Introdução alimentar na criança: como começar uma alimentação saudável

Falar sobre introdução alimentar sem antes falar um pouco sobre alimentação saudável é impossível. Muitos pais me perguntam como fazer a introdução alimentar do seu filho, como devem começar, se podem dar água, se deve fazer o “método tradicional” com as papinhas de frutas e “salgadas”, cada uma introduzida a seu tempo, ou usar o método BLW (baby-led-weaning), que nada mais é que o método em que a criança mesmo prova os alimentos inteiros.

Sei que vocês estão ansiosos por esse tema, e por isso separei alguns posts para falar sobre isso!

As crianças até os dois anos de idade são chamadas de lactentes justamente por que o leite é o alimento mais importante para elas. Já escrevi aqui o quanto o leite materno é importante para a criança, seus inúmeros benefícios e sou super a favor da amamentação! Ao mesmo tempo, um leite que não o materno, seja fórmula ou leite de vaca puro (caixinha, Ninho®, etc), introduzido precocemente pode ter consequências prejudiciais para toda a vida! Durante a introdução alimentar e até um ano de vida o leite materno ainda é o alimento principal da criança, com sua participação e importância nutricional proporcionalmente diminuída ao longo dos meses.

O aleitamento materno deve ser exclusivo até os 6 meses de vida, e deve ser estimulado até os 2 anos de idade ou mais.

O leite materno é o alimento do bebê até os 6 meses de idade, sendo um alimento rico, vivo e dinâmico pois contém substâncias que conferem proteção ao bebê contra doenças e possível desenvolvimento de alergias. Ele estimula o sistema imunológico do bebê, o desenvolvimento do sistema digestivo e o desenvolvimento do cérebro.

Você já ouviu falar em programming?

O conceito de programming foi introduzido na literatura por Dörner, em 1974. Significa “a indução, deleção ou prejuízo do desenvolvimento de uma estrutura somática ou ajuste de um sistema fisiológico por um estímulo ou agressão que ocorre num período suscetível (por exemplo, fases precoces da vida), resultando em consequências em longo prazo para as funções fisiológicas.” Traduzindo, significa que fatores ambientais tem o poder de influenciar poderosamente na programação genética de um indivíduo, a ponto de influenciar diretamente no desenvolvimento de determinada doença no futuro.

Um exemplo claro disso são os maus hábitos alimentares na infância que levam ao desenvolvimento de obesidade no futuro.

O aleitamento materno é uma arma poderosa na redução do risco de obesidade e dislipidemia e diabetes no futuro, como mostrado em alguns estudos.

Isso me leva a pensar que, se tivéssemos essa consciência tão forte de que implementar uma alimentação saudável e bons hábitos aos nossos filhos desde cedo é tão importante, talvez fossemos muito mais rigorosos nesse assunto! Pense comigo por um momento: se você pudesse evitar que seu filho tivesse asma, obesidade, diabetes, e dislipidemia no futuro você o faria? E se essa escolha dependesse de você? Fazemos tantas coisas para estimular nossos filhos, colocar na melhor escola, fazer milhares de cursos e idiomas, queremos sempre dar-lhes o melhor, mas muitas vezes esquecemos daquelas que estão tão ao nosso alcance…

E o que é a epigenética?

A epigenetica nada mais é do que o ambiente, e isso inclui o meio em que vivemos, a alimentação e a nutrição, e a sua influência sobre a programação genética do nosso corpo e sua resposta a ele. Doenças como obesidade, diabetes, asma e alergias no geral tem muito a ver com a reação do nosso corpo ao meio em que vivemos. A mudança de hábitos e estilos de vida e a alimentação tornou essas doenças mais prevalentes na população!

Se você é o que você come, imagine uma criança, que está em plena fase de desenvolvimento. Por isso, se existem hábitos alimentares não tão saudáveis na casa, que tal começar por aí! Não pense que seu filho vai aprender a comer brócolis, alface, agrião, rúcula, chuchu, abobrinha, e outras coisas se não ensinarmos pelo exemplo!

O exemplo é sim, super importante pra criança, e muito do que ela tem vontade de comer e aprende a comer é o que ela vê os pais comendo! Não adianta ter a casa cheia de bolacha, doces, salgadinhos e guloseimas e achar que sua filha só vai comer vegetais porque você quer…Lembre-se: o primeiro passo tem que partir de você!

O Ministério da Saúde elaborou os 10 Passos para a Alimentação Saudável em 2002, com reimpressão do manual em 2013. Acho esse material fantástico, pois além de ser simples e acessível, contém verdades que apesar de parecerem básicas, são essenciais para começar uma vida saudável com o seu filho.  Abaixo vou citar cada um deles e nos próximos posts vou comentá-lo um a um.

Os 10 passos para alimentação saudável

Passo 1 – Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos.

Passo 2 – A partir dos 6 meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo-se o leite materno até os 2 anos de idade ou mais.

Passo 3 – Após os 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia se a criança receber leite materno e cinco vezes ao dia se estiver desmamada.

Passo 4 – A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança.

Passo 5 – A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família.

Passo 6 – Oferecer à criança diferentes alimentos todos os dias. Uma alimentação variada é, também, uma alimentação colorida.

Passo 7 – Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições.

Passo 8 – Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação.

Passo 9 – Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir armazenamento e conservação adequados.

Passo 10 – Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo a alimentação habitual e seus alimentos preferidos e respeitando sua aceitação.

Esse post foi mais uma introdução a esse assunto tão interessante, e nos próximos posts vou falar sobre os Dez passos da alimentação saudável, explicando cada um deles, falaremos sobre os métodos de introdução alimentar e suas vantagens e desvantagens! Além de muitas outras dicas e curiosidades…

Espero tê-los convencido de implementar bons hábitos aos seus filhos!

Até a próxima!

Espero que tenham aprendido bastante! Compartilhe para que outras pessoas também possam ter essa informação 😉

Um bjo

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039

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Veja outros posts sobre esses assunto:

Referências bibliográficas:

  • http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dez_passos_alimentacao_saudavel_guia.pdf
  • Manual de orientação para a alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola/Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 3ª. ed. Rio de Janeiro, RJ: SBP, 2012.
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