Cólica do bebê: parte 2

Afinal, o que é a cólica? Por que ela ocorre? Como posso saber se é cólica? Hoje vamos conversar um pouco mais sobre a cólica do bebê.

Sabemos o quanto os pais sofrem com isso, e é algo que nos angustia muito, como pais e pediatras. No último post, dei uma pequena introdução ao assunto, pois é importante entender o contexto que o bebê nasce, e quão importante é o choro para a comunicação.  Expliquei que os bebês não preparados para o mundo, mas temos que nascer, pois o nosso cérebro cresce rapidamente.

Quando nasce, o bebê é completamente indefeso e dependente: não sabe se alimentar sozinho, e sua audição e visão são pouquíssimas desenvolvidas. Não sabe sentar, nem andar e muito menos falar, precisa de ajuda para tudo! Entretanto, assim que os bebês nascem, eles se expressam de uma forma: o choro. Esta é a sua única forma de comunicação com o mundo (ainda bem que ela existe né?).

Uma vez entendendo o contexto de nascimento do bebê, as dificuldades que ele passa, podemos entender melhor porque existem as cólicas.

Afinal o que é a cólica?

A cólica nada mais é do que uma condição de estresse significativo do bebê sob a forma de choro!  Podemos dizer que ela ocorre quando um bebê saudável apesar de bem alimentado apresenta um choro inconsolável, que ocorre geralmente no final da tarde. Consideramos que seja cólica quando o bebê chora por mais de três horas seguidas, com uma frequência de mais de três vezes por semana e duração desses episódios por três semanas ou mais. O choro costuma ser mais irritado e nada parece dar conforto ou consolo, mesmo após ter feito várias coisas… (sim, muitas vezes é frustrante…)

A cólica geralmente começa em torno das 2 semanas de vida de um bebê nascido a termo. Em bebês prematuros a cólica começa mais tarde, geralmente duas semanas após a data provável do parto (corrigida para 40 semanas). A boa noticia é que ela acaba! Lá pelos 3 a 4 meses o bebê passa a ter cada vez menos cólica, até não ter mais! Se você, papai e mamãe estão passando por isso, respirem fundo e pensem que daqui a algumas semanas isso vai acabar!

Por que ela ocorre?

Vocês lembram-se da conversa que tivemos no último post? Pois é, na verdade não existe um único fator que é responsável pela cólica, mas uma somatória deles… Como escrevi anteriormente, o bebê não nasce preparado para o mundo, muitas de suas funções ainda não são bem desenvolvidas, como o próprio sistema digestivo, ainda imaturo, ao receber alimento pela primeira vez. O sistema nervoso do bebê também é extremamente sensível ao mínimo estímulo e estudos comprovaram que bebês que apresentam mais cólicas geralmente refletem um ambiente de tensão familiar. Pense no contexto: de repente somos colocados num mundo completamente diferente e hostil, sem saber como nos comunicar e completamente indefesos. O bebê troca um lugar quentinho, aconchegante que é o útero da mamãe por um completamente diferente!

Além disso, o bebê se alimenta pela primeira vez ao nascimento, não é? Antes recebíamos tudo pela placenta! O intestino, ao receber alimento apresenta contrações chamadas peristaltismo. Essas contrações do bebê ainda estão desorganizadas, o que pode provocar dor, além da sensibilidade a elas estar aumentada. Isso nada mais é do que um processo de adaptação do nosso corpo.

Lembre-se que a presença de gases devido a digestão do alimento, no caso o leite, também podem provocar dor!

Outras condições que podem piorar a cólica do bebê são alergia a proteína do leite de vaca (APLV) e doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). Essas duas condições são consideradas doenças e o pediatra deve estar atento a elas! Geralmente elas causam outros sintomas que as distingue das cólicas isoladas, e estão associados a baixo ganho de peso, mas elas pioram e muitos as cólicas do bebê! Uma vez tratadas, as cólicas tendem a melhorar significativamente.

Atenção: as cólicas são uma condição benigna do bebê. Caso haja alguma anormalidade, o pediatra deverá ser consultado.

Alguns sinais de alarme para ficar de olho!

  • O bebê apresenta febre. Mas cuidado! Estamos em época de calor e isso é diferente de hipertermia. Se tiver com uma temperatura de 38 C, dê um banho fresquinho nele e meça a temperatura novamente, sem roupinha. Veja no post sobre “Como aliviar o calor dos pequenos” mais dicas sobre esse assunto.

