conseguem pegar pedaços pequenos de comida. Ao alimentarmos o bebê com a colher, podemos encorajá-lo a sugar o alimento diretamente para o fundo da boca, aumentando o risco de engasgo.

Dessa forma, percebemos que o desenvolvimento geral de um bebê está muito ligado à sua habilidade pegar objetos (os alimentos nesse caso, por isso os pedaços em forma de haste, compridos, de forma que ajude o bebê a pegá-los), levá-los à boca, mastigá-los e engoli-los. Um bebê que resiste muito a colocar comida na boca, provavelmente ainda não está completamente pronto para comê-la. Por isso, é importante resistir à vontade de “ajudar” o bebê nessas circunstâncias, já que seu próprio desenvolvimento e habilidades assegurarão que a transição aos sólidos seja feita no momento certo para ele, diminuindo assim, o risco de engasgos

O bebê que inicia a alimentação deve estar sempre sentado ou apoiado na cadeirinha na posição vertical. Isso garante que algum alimento que ele não seja capaz ou não queira engolir seja expelido pra fora (isso vai acontecer…).

 

#4 É seguro?

Ao adotar o método baby-led-weaning, devemos manter as mesmas medidas de segurança adotados na hora da alimentação. Embora seja muito improvável que um bebê consiga pegar um amendoim, por exemplo, situações e acidentes podem acontecer em raras ocasiões, independente da forma como seja alimentado. Dessa forma, esse tipo de alimento deve ser deixado fora do alcance do bebê, assim como brinquedos com peças muito pequenas não podem ser dadas ao bebê, e existem brinquedos próprios para cada faixa etária. Lembre-se, as regras normais de segurança na hora de comer e brincar devem ser seguidas!

 

# 5 Garantindo uma alimentação saudável com o método BLW

Bebês que se alimentam sozinhos aceitam uma grande variedade de alimentos. Isso acontece, porque eles aproveitam muito mais do que apenas o sabor dos alimentos – eles experimentam as texturas, cores, tamanhos e formatos. Além disso, oferecer alimentos separadamente ou de um jeito que eles possam separá-los, permite que eles aprendam sobre os diferentes sabores e texturas. Ao permitir que eles deixem de comer qualquer coisa que eles pareçam não gostar irá prepará-los e encorajá-los a experimentar coisas novas. (Isso não significa que você não poderá oferecer o alimento rejeitado em outra ocasião, isso pode e deve acontecer!)

Os mesmos princípios de uma alimentação saudável para crianças são aplicados aos bebês que alimentados pelo método baby-led-weaning.  Isso significa que fast-foods, comidas com açúcar ou sal adicionados devem ser evitadas (pra não dizer banidas!). Respeitando-se isso, assim que o seu bebê tiver mais de seis meses de idade, não é necessário (exceto caso haja histórico familiar ou pessoal de alergias ou qualquer suspeita alteração intestinal ou doença) restringir o cardápio oferecido. Frutas e vegetais são os ideais, sendo que os mais duros podem ser levemente cozidos, para que fiquem macios o suficiente para serem mastigados. No começo, é melhor oferecer a carne em pedaços grandes, para que possa ser explorada e chupada (provavelmente no início é só isso que o bebê vai fazer…). Quando o bebê começar a lidar bem com porções de comida, e conseguir pegar objetos menores, a carne picada funcionará bem. (Bebês não precisam de dentes para morder e mastigar – as gengivas fazem o papel, pois pela proximidade dos dentes, já estão mais endurecidas e com capacidade de mastigar). A sua habilidade em pegar e mastigar esses alimentos, bem como a sua aceitação é o parâmetro para mostrar sua capacidade em comê-los!

Não há necessidade de cortar a comida do tamanho da boca do bebê. Um bom parâmetro é cortar tudo de tamanhos e formas semelhantes ao punho do bebê, com um detalhe importante: bebês pequenos não conseguem muito bem abrir a mão com o propósito de soltar as coisas. Portanto, eles lidam melhor com comidas cortadas em palitos ou que tenham uma haste ou “pegador” (como o caule de um pedaço de brócolis ou couve flor, por exemplo). Assim eles podem mastigar os pedaços que estão fora da sua mão e então soltar o resto depois – normalmente quando se interessarem por outro pedaço. Assim que suas habilidades forem aumentando, menos comida será desperdiçada.

 

#6 Como fazer com as bebidas?

A composição do leite materno varia de acordo com a duração da mamada. O leite do início da mamada, o anterior, é rico em água e o leite posterior, do final da mamada, tem mais gordura. Um bebê amamentado no peito reconhece essa mudança e usa isso para controlar quanto líquido quer beber. Se ele estiver com sede, irá mamar por pouco tempo, se estiver com fome, irá mamar por um período maior. Por isso que bebês amamentados em livre demanda e exclusivamente até os 6 meses não precisam de nenhuma outra bebida, mesmo nos dias quentes!

Este princípio funciona também durante o período de transição para a comida da família se o bebê continuar mamando em livre demanda. Um copo de água pode ser oferecido nas refeições, como parte da oportunidade de exploração, mas não há preocupações maiores se ele não quiser beber nada.

Se for possível continuar a amamentação em livre demanda isso tem a vantagem de permitir ao bebê decidir quando e quanto ele vai mamar, e naturalmente ocorrerá a diminuição das mamadas, conforme a criança aumenta o seu consumo e interesse por outros alimentos.

Para as mamães que começarem a trabalhar e a livre demanda não é possível, você pode retirar o leite e armazenar para oferecer ao bebê, veja no post sobre Amamentação e trabalho.

Bebês alimentados com fórmula infantil tem uma abordagem um pouco diferente, já que a fórmula tem sempre a mesma consistência e sabor, independente da relação de fome ou sede do bebê. Deve-se então oferecer água em intervalos regulares, assim que o bebê começar a comer.

Bom, esse post é para dar uma introdução ao assunto, espero terem gostado!

Vejam o vídeo com autorização da sua mamãe, de uma bebê amamentada exclusivamente ao seio materno até os 6 meses, que introduzimos a alimentação pelo método BLW. Dá uma vontade imensa de comer brócolis!!!

Espero que tenham aprendido bastante! Compartilhe para que outras pessoas também possam ter essa informação 😉

Um bjo

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039

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Referências bibliográficas: http://www.rapleyweaning.com/assets/blw_guidelines.pdf

Imagem e vídeo gentilmente cedida pela mamãe Marina, obrigada!

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