Alergia a proteína do leite de vaca x intolerância a lactose: entenda as diferenças

Olá queridos papais e mamães

Muitos pais me pediram para trazer esse assunto no blog, pois existe muita confusão e dúvida a respeito dele…por isso resolvi escrever sobre Alergia a Proteína do Leite de Vaca e Intolerância a Lactose.  Existe muita confusão nessas duas doenças, pois o seu fator desencadeante é o mesmo, o leite. Entretanto, são duas doenças diferentes, com diferentes abordagens e tratamento!

Como o assunto é de grande importância e extenso, escreverei em partes…não perca os próximos posts!

Por favor, se tiverem dúvidas e comentários, ou queiram compartilhar uma história e experiência, comente no espaço abaixo.

Sugestões são sempre bem vindas!

Entenda a diferença

Apesar das duas doencas serem causadas pela ingestão de leite, a intolerância à lactose e a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) são diferentes!

A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é definida como uma reação alérgica às proteínas presentes no leite de vaca ou em seus derivados.  Isso ocorre, porque assim que os bebês nascem, seu intestino ainda está imaturo e a ingestão dessas proteínas pode iniciar um processo de inflamação no aparelho digestivo. A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) atinge cerca de 5% dos bebês e crianças menores de 3 anos, já os adultos, raramente têm a doença.

Importante guardar: O conceito de alergia alimentar sempre vai estar relacionado com um mecanismo imunológico  e a sua reação têm relação direta com o componente protéico do alimento.

A intolerância à lactose  caracteriza-se pela ausência ou deficiência de uma enzima chamada lactase, que é responsável pela quebra do açúcar presente no leite e seus derivados, a lactose. Uma vez que o açúcar não é digerido, ao chegar no intestino grosso, ocorre a sua fermentação pelas bactérias, que provoca, gases, distensão abdominal e dor. A intolerância a lactose é mais comum na vida adulta, mas pode ocorrer em bebês e crianças também.

 Importante guardar: a intolerância a lactose não é um processo alérgico, ou seja, não tem envolvimento do sistema imunológico. Tem relação com a não digestão de um açúcar do leite pela falta da enzima lactase.

Intolerância à lactose

Existe basicamente 3 tipos: Deficiência congênita da enzima, diminuição da lactase devido a doenças intestinais, como um episódio infeccioso de diarréia, e deficiência primária. 

Deficiência congênita da enzima: a criança já nasce sem a capacidade de produzir a enzima lactase. É mais raro, de caráter genético e permanente, ou seja, a criança não voltará a produzir a enzima.

Diminuição da lactase devido a doenças intestinais: Muito comum no primeiro ano de vida, a criança apresenta uma deficiência temporária da enzima, devido a doença infecciosa que provoca a desepitelização da mucosa intestinal, (como um “ralado”). As enzimas produtoras da lactase ficam nessas células que foram perdidas. Isso ocorre em crianças que tem diarreia persistente (mais de 3 semanas). Nesses casos, deve-se retirar o leite da dieta por um período. Essa deficiência temporária geralmente é responsável por aquela assadura que não sara numa diarréia mais prolongada…

Deficiência primária: É a mais comum da população. Ocorre com o passar do tempo. Naturalmente, após adulto, há uma diminuição da produção da lactase e assim o desenvolvimento da intolerância à lactose.

Sintomas

Os principais sintomas são diarréia, distensão abdominal (barriga estufada), cólicas, náuseas e vômitos. acompanhada de dor de barriga e gases, geralmente após meia hora a 2 horas da ingestão do leite ou derivados.

Diagnóstico

A suspeita diagnóstica deve ser feita pelo médico, que pode solicitar exames para confirmação. Os exames mais comuns são:

  • Teste de intolerância à lactose: o paciente recebe uma dose de lactose em jejum e, após algumas horas, colhe-se amostras de sangue que indicam os níveis de glicose. Se não houver alteração, significa que o organismo não metabolizou aquele açúcar e, portanto, a pessoa é intolerante.
  • Teste de hidrogênio na respiração: o paciente ingere uma bebida com alta quantidade de lactose e após 15 a 30 minutos avalia-se a quantidade de hidrogênio exalado através da expiração. Se houver aumento do nível de hidrogênio, significa que a lactose não está sendo digerida adequadamente. Esse método tem um alto custo e é pouco utilizado.
  • Teste de acidez nas fezes: faz-se a análise das fezes após o paciente ter ingerido leite ou derivados. A presença de ácidos detectados nas fezes mostra a digestão incorreta da lactose. Não é muito específico, mas pode ser utilizado para aumentar a suspeita diagnóstica.

 Tratamento

O tratamento é feito com a substituição do leite e derivados por versões sem ou com baixo teor de lactose, conforme recomendação do médico e/ou nutricionista. Hoje em dia existem várias opções no mercado.

Alergia à proteína do leite de vaca (APLV)

A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é a alergia alimentar mais comum na infância. Uma em cada 20 bebês tem alergia a proteína do leite de vaca, e a maioria se manifesta ainda no primeiro ano de vida. Cerca de metade das crianças apresenta resolução da doença até o primeiro ano de vida, e 80-90% até os cinco anos, para alívio dos pais…

Crianças que mamam no peito podem manifestar alergia ao leite de vaca, através da ingesta da mãe de leite e derivados, que pode ser resolvido com a exclusão da dieta desses alimentos.