  • O bebê apresenta-se “caidinho”, gemente e aparenta estar doente.

  • O bebê apresenta mudanças de comportamento, principalmente em relação a sua alimentação e sono.

Para ajudar o seu pediatra (eles agradecem), tente anotar num diário quando o seu bebê chora e por quanto tempo. Marque também os horários de sono e amamentação.

 Para simplificar um pouco, as possíveis causas de cólica do bebê são:

  •  Imaturidade do sistema digestório, que apresenta contrações aumentadas, ou com uma sensibilidade aumentada às contrações (peristaltismo).

  • Gases

  • Hipersensibilidade ou hiperestimulação devido a luz, barulhos, tensão familiar

  • Imaturidade do sistema nervoso

  • Problemas gastrointestinais, como a APLV e a lactose em algumas formulas, se o bebê tem intolerância

  • Refluxo gastroesofágico

Esses dois últimos que coloquei aqui são doenças que podem piorar a cólica, e devem ser investigadas quando algo foge do normal!

 Como saber se é cólica? Quais são os sintomas?

O bebê apresenta algumas características que nos ajudam a descobrir se é cólica ou não, vamos ver quais são…

  • O bebê apresenta episódios de choro previsíveis. O bebê que tem cólica geralmente chora por volta do mesmo horário durante o dia, geralmente no final da tarde ou à noite. Os episódios podem duram desde alguns minutos até três horas ou mais (aguenta coração!)…Sim, isso pode ser completamente normal e sim, é somente um episódio de cólica, considerando bebes saudáveis e ganhando peso adequadamente.

  • Choro intenso e inconsolável. O choro do bebê com cólica é intenso e estridente e é muito difícil confortá-lo nesse momento. O rostinho do bebe pode ficar bem vermelho, com uma expressão de dor e sofrimento.

  • Choro que ocorre sem uma razão aparente. É normal o bebê chorar as vezes. Porém se o bebê está alimentado, com a fralda limpa, você eliminou a possibilidade de frio ou calor e mesmo assim o bebê continua chorando, muito provável que seja a tal da cólica….

  • Mudanças posturais. O bebê geralmente se contorce e flexiona as perninhas em direção a barriga, a barriga fica endurecida e as mãozinhas ficam com os punhos fechados

  • O bebê pode apresenta gases ao final do episódio, com exaustão (aquela carinha de alívio), seguida pelo sono profundo (os pais também agradecem aliviados, e dão aquele suspiro profundo…).

Vamos então às lições de hoje?

 Lições do dia:

  1. A cólica do bebê ocorre por uma soma de fatores: como uma resposta aos estímulos externos, seja estresse materno, tensão familiar ou excesso de estímulo (visitas por exemplo), devido à imaturidade intestinal, tanto pelo peristaltismo aumentado como pela maior sensibilidade a essas contrações, e a presença de gases formados a partir da digestão do leite.

  2. As cólicas são caracterizadas por: episódios de choro previsíveis, choro intenso e inconsolável, choro que ocorre sem uma razão aparente e mudanças posturais.

  3. Fiquem atentos para os sinais de alarme (quando pode não ser somente cólica!): presença de febre, se o bebê está “caidinho”, gemente e aparenta estar doente e abatido, se o bebê apresenta mudanças de comportamento.  Se houver dúvida, procure o pediatra!

 Ufa! Uma vez entendendo como “funcionam os bebês”, sabendo o que desencadeia a cólica e porque ela ocorre e quando devo suspeitar que algo não vai bem, parece que já ficamos mais tranquilas não é mesmo? Na verdade, o que mais nos angustia é não entender o que está acontecendo e nossa impotência diante da situação…espero que você esteja agora mais aliviada.

No próximo post falaremos do tão esperado tratamento! Espero vocês lá ok?

Espero que tenham aprendido bastante! Compartilhe para que outras pessoas também possam ter essa informação 😉

Um bjo

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039

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Você pode gostar também de:

Referências bibliográficas

  • Association of Reported Infant Crying and Maternal Parenting Stress. Susan A. Beebe. CLIN PEDIATR January 1993 vol. 32 no. 1 15-19
  • Paroxysmal fussing in infancy, sometimes called “colic”. Morris A. Wessel et al. PEDIATRICS Vol. 14 No. 5 November 1, 1954 pp. 421 -435

photo credit:

http://babycalm.files.wordpress.com/2012/09/crying-newborn.jpg

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