Sintomas

Veja no quadro abaixo os sintomas mais comuns da APLV:

APLV, pediatria descomplicada, dra kelly oliveira

Diagnóstico

O diagnóstico é feito através da história clínica, muitas vezes bem exuberante. Se houver necessidade o médico pode solicitar o teste cutâneo ou o exame de sangue.

Se o quadro clínico não for tão evidente, pode ser feito o teste de provocação oral. Em crianças com anafilaxia ao leite de vaca, não deve ser feito o teste de provocação oral, até mesmo pelo risco.  Esse teste só deve ser realizado em hospitais com estrutura para emergências ou próximo a uma unidade semi-intensiva.

Tratamento

O tratamento se baseia na exclusão completa de leite e derivados da alimentação da criança.

Lembrar que a amamentação pode e deve ser continuada, a única recomendação é que a mãe exclua todo leite e derivados da sua dieta.

No caso de bebês que não mamam mais no peito ou foram desmamados, é necessário uma dieta especial, com fórmulas que não contenham leite de vaca. Existem as fórmulas extensamente hidrolisadas, que a maioria das crianças com APLV presentam uma boa resposta, e para aquelas que não respondem a de amoniácidos livres. O leite de soja pode ser uma opção, porém geralmente não possui quantidade suficiente de outros nutrientes necessários, além de poder causar o que chamamos de reação alérgica cruzada em um terço dos lactentes que são alérgicos.

Lembrar sempre que a opções devem ser discutidas com o médico pediatra que acompanha a criança e só devem ser seguidas as recomendações dadas pelo médico. Cada criança pode reagir de maneira diferente e você não deve arriscar dar para o seu filho algo fora da recomendação.

É importante lembrar que o leite de outros mamíferos, como leite de cabra, ovelha ou búfala também podem causar reação alérgica e não são recomendados.

A suplementação de cálcio, vitamina D, riboflavina e proteínas deve ser realizada, sendo necessário o acompanhamento do nutricionista juntamente com o pediatra para sua correta suplementação

Fique de olho! Alguns nomes que vocês devem ficar atentos (são derivados do leite):

Lactoglobulina
Lactulose
Caseína
Lactoferrina
Caseinato
Proteína do leite
Lactoalbumina
Milk
Lactose
Proteína do soro
(Whey Protein)
Galactose
Proteína láctea do soro do leite microparticulada (substituto de gordura)

Fique de olho também nos rótulos que dizem que podem conter traços de leite ou processado em equipamentos que contém leite. Na dúvida sempre ligue no SAC do fabricante.

O SUS libera a fórmula especial (que não é nada barata…) para crianças até os 2 anos de idade com APLV comprovada pelo médico, mediante apresentação da documentação que a Secretaria de cada Estado exige. Você deve se informar junto a Secretaria da Saúde do seu Estado.

Segue link para o Protocolo Clínico da Dispensação de Fórmulas Infantis para pacientes com Alergia à proteína do leite de vaca do Estado de São Paulo:

http://www.saude.sp.gov.br/ses/acoes/assistencia-farmaceutica/protocolo-clinico-da-dispensacao-de-formulas-infantis-para-pacientes-com-alergia-a-proteina-do-leite-de-vaca

Segue a lista de Documentos para Solicitação da Fórmula Infantil Especial (referente ao Estado de São Paulo) 

  • Ficha de avaliação para fornecimento de Fórmulas Infantis Especiais preenchida pelo médico
  • Relatório Médico justificando necessidade de Fórmulas Infantis Especiais
  • Xerox dos exames do paciente (se houver)
  • Receita médica em duas vias, carimbada e assinada
  • Xerox da certidão de nascimento do paciente
  • Xerox do comprovante de residência
  • Xerox do CPF e do RG dos pais
  • Xerox do Cartão Nacional de Saúde (Cartão SUS – Sistema Único de Saúde) do paciente.

Espero que tenham aprendido bastante! Compartilhe para que outras pessoas também possam ter essa informação 😉

Um bjo

Dra. Kelly Marques Oliveira

Pediatra, Alergia e Imunologia e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039

E aí gostou do conteúdo? Espero que tenha ajudado a esclarecer dúvidas! Compartilhe! E você sabia que dá para receber o conteúdo do blog direto no seu email? É só se cadastrar! Só fazer o cadastro na nossa newsletter e colocar seu email! Não se preocupe pois somos contra spam, e você receberá somente os conteúdos relevantes. Estamos também no Facebook (curta e coloque para “ver primeiro” nas opções) e instagram @pediatriadescomplicada (ative as notificações para visualização).

Consultório Espaço Médico Descomplicado – São Paulo: (11) 5579-9090/ whatsapp (11) 93014-0007

Leia também outras matérias:
Referências bibliográficas
Pediatricians and nutritionists knowledge about treatment of cow milk allergy in infants. Ana Paula B. Cortez et al. Rev Paul Pediatria 2007;25(2):106-13.
Cow’s milk protein allergy in children: repercussion of the exclusion diet and replacement diet on the nutritional status. Patrícia Brazil Pereira. Pediatria (São Paulo) 2008;30(2):100-106
image credits: http://www.breastfeeding-problems.com/images/cow.jpg
Compartilhe
Facebook
Twitter
Telegram
LinkedIn